Para Onde, Senhora?
A Índia está de volta cinema indiano está de volta à 40ª. Mostra de Cinema de
São Paulo com Para Onde, Senhora?, direção
e roteiro da cineasta alemã Manuela Bastian, nascida em Munique, estudou artes
em sua cidade natal e na Academia de Cinema Baden-Württemberg. Em 2011, viajou
à Índia e completou o primeiro documentário Pink
Struggle. Também dirigiu os curtas Sandy
Lost in Space (2013) e Remis
(2013), além do média-metragem Papa
Africa (2015). Mostrou todo seu vigor nas discussões acaloradas sobre o
machismo enraizado nos indianos, com o viés típico de censura à mulher
vanguarda que tenta se libertar das amarras fortemente conservadora na
sociedade e na cultura milenar de um povo convicto pelos aspectos religiosos.
Tornar-se motorista profissional é o maior sonho de Devki,
neste misto de documentário com drama realizado em coprodução com a Alemanha.
Retrata o dia a dia de uma jovem que quer ser taxista, custe o que custar. Mas
para isto terá que enfrentar diversos tabus numa sociedade eminentemente com
predomínio da cultura dos homens. O longa de 83 minutos está dividido em três
partes: Pai, Marido e Filho. A personagem central terá que passar por diversos
obstáculos, a começar pelas provas e as dificuldades na autoescola para
adquirir a carteira de habilitação.
O docudrama começa com a sua recente separação e retorno à casa dos pais, num ambiente hostil e pouco convidativo para
recepcionar uma filha separada de um homem nada carinhoso e compreensível.
Devki não é acomodada, quer logo seguir uma carreira e escolhe a profissão
sonhada de condução de um táxi na barulhenta Nova Delhi de motos, automóveis e os famosos tuk tuks, uma espécie de
triciclo, competindo nas ruas de forma desordenada com grandes
congestionamentos. A figura paterna entra em ação, o azulejista tenta
disuadi-la sob oforte argumento da falta de segurança à noite na capital
cosmopolita e perigosa para todos.
Sua teimosia lhe
custa a expulsão da casa pelo pai, tão logo sabe que a filha passou nos testes
da autoescola. Começa a andar como uma mulher adulta e liberal no comando do
veículo. Seus percalços não terminam aí, terá que enfentar na segunda etapa o
namorado, um rapaz do interior que lhe pede em casamento e faz juras de amor.
Mudam-se para uma região rural, local da família dos parentes de seu novo
marido, que também não vê com bons olhos sua profissão. Com o nascimento do
filho, outro ingrediente novo que surge, vem à tona a opressão do sogro que
impede seu retorno à capital. Antes de tudo, terá que se adaptar à cultura
diferente da sua, tentando entender as tradições milenares dos rituais de usos
e costumes paradoxais ao que conhecia.
A protagonista
não desiste de voltar a Nova Delhi, busca forças do interior da alma e, com
sangue e suor retirados do fundo das entranhas, segue persistente na trajetóra
pretendida quase que intransponível na saga obsessiva de um futuro traçado
obstinadamente. Embora a casta machista ache estranho e tentem ridicularizá-la
por ser a única presença feminina entre os condutores de táxi no trânsito da cidade, tanto no
diurno como no período noturno. Mas ela é forte, quase como um carvalho sendo
golpeado por um machado, por isto se sustenta firme contra os empecilhos que
surgem no cotidiano.
Para Onde, Senhora? é
uma boa dissertação sobre
história e antropologia, pelas lentes da bela fotografia de Jan David
Günther, em que o documentário tem um tom de diálogos em forma de drama, para
depois serem ouvidos os personagens para abrir com sinceridade seus corações
para a câmera. Os dissabores e as complexidades das relações estão no contexto
e faz uma desassombrada declaração de insubordinação. O filme é leve e transita
com boa naturalidade narrativa, mostrando fatos pitorescos e os contrastes do
interior com o urbano, passando pelo caos metropolitano e do sufoco
intransigente das tradições rurais. São registros
interessantes de contribuição pela visão feminista naquele universo de
submissão das mulheres aos seus intitulados donos de uma legião masculina predominante
e repressora que não aceita diálogos e nem concessões.
Um comentário:
Legal um filme mostrar a cultura de outro país e suas contradições, vou procurar!!!
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