terça-feira, 15 de abril de 2014

Festival Varilux Cinema Francês (Um Amor em Paris)


Um Amor em Paris

Uma das grandes promessas do Festival Varilux deveria ser o aguardado Um Amor em Paris, do promissor diretor Marc Fitoussi, festejado pela bela comédia dramática Copacabana (2010) e do ainda inédito Pauline, A Detetive (2011). O terceiro longa que não empolga, decepciona, é uma comédia romântica sobre um casal de fazendeiros da Normandia, interior da França, desgastados no casamento, diante do cotidiano entre o gado Charolles e o dia a dia do campo. A história não tem ingrediente novo e é muito surrada entre os folhetins.

A trama gira em torno dos cinquentenários Brigitte (Isabelle Huppert) e Xavier (Jean-Pierre Darroussin), casados há anos, criam bovinos, mas há uma grande mudança de rota depois que seus filhos saem de casa. A mulher começa a sentir-se presa pela rotina cada vez mais pesada, parece esperar um novo acontecimento em sua vida, busca um algo mais e dá mostras de querer o resgate da liberdade sonhada. Num belo dia, há uma festa de jovens parisienses na casa vizinha, o que vem botar fogo e acelerar a crise iminente, ao conhecer um rapaz e seus encantos.

O diretor dá uma pequena guinada no roteiro e aproveita a doença de pele da protagonista, que está deixando seu humor e autoestima visivelmente prejudicados, para levá-la à Paris em uma consulta médica. O marido desconfia de que está sendo traído e vai ao seu encalço, como se buscasse uma saída para seus desatinos. É um elemento que o atormenta e gera uma grande desconfiança, mas não falta o conselho pueril do empregado e o alerta sobre o passado nada recomendável do patrão. Apesar de demonstrar alguma animação, não deixa de explodir sua raiva no restaurante, irresignando-se com o tipo de carne servida, entendendo como mais um blefe em sua vida circunstancialmente abalada.

Um filme sem profundidade nas relações matrimoniais e de previsível final, assim como no irregular e tedioso Os Belos Dias (2013), de Marion Vernoux. Fitoussi também se utiliza do estratagema da viagem pós-desavença para fortalecer os vínculos amorosos ainda existentes, que não passa de um recurso velho e ultrapassado entre os cineastas menos experientes. É um clichê já manjado e démodé pouco utilizado para os mais criativos, que se afastam do politicamente correto happy end.

Falta o clímax e a construção dramática mínima para a desenvoltura do longa, mas sobra piadas sem graça e recorrentes, numa trajetória nada animadora. Mas de bom há as interpretações sóbrias e convincentes de Huppert e Daroussin, dois exponenciais astros do cinema francês, que fazem de tudo para segurar e manter um ritmo satisfatório, porém o filme sucumbe pela falta de criatividade diante de situações sem consistência, como a tentativa do flerte de Brigitte com o jovem vendedor que conheceu na festa, que não passa de um espertalhão e mau-caráter; ou a bondade com o pobre indiano que tem suas quinquilharias recolhidas pela polícia; ou ainda o encontro com o sedutor dentista dinamarquês.

Faltou cinema para Um Amor em Paris e sobrou mesmice, numa previsível comédia com a sensação de déjà vu, pouco acrescenta pelas fragilidades contextualizadas que deixa o filme entrar em compasso de desaceleração. Sobra um falso lirismo inócuo no epílogo, beirando a singeleza e sem maiores cobranças do casal, tudo muito simplório e desproporcional que não passa de um painel burocrático sobre o estremecimento do casamento e a busca da independência feminina, embalado por uma invasiva trilha sonora e uma bonita fotografia, num roteiro pouco inspirado e com um olhar feminista engajado, sem maiores pretensões para uma análise reflexiva. Não chega a ser desprezível, pois tem como objetivo a busca constante da liberdade, embora sem instigar e sequer se aprofunda no tema, deixa como resultado uma proposta rasa.

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