quinta-feira, 3 de maio de 2012

Sete Dias com Marilyn

























Sedução e Carisma

O pequeno drama documental dirigido por Simon Curtis tem como mote o romance relâmpago de uma semana, entre a grande diva do cinema mundial Marilyn Monroe (1926-1962) com o terceiro assistente de direção, baseado no livro de memórias Minha Semana com Marilyn, do documentarista inglês e agora protagonista principal Colin Clark (1932-2002), na interpretação de Eddie Redmayne apenas convincente como um galã pálido. Já Michelle Williams encarnou a loiraça, tendo engordado 7 kg para ficar mais voluptuosa, amarrou cintos nos joelhos para andar como a personagem, ainda assim a atuação foi sem brilho e raro glamour, deu para o gasto.

O affair aconteceu durante as filmagens do longa em 1956, em Londres, O Príncipe Encantado lançado em 1957, no auge da carreia da loira vulcânica mais carismática e sensual que o cinema já conheceu, originariamente ruiva, mas logo foi platinada, tendo estraçalhado corações por onde passou, com seus 53 kg e 1,66cm, bem curvilínea e cheinha, nada magra, embora bem abaixo em beleza e talento das estrelas contemporâneas hollywoodianas Ava Gardner, Grace Kelly, Audrey Hepburn, ou a inesquecível atriz exótica de olhos violetas Elizabeth Taylor, somente para citar algumas.

Não chega a ser um filme dentro do outro, pois o diretor deixa bem claro nas gravações de O Príncipe Encantado estar dentro do longa Sete Dias com Marilyn, com a atuação e direção do monstro sagrado sir Laurence Olivier (Kenneth Branagh), tendo ainda a presença magnífica da personagem coadjuvante Sybil Thorndike, interpretada pela fabulosa Judi Dench, sempre uma atração à parte. De imediato se percebe Marilyn sufocada por um exército de pessoas, não faltando bajuladores, seguranças, secretários, motorista particular, todos lhe cercando e não a deixando praticamente respirar com liberdade. Há ainda os dissabores das brigas com o seu terceiro marido, o escritor e dramaturgo Arthur Miller (Dougray Scott), que também se queixa da falta de espaço para sua criação literária, devido à fama e os paparicos despendidos para a mulher mais famosa do planeta na década de 50.

No drama se vê Marilyn no seu lado fraco, doce e sensível, ao se aproximar de Colin, um ilustre desconhecido, derramando-se como uma mulher carente e afetuosa, embora um vulcão adormecido pronto para a erupção junto aos homens que parecem temê-la ou assustarem-se com a catarse de sensualidade oriunda da grande estrela. Não deixa de ser uma criatura com problemas existenciais de uma solidão de afeto, tanto é que usa frequentemente calmantes para dormir, chega a perder as gravações por estar dormindo em excesso, mostrando em algumas cenas um estado precário de uma moribunda, derivado da doença da alma e do espírito enfraquecido pela perturbação que lhe assola, embora esteja sempre cercada de muitas pessoas, que a procuram para pedir autógrafos e tocar no mito americano que faz furor em Hollywood.

O longa tem no personagem Colin o protetor e amante platônico da deusa do cinema, numa tensa relação de trabalho com a produção, logo após os problemas da grande atriz, quando começa a esquecer os diálogos de seu papel, deixando de comparecer em algumas gravações e os ensaios ficam em segundo plano para aquela mulher estonteante de uma fleuma arrasadora, mostra-se debilitada e fragilizada, marcas constantes de sua trajetória, deixando transparecer um afeto infantil de uma infância dolorida, como na cena em que vai ao museu e se depara com uma boneca, surgem as lembranças do passado e do presente da mãe, que em seguida foi internada num hospício. Os pequenos conselhos nos diálogos com Colin sobre a estrutura familiar são comoventes, sem ser piegas ou babacas, mas não são colocados com eloquência pelo diretor, que tem suas limitações, embora conduza com galhardia dentro de um roteiro enxuto, num cenário deslumbrante de jardins e castelos da corte inglesa, quando se completa 50 anos da morte da sempre lembrada e imitada loira errática.

Sete Dias com Marilyn não é um filme superior, mas não decepciona em quase nada, a não ser a performance da atriz principal que fica devendo em muito ao interpretar a mitológica Marilyn Monroe com seus encantos artísticos e sexuais fascinantes de uma era embevecida pela diva. Curtis criou um romance efêmero como um belo conto de fadas, tendo apresentado bastante sensibilidade e sutilezas, alcançando um resultado final bom, deixando como reflexão a solidão estampada dos grandes ídolos, abordando as carências afetivas que os tornam pessoas de carne e osso.

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