Um Amor em Paris
Uma das grandes promessas do Festival Varilux deveria ser o
aguardado Um Amor em Paris, do
promissor diretor Marc Fitoussi, festejado pela bela comédia dramática Copacabana (2010) e do ainda inédito Pauline, A Detetive (2011). O terceiro
longa que não empolga, decepciona, é uma comédia romântica sobre um casal de
fazendeiros da Normandia, interior da França, desgastados no casamento, diante
do cotidiano entre o gado Charolles e o dia a dia do campo. A história não tem ingrediente
novo e é muito surrada entre os folhetins.
A trama gira em torno dos cinquentenários Brigitte (Isabelle
Huppert) e Xavier (Jean-Pierre Darroussin), casados há anos, criam bovinos, mas
há uma grande mudança de rota depois que seus filhos saem de casa. A mulher
começa a sentir-se presa pela rotina cada vez mais pesada, parece esperar um
novo acontecimento em sua vida, busca um algo mais e dá mostras de querer o
resgate da liberdade sonhada. Num belo dia, há uma festa de jovens parisienses
na casa vizinha, o que vem botar fogo e acelerar a crise iminente, ao conhecer
um rapaz e seus encantos.
O diretor dá uma pequena guinada no
roteiro e aproveita a doença de pele da protagonista, que está deixando seu
humor e autoestima visivelmente prejudicados, para levá-la à Paris em uma
consulta médica. O marido desconfia de que está sendo traído e vai ao seu encalço, como se buscasse uma saída para seus desatinos. É um elemento que o atormenta e gera uma grande desconfiança, mas não falta o conselho pueril do empregado e o
alerta sobre o passado nada recomendável do patrão. Apesar de demonstrar alguma
animação, não deixa de explodir sua raiva no restaurante, irresignando-se com o
tipo de carne servida, entendendo como mais um blefe em sua vida
circunstancialmente abalada.
Um filme sem profundidade nas relações matrimoniais e de
previsível final, assim como no irregular e tedioso Os Belos Dias (2013), de Marion Vernoux. Fitoussi também se utiliza
do estratagema da viagem pós-desavença para fortalecer os vínculos amorosos
ainda existentes, que não passa de um recurso velho e ultrapassado entre os
cineastas menos experientes. É um clichê já manjado e démodé pouco utilizado para os mais criativos, que se afastam do
politicamente correto happy end.
Falta o clímax e a construção dramática mínima para a
desenvoltura do longa, mas sobra piadas sem graça e recorrentes, numa
trajetória nada animadora. Mas de bom há as interpretações sóbrias e
convincentes de Huppert e Daroussin, dois exponenciais astros do cinema
francês, que fazem de tudo para segurar e manter um ritmo satisfatório, porém o
filme sucumbe pela falta de criatividade diante de situações sem consistência,
como a tentativa do flerte de Brigitte com o jovem vendedor que conheceu na
festa, que não passa de um espertalhão e mau-caráter; ou a bondade com o pobre
indiano que tem suas quinquilharias recolhidas pela polícia; ou ainda o
encontro com o sedutor dentista dinamarquês.
Faltou cinema para Um
Amor em Paris e sobrou mesmice, numa previsível comédia com a sensação de déjà
vu, pouco acrescenta pelas fragilidades contextualizadas que deixa o
filme entrar em compasso de desaceleração. Sobra um falso lirismo inócuo no
epílogo, beirando a singeleza e sem maiores cobranças do casal, tudo muito
simplório e desproporcional que não passa de um painel burocrático sobre o
estremecimento do casamento e a busca da independência feminina, embalado por
uma invasiva trilha sonora e uma bonita fotografia, num roteiro pouco inspirado
e com um olhar feminista engajado, sem maiores pretensões para uma análise
reflexiva. Não chega a ser desprezível, pois tem como objetivo a busca
constante da liberdade, embora sem instigar e sequer se aprofunda no tema,
deixa como resultado uma proposta rasa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário