segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Educação



Dores do Crescimento

A diretora dinamarquesa, de 50 anos, Lone Scherfig tem no tédio da adolescência o cerne do drama Educação, com a busca imediata para a passagem ao mundo adulto. A trama tem no ponto principal a transição da bela e inteligente jovem adolescente de 16 anos Jenny (Carey Mulligan), em 1961, filha única de um casal classe média baixa, moradora no subúrbio de Londres, estudante de latim e celo (espécie de violoncelo).

A película é uma adaptação do escritor Nick Hornby de um artigo da jornalista Lynn Barber, intitulado como autobiográfico, debruçando-se na vida entediada de Jenny que tem diariamente seus pais alimentando o sonho de estudar em Oxford, uma pretensão superior para os ingleses, como uma premiação de recompensa pela labuta da persistência como seu fim maior, principalmente pela sua condição de pessoa pobre que a conduz para os estudos, objetivando uma vida melhor. Surge num dia de chuva torrencial, na saída escola, David (Peter Sarsgaard) um playboy na acepção da palavra, de origem judia, charmoso, bonitão e sedutor, com mais de 30 anos, cosmopolita e requintado, mas de profissão duvidosa. Joga todo seu charme e sedução, com a assessoria inestimável de um casal de amigos bons vivants.

David não é uma pessoa confiável, sua situação civil é complicada, logo se aproxima dos pais de Jenny e convida a garota para conhecer a Faculdade de Oxford, simulando uma sessão de autógrafos com o autor preferido da garota, mas com sua anuência. Abusa da tenra idade e justificável ingenuidade, a leva para concertos em teatro, dançar em boates no glamour da noite. Em seguida, ao completar os 17 anos, prestes a perder a virgindade, pois assim estabelecera como meta de vida e transição para o mundo adulto, é convidada para ir a Paris, seu sonho e fantasia de menina que já se imagina na Cidade Luz, pois já balbucia algumas frases em francês. O deslumbramento é completo ao romper com o formalismo de sua educação, descobrindo o outro lado da vida, mas a ficha começa a cair, diante dos negócios escusos do namoradinho com imigrantes negros em bairros pobres e promíscuos, com invasões em moradias de baixa renda.

A mudança da vida adolescente para adulta tem no clímax da descoberta das falcatruas seu ponto primordial de discórdia e a dor da transição de Jenny para um mundo ainda desconhecido e com as mazelas que está descobrindo de forma abrupta. Há na cena da descoberta do segredo de David toda a revelação, quando pergunta de maneira dramática aos pais e os questiona, colocando ser uma pessoa inexperiente uma justificativa para sua ingenuidade no cerco feito pelo Don Juan, inquirindo-os que não poderiam ter se omitido para uma situação de futuro de uma vida financeira estável e como poderiam ter deixado se ludibriarem tão facilmente.

Pode ser citada ainda outra cena marcante, aquela do pai levando chá com biscoitos no quarto para a filha abalada psicologicamente pela perda, buscando a reconciliação paternal. Ficaram as acusações e cobranças mútuas, estando a mãe omissa com a filha que quer pular etapas e agora sente toda a dor de seu imaginário em ebulição e se sentindo perdida no nefasto e conturbado novo mundo adulto agora em crise.

Educação traz reflexões de três filmes franceses notáveis e significativos da adolescência, um ainda em cartaz O Pequeno Nicolau (2009), dirigido magnificamente por Laurent Tirard; outro é o sempre atual Os Incompreendidos (1959), obra-prima do mestre François Truffaut; e o perturbador Entre Os Muros da Escola (2008), de Laurent Cantet, abordando a disciplina e os limites irrefutáveis como essência de crescimento humano.

Também há referências a outros notáveis filmes, como de Christophe Honoré, A Bela Junnie (2006). Não se pode esquecer ainda do magnífico O Casamento de Rachel (2008), dirigido por Jonathan Demme. Outros filmes significativos mas posteriores foram recentemente passados no Festival Varilux de 2010, Hadewijch (2009), de Bruno Dumont e O Refúgio (2009), de François Ozon, tanto pela candura como pelas cobranças junto aos pais pelos erros e poucos acertos, com consequências desastrosas em decisões precipitadas, onde o microcosmo familiar está presente pela omissão e ausência constantes.

A diretora de Educação não chega a aprofundar-se como se poderia imaginar para a obtenção de um resultado singular, deixando as reflexões e os questionamentos de transição de mundos diferentes e angustiantes, como da adolescência para o adulto, numa linearidade de um roteiro básico, que anda aos percalços, sem uma abordagem profunda que o tema merece, com um resultado razoável, numa visão pouco crítica e com discreto ranço de moralidade nas entrelinhas.


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