quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Simone


















Os Amores

Juan Zapata estreia em ficção com o longa-metragem Simone, contando a história real da atriz e amiga Simone Telecchi interpretando a protagonista que empresta o nome ao título. O cineasta é um documentarista nato, que optou por uma incursão no terreno da ficção ao realizar este drama de 76 minutos com um pequeno orçamento de R$520 mil, arrecadado através de prêmios em festivais e contribuições diversas. Foi rodado em Porto Alegre, razão pela qual a preferência pela estreia se dar na Capital gaúcha, diante de uma forte identificação com lugares tradicionais, como o Parque da Redenção e a famosa Rua dos Andradas, local em que o escritor Luís Fernando Verissimo e o seu grupo de jazz fazem uma pequena ponta no longa, animados tocam e arrecadam dinheiro.

O diretor, roteirista e produtor colombiano está radicado no Brasil desde 2004, morando em Porto Alegre realizou os médias-metragens Quinta Bienal do Mercosul (2005) e Em Branco (2007). Inovou ao lançar simultaneamente em cinemas, TV, internet e DVD os documentários A Dança da Vida (2007) e Ato de Vida (2009) em países como Colômbia, Brasil e Equador, também realizou Histórias de Fronteira (2010). Dirigiu e escreveu ainda outros quatro curtas-metragens e o documentário média-metragem Fidelidad (2004), em Cuba.

A trama mostra um cotidiano do dia a dia da protagonista e sua companheira Cris (a uruguaia Natália Mikeliunas) num romance que começa a ruir aos poucos, dando mostras de desgaste pelo tédio, onde até os novos vizinhos atrapalham com seus gemidos na cama a relação afetiva do casal. Os ciúmes são constantes e a deterioração parece iminente no relacionamento, até que surge Pedro (Roberto Birindelli-uruguaio radicado no Brasil), um colega novo na repartição pública, após passar num concurso e com a desaprovação da namorada, pois ambas se conheceram num curso de artes dramáticas e tinham como projeto a carreira de atriz.

Zapata assina o roteiro com Maressa Sampaio e Edson Gandolfi, com a liberdade de realizar uma adaptação livre das experiências verídicas de uma mulher assumidamente homossexual, que sempre se relacionou com pessoas do mesmo sexo, mas que aos 30 anos tem um envolvimento heterossexual, criando um típico triângulo amoroso contado em dois tempos distintos: passado e presente são intercalados até o epílogo, quando há a unificação como um fecho dos flashbacks temporais. Cris e Pedro estão no meio da indecisão e do vacilo sexual momentâneo de Simone, por isso e sofrem e demonstram dificuldades no rompimento e o caminho a seguir que se impõe. A paixão entre as namoradas já não é mais consistentes como forma de amar e dá sinais de uma turbulência na sexualidade da protagonista em rota de colisão com os prazeres e desejos oriundos dos instintos em que brota um contraste da natureza que está numa encruzilhada evidente.

Simone é um filme sem um grande enfoque na abordagem dos personagens inseridos num relacionamento entre pessoas de gostos diferentes em suas opções sexuais, pois é bem mais comportado e segue uma linha linear sem ter a contundência impactante de um Azul é a Cor Mais Quente (2013), de Abdellatif Kechiche; também está distante dos ousados e perturbadores filmes de Xavier Dolan: Eu Matei Minha Mãe (2009) e Lawrence Anyways (2012); bem como não tem a suavidade dolorida de Flores Raras (2012), de Bruno Barreto; ou ainda o irreverente e instigante Tatuagem (2012), de Hilton Lacerda.

Um drama típico homossexual menor diante de evidentes precariedades, embora o roteiro tente convergir para uma percepção de relação de coisas em comum como a desmotivação diante da sensação de vazio e isolamento, mostra-se insuficiente para uma proposta de uma obra reflexiva por faltar uma melhor elaboração no contexto. A trilha sonora destoa e sobrepõe as imagens e diálogos, numa invasão comprometedora. Zapata é um desbravador em suas ideias de cinema documental, em que é louvável, mas não empolga e nem provoca o espectador na ficção, diante dos defeitos estruturais numa imaginação apenas rasa na proposição do debate sobre a sexualidade, afasta-se da profundidade e deixa fluir os estereótipos numa trama pouco comprometida com uma análise mais crítica.

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