Juan Zapata estreia em ficção com o longa-metragem Simone, contando a história real da
atriz e amiga Simone Telecchi interpretando a protagonista que empresta o nome
ao título. O cineasta é um documentarista nato, que optou por uma incursão no
terreno da ficção ao realizar este drama de 76 minutos com um pequeno orçamento
de R$520 mil, arrecadado através de prêmios em festivais e contribuições
diversas. Foi rodado em Porto Alegre, razão pela qual a preferência pela
estreia se dar na Capital gaúcha, diante de uma forte identificação com lugares tradicionais, como o Parque da Redenção e a famosa Rua dos Andradas, local em que
o escritor Luís Fernando Verissimo e o seu grupo de jazz fazem uma pequena
ponta no longa, animados tocam e arrecadam dinheiro.
O diretor, roteirista e produtor colombiano está radicado no
Brasil desde 2004, morando em Porto Alegre realizou os médias-metragens Quinta Bienal do Mercosul (2005) e Em Branco (2007). Inovou ao lançar
simultaneamente em cinemas, TV, internet e DVD os documentários A Dança da Vida (2007) e Ato de Vida (2009) em países como Colômbia,
Brasil e Equador, também realizou Histórias
de Fronteira (2010). Dirigiu e escreveu ainda outros quatro
curtas-metragens e o documentário média-metragem Fidelidad (2004), em Cuba.
A trama mostra um cotidiano do dia a dia da protagonista e
sua companheira Cris (a uruguaia Natália Mikeliunas) num romance que começa a
ruir aos poucos, dando mostras de desgaste pelo tédio, onde até os novos
vizinhos atrapalham com seus gemidos na cama a relação afetiva do casal. Os
ciúmes são constantes e a deterioração parece iminente no relacionamento, até
que surge Pedro (Roberto Birindelli-uruguaio radicado no Brasil), um colega
novo na repartição pública, após passar num concurso e com a desaprovação da
namorada, pois ambas se conheceram num curso de artes dramáticas e tinham como
projeto a carreira de atriz.
Zapata assina o roteiro com Maressa Sampaio e Edson
Gandolfi, com a liberdade de realizar uma adaptação livre das experiências
verídicas de uma mulher assumidamente homossexual, que sempre se relacionou com
pessoas do mesmo sexo, mas que aos 30 anos tem um envolvimento heterossexual, criando um típico triângulo amoroso contado em dois tempos distintos:
passado e presente são intercalados até o epílogo, quando há a unificação como
um fecho dos flashbacks temporais. Cris e Pedro estão no meio da indecisão e do
vacilo sexual momentâneo de Simone, por isso e sofrem e demonstram dificuldades
no rompimento e o caminho a seguir que se impõe. A paixão entre as namoradas já
não é mais consistentes como forma de amar e dá sinais de uma turbulência na
sexualidade da protagonista em rota de colisão com os prazeres e desejos
oriundos dos instintos em que brota um contraste da natureza que está numa
encruzilhada evidente.
Simone é um filme sem
um grande enfoque na abordagem dos personagens inseridos num relacionamento
entre pessoas de gostos diferentes em suas opções sexuais, pois é bem mais
comportado e segue uma linha linear sem ter a contundência impactante de um Azul é a Cor Mais Quente (2013), de Abdellatif
Kechiche; também está distante dos ousados e perturbadores filmes de Xavier
Dolan: Eu Matei Minha Mãe (2009) e Lawrence Anyways (2012); bem como não
tem a suavidade dolorida de Flores Raras
(2012), de Bruno Barreto; ou ainda o irreverente e instigante Tatuagem (2012), de Hilton Lacerda.
Um drama típico homossexual menor diante de evidentes
precariedades, embora o roteiro tente convergir para uma percepção de relação
de coisas em comum como a desmotivação diante da sensação de vazio e
isolamento, mostra-se insuficiente para uma proposta de uma obra reflexiva por
faltar uma melhor elaboração no contexto. A trilha sonora destoa e sobrepõe as
imagens e diálogos, numa invasão comprometedora. Zapata é um desbravador em
suas ideias de cinema documental, em que é louvável, mas não empolga e nem
provoca o espectador na ficção, diante dos defeitos estruturais numa imaginação
apenas rasa na proposição do debate sobre a sexualidade, afasta-se da profundidade
e deixa fluir os estereótipos numa trama pouco comprometida com uma análise mais
crítica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário