segunda-feira, 22 de junho de 2009
Intrigas de Estado
O Jornalismo e a Politicagem
Quase não se percebe o passar dos 127 minutos do ótimo filme Intrigas de Estado, muito bem dirigido por Kevin MacDonald, com boa atuação do redondinho Russel Crowe (como engordou!) e bem coadjuvado por Ben Affleck no papel do deputado investigador que passa a ser investigado, com aquela cara de paspalho e inocência forjada. A trajetória do filme é instigante e leva ao clímax somente no final, quando o jornalista Cal do "Washington Globe", paródia do Washington Post, investiga um crime aparentemente comum, mas com indícios de suicídio da assistente de um deputado congressista nos trilhos do metrô.
Esse filme é um tributo ao jornal impresso, no exato momento de fechamento de grandes jornais nos EUA pela crise que se assola, rebela-se contra a tendência on line que toma conta da grande imprensa mundial. O jornalista investigativo Cal que usa uma sala completamente desarrumada com uma mesa antiquada e vários recortes nas paredes, ao publicar sua descoberta em uma matéria tida como furo, assim fulmina os abutres que preconizam o fim do jornal de papel: "Essa manchete precisaria de um capa de jornal impresso e não on line."
Em tempos que o STF se debruça por horas para eliminar o diploma de jornalismo, sob o pífio argumento de ser uma lei remanescente do entulho da ditatura- ou seria uma vingança contra a classe pelo atual presidente Gilmar Mendes e seus pares?-, quando teria coisas mais importantes para julgar, pois certamente os grandes jornais e revistas não prescindirão do velho canudo de conclusão de uma Faculdade de Comunicação, Cal dá uma verdadeira aula de jornalismo investigativo com a neófita colega de redação, embora vigiado de perto por sua chefe ética e conservadora (Helen Mirren).
O filme é uma crítica aos blogs e mídia on line, em que falta seriedade para suas publicações, ocorrendo muitas fofocas e intrigas pela facilidade de publicações sem compromisso com a verdade, princípio basilar de uma imprensa que se propõe a ser séria e dar credibilidade aos seus leitores. O diretor não nega a influência do grande filme de Alan Pakula, Todos os Homens do Presidente (1976), com Robert Redford e Dustin Hoffman, que culminou com a queda do presidente dos EUA Richard Nixon, após o rumoroso escândalo político Watergate.
A película não é só uma reflexão ou crítica ao jornalismo on line, há a intrincada relação do deputado congressista Collins, de uma relação adúltera com sua assistente grávida que morre em circunstâncias misteriosas sob um vagão do metrô. O congressista lidera uma comissão que apura a relação de uma empresa armamentista com o governo dos EUA. As suspeitas de sua assistente estar infiltrada pela CIA explode na descoberta de Cal, em final inusitado e revelador, de uma trama urdida com maestria para a continuação da impunidade e das falcatruas governamentais, oriundas de uma extraordinária trama estatal.
O cinema, além de trazer entretenimento, tem por obrigação e, em muitas vezes, traz revelações e alertas contundentes, como este imperdível Intrigas de Estado. O filme se debruça sobre jornal impresso versus blogs e mídia on line, mas nos contempla ainda, como pano de fundo, toda a temática de um Estado envolvido com empresas armamentistas e com visões para a guerra e políticos envolvidos com situações escabrosas, dignas de maracutaias da melhor estirpe. A política sempre rendeu bons filmes e grandes tramas envolventes e o diretor Kevin MacDonald não deixa de dar sua contribuição valiosa para esta temática milenar da politicagem.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário