segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Millenium- Os Homens que Não Amavam as Mulheres















Família Enigmática

Longe do muito bom longa-metragem A Rede Social (2010), ou do significativo Clube da Luta (1999), porém mais próximo do controvertido O Curioso Caso de Benjamin Button (2008), David Fincher agora está com a verve da grandiloquência de cenas longas e situações escabrosas e chocantes como no estupro, nesta refilmagem de Os Homens que Não Amavam as Mulheres, baseado no best-seller homônimo do jornalista e escritor sueco Stieg Larsson, morto aos 50 anos, em 2004, sem ter conhecimento de seu grande sucesso editorial e cinematográfico. Esta é a primeira parte da trilogia Milleniun, que foi filmada originalmente também por um sueco Niels Arden Opley.

O filme é um suspense investigativo, onde o jornalista Mikael Blomkvist (Daniel Craig) é contratado para desvendar um mistério de 40 anos sobre o desaparecimento da sobrinha Harriet, do grande empresário e patriarca Henrik Vanger (Christopher Plummer), supostamente assassinada por um dos integrantes da enorme família com raízes no Nazismo. Mostra-se como um jornalista lacônico e determinado a restaurar a sua honra depois de ser condenado na justiça por difamação. Para isso, conta com a ajuda da eficiente hacker Lisbeth Salander (Rooney Mara- grande interpretação e forte candidata ao Oscar 2012), uma jovem punk de piercings e tatuagens espalhadas pelo corpo, com um comportamento antissocial e bizarro, cuja vida igualmente misteriosa em seu passado, por ser uma investigadora talentosa e contratada para levantar a ficha e os antecedentes de Blomkvist, uma missão que será o ponto de partida para que ela se junte a Mikael na investigação, logo chamará a atenção de todos.

A película não poupa os incríveis assassinatos, a corrupção que se alastra pelos membros hereditários dos poderosos Vanger. Mas não poderiam faltar os grandes segredos de família e os dramas pessoais de dois parceiros improváveis em busca da verdade por trás de um mistério de 40 anos. O jornalista ao se mudar para aquela ilha remota na costa gelada da Suécia, não imagina e nem tem qualquer noção do que o aguarda e dos perigos que rondarão sua vida tranquila. Há uma sucessão de atrocidades e violência com psicopatas entrando em ação.

O grande mérito de Lisbeth, apesar de se sentir isolada do mundo traiçoeiro, é sua capacidade magistral como hacker e estar sempre focada no que faz, sem se deixar iludir ou ser atrapalhada por sentimentalismos ou envolvimentos maiores, que a tornam como uma pessoa valiosa no seu trabalho duro e frio. Enquanto Mikael procura dialogar e buscar soluções amigáveis com os enigmáticos Vanger, Lisbeth navega suas intuições femininas e procura obstinadamente pela Internet. Chegam a forjar uma confiança razoável, embora fragilizada, enquanto descobrem assassinatos em série ocorridos por décadas que os envolvem numa parceria agora forte, para buscar a solução e as revelações daqueles crimes hediondos e colocados à margem da civilização.

Mas falta uma atmosfera de tensão durante boa parte do filme. Os planos médios e abertos são poucos, exceto para mostrar uma beleza natural. O clima não atinge uma sustentação tensa, também por falha de uma trilha sonora mais adequada e envolvente, como na cena de Mikael na casa de um familiar investigado. Ou a caminho da casa de Henrik sem saber o motivo da chamada urgente, mas contraditoriamente há uma carga mais dramática na ação de Lisbeth em sua pesquisa virtual.

Milleniun- Os Homens que Não Amavam as Mulheres tem falhas como da montagem, que o torna excessivamente longo e com cenas que poderiam ser cortadas, como do final totalmente desprezível, logo após o encontro em Paris entre o jornalista e a pessoa que elucida a trama. Faltou o uso maior de elipses, pois assim restou uma estética inchada e demodê ao filme, prejudicando o acabamento der uma obra mais enxuta e com menos retórica.

Mas a película tem bons acertos como a personagem Lisbeth, sempre que entra em cena sai boa coisa. Apesar se seus muitos equívocos é um razoável paradigma para as adaptações de séries literárias. Há uma boa técnica artística e diálogos harmônicos das duas linguagens, tendo em vista que Fincher preferiu não se expor por demasia, ao ser fiel ao livro em boa parte e também não contrariar o filme original, dando ritmo no cinema ao conteúdo literário e filmando inclusive na Suécia. Mas no todo esta versão da primeira parte é irregular e agora é esperar as continuações.

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