Treblinka
Vem de Portugal o decepcionante filme da 40ª. Mostra de
Cinema de São Paulo, o documentário Treblinka,
com direção e roteiro do paulistano Sérgio Tréfaut, ex-assistente de vários
diretores portugueses. Viagem a Portugal
(2011) foi seu único longa-metragem ficcional. Estreou com o curta Alcibiades (1991), realizou os documentários
Fleurette (2002), Lisboetas (2004), A Cidade dos Mortos (2009) e Alentejo,
Alentejo (2014, 38ª Mostra), o melhor deles, ao fazer um retrato digno de dezenas
de grupos amadores que se reúnem regularmente na cidade que dá título ao filme,
ao sul do Rio Tejo. Ali, ensaiam antigos cantos polifônicos e improvisam modinhas
contemporâneas, numa curiosa viagem musical por um modo peculiar de expressão e
paixão dos seus intérpretes, através da bela fotografia de João Ribeiro,
novamente presente em sua última realização sobre os horrores do nazismo.
Um documentário que retrata o presente, o passado e o futuro
misturados nos vagões de um trem fantasma que cruza o Leste Europeu no século
21, por Polônia, Rússia e Ucrânia, países que vivenciaram o drama fatídico do
holocausto. Foram palcos dos traumáticos efeitos humilhantes aos judeus, que
para uns deve ser esquecido; para outros, relembrar é imperioso para a memória
dos sobreviventes. O slogan do pós-guerra “Nunca novamente” soa ainda hoje como
um conto de fadas. Treblinka fica na Polônia e foi o quarto campo de extermínio,
em que milhares dos descendentes semitas foram mortos em câmaras de gás alimentadas
por motores de explosão localizados nos arredores da cidade ocupada pelos
alemães. Foi também o primeiro campo onde ocorreu a cremação dos cadáveres para
ocultar o número de pessoas vítimas do genocídio.
Neste lugar foi criado um sistema de trabalho dos integrantes dos Sonderkommandos para
que eliminassem alguns vestígios comprometedores, no qual os judeus eram
incumbidos de receber os comboios de trens que chegavam para conduzir os
deportados para as câmaras de gás, retirar os cadáveres, extrair os dentes e
ouro e proceder a cremação. Este campo foi dividido pelos alemães em dois terrenos
menores, onde em um deles os prisioneiros somente se ocupavam do extermínio e
recuperação de objetos, e um segundo campo onde os prisioneiros só se ocupavam
da retirada dos cadáveres e cremá-los. O filme O Filho de Saul (2015),
com direção do jovem cineasta húngaro László Nemes, faz uma abordagem bem mais
profunda e meticulosa sobre a temática, o que está ausente no documentário
redundante e raso do brasileiro Tréfaut.
Eis uma realização repetitiva que se utiliza dos
depoimentos de Isabel Ruth e Kirill Kashlikov, através de imagens distorcidas
pela câmera, em um retorno ao passado para contar as artimanhas didaticamente rememoradas
para escapar da morte no inferno daqueles campos
de banheiros químicos. Mas falta a contundência de Phoenix (2014), de Christian Petzold, sobre a história da sobrevivente
judia desfigurada enquanto esteve presa num campo de concentração, durante o
período da II Guerra Mundial. Ou em Ida
(2013), de Pawel Pawlikowski, no registro fabuloso de uma defesa intransigente
para uma verdade não tão absoluta passada pelas gerações, na qual as vítimas
são todas aquelas que não participaram diretamente, faz o espectador ter uma
visão menos dualista, ao deixar fluir a equidistância da imparcialidade para
elaborar uma posição mais crítica e menos escassa da realidade.
Treblinka é um
filme menor, sem consistência, embora haja um certo esforço do diretor em transformá-lo
num documentário sério e histórico, porém pouco contribui para um registro
interessante sobre a realidade cruel do nazismo e seus efeitos destruidores e
reprováveis cometidos contra o povo judeu. Quanto à estética utilizada, não há
inovação, pouca originalidade num tema recorrente, embora sempre instigante
sobre todos os indiscutíveis aspectos. Um filme sem interesse pela monotonia,
chato e arrastado nos intermináveis 61 minutos de projeção. Está longe de
qualquer interesse mais aprofundado, mas que faz brotar o instinto de busca num
alucinante mergulho de um passado brutal para uma solução adotada como prática
abjeta por Hitler para resolver e limpar os milhares de exterminados em massa. Como
se fosse uma fábrica que tem de manter as máquinas funcionando a todo vapor,
era necessário estar sempre aptas as câmaras de gás para receber mais e mais
vítimas. Os corpos deveriam ter um destino, entre eles as valas comuns que já
não davam mais resultado prático, pois não poderiam ser simplesmente empilhados
como numa grande lixeira humana. O horror estava impregnado em todas as vítimas
e algozes que faziam parte da terrível paisagem putrefata. Estes são os relatos
contados pelos dois personagens, porém tudo já foi visto no excelente filme de László
Nemes, o premiado O Filho de Saul.
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