terça-feira, 2 de novembro de 2010
Mostra de Cinema São Paulo (Dormir ao Sol)
Dormir ao Sol
A Argentina já produziu filmes bem melhores do que este abaixo do razoável Dormir ao Sol , sob a direção pífia de Alejandro Chomski que se perdeu completamente numa trama que tinha tudo para dar certo, porém diante da salada de fruta que o cineasta fez, acabou por liquidar com seus propósitos e pretensões maiores que pudesse almejar. Antes dirigira Hoje e Amanhã (2003) que passou discretamente pela 27ª. Mostra.
Seu drama está centrado na vida do relojoeiro Lucio Bordenava (Luis Machin) nos anos 50, no Parque Chas, um tranquilo bairro de Buenos Aires, onde as ruas não têm esquinas e são em forma de círculos como labirintos. Sua mulher Diana (Esther Goris) é internada subitamente numa clínica psiquiátrica meio esquisita, pois se dedica a curar pessoas ditas especiais. Foi inspirado no livro do portenho Adolfo Bioy Casares.
A cunhada de Bordenave se aproveita que a irmã está hospitalizada, passando a seduzi-lo constantemente e até a provocá-lo quanto sua masculinidade e a causa que teria levado Diana até aquele instituto de saúde; as entrevistas com o Dr. Samaniego (Carlos Belloso) são preocupantes e as visitas à sua esposa são proibidas sem maiores explicações. O inverossímil começa a se clarear aos poucos, quando um cachorro chamado "Diana" surge repentinamente na trama, causando sérias desconfianças de tráfico de alma de humanos para caninos com experiências naquela casa dita de cura e preocupada com a saúde, funcionando como um laboratório futurístico de transposição de almas e pensamentos para os ingênuos cachorrinhos e as inadvertidas pessoas que a procuram.
O cinema já deu grandes filmes sobre o tema tratamento psiquiátrico forçado, como a obra-prima O Estranho no Ninho (1975) de Milos Forman, com a atuação impagável de Jack Nicholson, numa aula sobre como fugir do trabalho na prisão fingindo ser louco, sendo enviado a um sanatório, onde deve lidar com uma realidade triste e dura, além de ter que encarar a enfermeira que dificulta as coisas para ele. Também em O Expresso da Meia-Noite (1978), de Alan Parker, quando um jovem estudante americano, ao visitar a Turquia, é detido, com sua vida se transformando em um pesadelo a partir de então, é brutalmente espancado e jogado em uma imunda prisão e depois vai para um manicômio. Mas o brasileiro O Bicho de Sete Cabeças (2001), de Laís Bodansky, talvez seja o melhor referencial para hospitais de pessoas jogadas em seu interior como se fossem loucas, embora tivessem apenas algumas pequenas perturbações psicológicas.
Dormir ao Sol não é uma coisa nem outra. Nem se aprofunda na análise dos hospícios e seus métodos ultrapassados, nem faz uma reflexão sobre as pessoas que deveriam ou não realizar algum tipo de tratamento. É um filme oportunista e medíocre, pelos seus propósitos e resultados insatisfatórios, com um roteiro frágil, embora tivesse um elenco razoável, bem que poderia ter obtido algo bem melhor. Chomski não é um cineasta de ponta no vizinho país, mas já dirigiu nove curtas e médias e este é o seu quarto longa, portanto, se nada mostrou até agora, seu futuro não é nada promissor, pois esta sua última película ficou distante do que se espera para um bom filme, diante de suas pretensões sem maiores voos ou uma obra marcante. É para se esquecer este trabalho, totalmente descartável.
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