quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
Partir
Paixão sem Limites
A diretora francesa Catherine Corsini, em seu sétimo longa-metragem Partir (2009), reverencia com estilo próprio o grande mestre François Traffaut, que tinha nas grandes paixões arrebatadoras, por vezes trágicas, sua marca registrada. As semelhanças entre Partir e A Mulher do Lado são por demais iguais.
No longa A Mulher do Lado, Truffaut tinha no elenco nada mais do que a exuberante e magnífica Fanny Ardant sendo disputada pelo marido Henri Garcin e o ex-amante Gérard Depardieu. A narrativa girava em torno de um triângulo amoroso, onde o locador tivera um romance há 8 anos com a mulher de seu mais novo inquilino. Apesar das falsas aparências e dissimulações, logo o relacionamento do passado vem à tona, explodindo com a perda do controle numa festa, o clima de tensão se instala. O velho mestre conduziu como quase sempre o fizera, com sua elegância, capacidade de convencimento e sutileza mesclados com um bom gosto indiscutível.
Já em Partir, a diretora conduz com boa performance, mas longe da genialidade de Truffaut. Soube escolher bem seu elenco, tendo na atriz inglesa de 49 anos Kristin Scott Thomas, com sua beleza mais clássica, porém de enorme talento, como já brilhara em Há Tanto Tempo que te Amo (2008) e O Paciente Inglês (1996), contracenando com o famoso médico (Yvan Attal), seu marido traído, e o amante na pele de um pedreiro espanhol (Sergi López), do enigmático filme O Labirinto do Fauno (2006).
O fogo de um amor enlouquecido numa paixão sem limites é o núcleo deste drama, onde a fisioterapeuta Suzanne é casada com um célebre médico, resolve voltar a trabalhar em casa. Para isso haverá reformas na sua residência no interior da França, sendo contratado um pedreiro espanhol com problemas de imigração e algumas passagens pela polícia. O envolvimento é iminente e os limites do relacionamento entre mulher e marido são transpostos e a separação sempre negada pelo médico se encaminha para a tragicidade. No meio deste redemoinho há os filhos que se dividem em apoio ao pai pela filha e à mãe pelo filho. Num conflito de interesses e amores mal resolvidos sobra para os adolescentes.
Como num vulcão, há o perdão do esposo condescendente e vingativo ao extremo, mas ignorado por Suzanne que sofre todo o tipo de preconceito para ter ao lado seu companheiro. Passam por uma crise financeira inimaginável, mas a paixão se mantém incólume e sua obsessão é transparente. A resistência de Suzanne, nas busca incansável pelo seu destino com o amante é comovedora. Luta bravamente com muita gana, digna de uma pessoa forte que se mantém com equilíbrio até não mais resistir e se deixar levar pela coação e pela solução que vê como única saída, num mundo de preconceitos e de valores estereotipados que são impostos com dinheiro e ameaças, ficando à mercê de uma explícita armadilha do poder e da fama de quem não mais ama, numa metáfora de uma sociedade onde os menos favorecidos são usurpados e levados à humilhação quando se rebelam.
Um bom filme este Partir, mesmo sem o glamour de A Mulher do Lado, deve ser prestigiado e assistido pelas suas qualidades que não são poucas. Um drama de amor e paixão sem pieguices ou tratados de autoajuda. As reflexões sobre o mundo da adolescência no sofrimento dos filhos são bem explorados e contidos. O próprio perdão com o interesse único da permanência simbólica, tem na busca do indiciamento do amante para afastá-lo são vistos como reprováveis e abjetos, pois os meios utilizados são os piores possíveis e dentro de uma clausura de possessão sobre a mulher pelo homem, ainda que o adultério esteja escancarado
Em tempo: O Instituto NT, na Rua Marquês do Pombal, nº. 1111, em Porto Alegre, foi uma agradável surpresa que merece todos os elogios e alguns reparos. A sala de cinema fica no térreo de uma casa antiga e rústica tombada pelo patrimônio público. Tem um ar condicionado perfeito, com uma tela de ótima projeção, tendo nas poltronas revestidas de couro seu ponto máximo e irretocável, embora pequena é extremamente aconchegante. No interior do pátio há uma cafeteria com um telão, estando as diversas mesas e cadeiras temáticas bem distribuídas, homenageando grandes diretores do cenário nacional e internacional. Não há estacionamento privativo, mas na rua é fácil encontrar lugares para os carros, com a presteza de um segurança atento. Há apenas um banheiro, tanto para cavalheiros como para as damas, mas parece não haver problemas maiores.
Como nada é perfeito, faltam placas de indicação da bilheteria, da sala de cinema e do banheiro, mas os funcionários são muito eficientes e dinâmicos, não deixando o espectador perdido. A parte superior do Instituto estava fechada e se destina para exposições.
É de se pensar em reforçar a segurança, pois a localização no Instituto NT é em lugar ermo e propício para assaltos.
No mais, parabéns pela iniciativa! Que venham outras da mesma grandeza e qualidade técnica aliadas ao conforto para os cinéfilos gaúchos e turistas, por quê não?
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