Todo mundo conhece o primeiro clássico filme infantil dos
estúdios da Walt Disney, Branca de Neve e
os Sete Anões (1937), dirigido por David Hand, baseado no conto de fadas
escrito pelos irmãos Grimm. A história que encantou e fez chorar multidões,
tinha a linda rainha má, que se transformava em bruxa, por inveja e vaidade,
manda matar sua enteada, a mais linda de todas. Mas o carrasco deixou-a partir
e, durante sua fuga pela floresta, encontra a cabana dos sete anões que passam
a protegê-la. Algum tempo depois, quando descobre que Branca de Neve continua
viva, a Bruxa Má disfarça-se e vai atrás da moça com uma maçã envenenada, que
faz com que a bela caia em um sono profundo por toda a eternidade.
Agora com uma roupagem nova e bem repaginada, após esperar 8
anos para filmar e colocar em prática seu projeto, a fábula é adaptada para o
mundo dos adultos de forma alegórica, escrito e dirigido por Pablo Berger,
originando na versão espanhola Branca de
Neve, é revista de forma diferente e enfoca as touradas de Sevilha, nos
anos de 1920. Com um roteiro sem diálogos e na versão preto e branco, como fora
visto recentemente no oscarizado O
Artista (2011), do francês Michel Hazanavicius, que redundou na festejada
produção francesa rodada nos EUA.
O filme tem no papel da protagonista Carmem, apelidada pelos
anõezinhos de Branca de Neve (a grata revelação como atriz Macarena Garcia) e
como a perversa madrasta (Maribel Verdú- de interpretação memorável). A trama
se desenrola com o auxílio ardoroso da trilha sonora exemplar, numa narrativa
correta dentro de um enxuto roteiro, mostrando a odisseia da garotinha que
perdeu a mãe no seu parto e do pai, um famoso toureiro atingido violentamente
na arena por um touro, não morre e fica inválido numa cadeira de rodas, porém
se casa com a enfermeira megera que aplica maus-tratos à exaustão na enteada para
afastá-la do convívio familiar e abocanhar toda a riqueza do marido. O
sofrimento é grande, mas sonha em seguir a trajetória do pai e acaba no circo
itinerante dos sete anões toureiros, depois de ser salva por eles no mato, após
um inusitado assédio na adolescência por obra da madrasta.
A fábula moderna é bem ambientada numa Espanha da década de
20. Há méritos inquestionáveis da obra, onde o bem e o mal se confrontam numa
alegoria magnífica, sem ser piegas e afastando-se do maniqueísmo, não se deixa
envolver pelo emocional na sua estrutura dramática numa estética antiga, no
melhor estilo e do charme dos filmes de Chaplin, através do personagem mais famoso,
o vagabundo Carlitos, oprimido e engraçado, denunciava as injustiças sociais,
de forma inteligente, sabia como fazer rir e também chorar, em vários filmes
rodados sem sonoridade e sem fotografia colorida. Outra boa referência está no
magistral filme musical Cantando na Chuva
(1952), de Stanley Donen e Gene Kelly. É mais um nessa tendência de filmes
mudos e em preto e branco, depois de O
Artista, e no fabuloso Tabu (2012),
do português Miguel Gomes.
As peripécias dos anões toureiros com sua protegida são
demonstrações de cinema puro e um belo tributo ao passado no formato gótico e
sombrio com a ausência de diálogos, demonstrando uma capacidade inventiva e
objetiva que fisgam na essência o espectador, através desta madura e
equilibrada fábula adulta. Surge um diretor com méritos inegáveis nesta sua
obra consagradora que o coloca num plano superior ao seu longa Da Cama para a Fama (2003). Mostra bom
estilo e nuances do cinema mudo com elipses adequadas, através de um figurino
impecável, sem esquecer a exemplar fotografia em preto e branco, símbolo de um
passado de reminiscências, marca pela ousadia numa época onde se valoriza mais
o avanço tecnológico, as invenções e os avanços virtuais. O filme tem
significativas virtudes expositivas, pois consegue prender a atenção do público,
não deixando escapar o foco da trama.
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