domingo, 30 de outubro de 2016

Mostra de Cinema São Paulo (Para Onde, Senhora?)


Para Onde, Senhora?

A Índia está de volta cinema indiano está de volta à 40ª. Mostra de Cinema de São Paulo com Para Onde, Senhora?, direção e roteiro da cineasta alemã Manuela Bastian, nascida em Munique, estudou artes em sua cidade natal e na Academia de Cinema Baden-Württemberg. Em 2011, viajou à Índia e completou o primeiro documentário Pink Struggle. Também dirigiu os curtas Sandy Lost in Space (2013) e Remis (2013), além do média-metragem Papa Africa (2015). Mostrou todo seu vigor nas discussões acaloradas sobre o machismo enraizado nos indianos, com o viés típico de censura à mulher vanguarda que tenta se libertar das amarras fortemente conservadora na sociedade e na cultura milenar de um povo convicto pelos aspectos religiosos.

Tornar-se motorista profissional é o maior sonho de Devki, neste misto de documentário com drama realizado em coprodução com a Alemanha. Retrata o dia a dia de uma jovem que quer ser taxista, custe o que custar. Mas para isto terá que enfrentar diversos tabus numa sociedade eminentemente com predomínio da cultura dos homens. O longa de 83 minutos está dividido em três partes: Pai, Marido e Filho. A personagem central terá que passar por diversos obstáculos, a começar pelas provas e as dificuldades na autoescola para adquirir a carteira de habilitação.

O docudrama começa com a sua recente separação e retorno à casa dos pais, num ambiente hostil e pouco convidativo para recepcionar uma filha separada de um homem nada carinhoso e compreensível. Devki não é acomodada, quer logo seguir uma carreira e escolhe a profissão sonhada de condução de um táxi na barulhenta Nova Delhi de motos, automóveis e os famosos tuk tuks, uma espécie de triciclo, competindo nas ruas de forma desordenada com grandes congestionamentos. A figura paterna entra em ação, o azulejista tenta disuadi-la sob oforte argumento da falta de segurança à noite na capital cosmopolita e perigosa para todos.

Sua teimosia lhe custa a expulsão da casa pelo pai, tão logo sabe que a filha passou nos testes da autoescola. Começa a andar como uma mulher adulta e liberal no comando do veículo. Seus percalços não terminam aí, terá que enfentar na segunda etapa o namorado, um rapaz do interior que lhe pede em casamento e faz juras de amor. Mudam-se para uma região rural, local da família dos parentes de seu novo marido, que também não vê com bons olhos sua profissão. Com o nascimento do filho, outro ingrediente novo que surge, vem à tona a opressão do sogro que impede seu retorno à capital. Antes de tudo, terá que se adaptar à cultura diferente da sua, tentando entender as tradições milenares dos rituais de usos e costumes paradoxais ao que conhecia.

A protagonista não desiste de voltar a Nova Delhi, busca forças do interior da alma e, com sangue e suor retirados do fundo das entranhas, segue persistente na trajetóra pretendida quase que intransponível na saga obsessiva de um futuro traçado obstinadamente. Embora a casta machista ache estranho e tentem ridicularizá-la por ser a única presença feminina entre os condutores de táxi no trânsito da cidade, tanto no diurno como no período noturno. Mas ela é forte, quase como um carvalho sendo golpeado por um machado, por isto se sustenta firme contra os empecilhos que surgem no cotidiano.

Para Onde, Senhora? é uma boa dissertação sobre história e antropologia, pelas lentes da bela fotografia de Jan David Günther, em que o documentário tem um tom de diálogos em forma de drama, para depois serem ouvidos os personagens para abrir com sinceridade seus corações para a câmera. Os dissabores e as complexidades das relações estão no contexto e faz uma desassombrada declaração de insubordinação. O filme é leve e transita com boa naturalidade narrativa, mostrando fatos pitorescos e os contrastes do interior com o urbano, passando pelo caos metropolitano e do sufoco intransigente das tradições rurais. São registros interessantes de contribuição pela visão feminista naquele universo de submissão das mulheres aos seus intitulados donos de uma legião masculina predominante e repressora que não aceita diálogos e nem concessões.

Um comentário:

Marcelo Tchelos disse...

Legal um filme mostrar a cultura de outro país e suas contradições, vou procurar!!!