terça-feira, 2 de novembro de 2010

Mostra de Cinema São Paulo (Os Amores Imaginários)



Os Amores Imaginários

Xavier Dolan é um diretor canadense de apenas 21 nos, que conquistou seu público com o filme de estreia Eu Matei a Minha Mãe (2009), onde um rapaz de 17 anos não ama sua mãe, tem gosto kitsch, usa roupas bregas e pequenos detalhes como a forma que ela come, ele a contempla com desprezo. Os mecanismos de manipulação e a culpabilização empregados por ela também não lhe passam desapercebidos, tem um ódio fora do seu controle. Confuso, vaga por uma adolescência marginal e típica, repleta de descobertas artísticas, experiências ilícitas, amizades e se assume como homossexual.

Mas neste segundo longa Os Amores Imaginários, seus propósitos desvirtuaram completamente de sua promissora e festejada estreia. Agora busca fazer um filme mais leve e engajado na causa gay. Ou seja, uma pequena apologia para tentar manter um relacionamento num típico ménage à trois, colocando no centro da proposta de um "homo", um "bi" e um "hétero", o que vai levando ató o final da trama com o gay Francis (o próprio Xavier Dolan) e a hétero Marie (a bela e boa atriz Monia Chokri), numa amizade quase que inseparável, acabam conhecendo num almoço o esfuziante Nicholas (Niels Schneider), gerando um inevitável triângulo amoroso.

Do relacionamento resultam fantasias obsessivas decorrentes dos encontros problemáticos e repletos de picuinhas e mal-entendidos, afundando-se em procuras e devaneios sexuais, que obrigam por vezes se afastarem e deixarem de lado as amizades. O objeto do desejo do trio custa a se definir e nem eles sabem na verdade definir o que um quer do outro. A força do desejo é mais forte do que manter os laços de união da amizade e em determinado momento se rompem com o desenrolar desta frágil comédia dramática engajada nos movimentos GLS, LGBT e tantos outros que se proliferam e se difundem como em sexo alternativo e livres da amarras sociais.

A competição por Nicholas é o centro e o estopim da disputa, até que o rapaz toma uma posição e defina que também é apenas um garoto heterossexual, porém na cena final, com o aparecimento do personagem encarnado por Louis Garrel, numa piscadinha clássica de olho direito, demonstra a continuidade num próximo filme na busca pelo sexo a três não parou neste fraco longa de Dolan. O filme não tem profundidade alguma e nem se propõe a debater os problemas do homossexualismo, mas visa unicamente o entretenimento e a diversão pelo cineasta prodígio, assumidamente defensor da causa gay, mas que nesta película se afasta da reflexão e deixa os estereótipos se emaranharem e invadir a trama, sem nenhum controle de direção, tentando dar leveza com umas piadinhas bobas e sem nenhuma graça.

Entretanto, demonstra ser um estudioso do cinema ao fazer várias citações, como do filme Bonequinha de Luxo (1961), de Blake Edwards, com Audrey Hepburn no papel que leva o título, traz à baila o jogo sensual num filme pretensamente moderninho, com referências musicais, cinematográficas e literárias, inseridas no filme como elementos destinados a compor o mundo que o diretor pretende retratar. Apesar de tudo o filme não satisfaz e deixa a desejar para uma obra mais reflexiva, e talvez, devesse ser mais comprometida com uma análise e crítica mais aprofundada. Fica para o próximo longa, quem sabe, mais maduro e com objetivos definidos razoavelmente.

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