Ode ao Romantismo
O jovem diretor Damien Chazelle, tinha 29 anos, e já demonstrava
grandes virtudes em seu longa-metragem de estreia Whiplash- Em Busca da Perfeição (2014), na abordagem seca e
profunda do duelo titânico na tela entre o mestre tirano com o aluno obstinado,
com muita emoção num tom dramático em alta voltagem dentro de um
conservatório para alunos de música, no qual um rapaz ambiciona galgar um posto
de destaque na carreira de baterista profissional, mas encontra no encolerizado
regente um método selvagem de lidar com seus pupilos, dentro de um rigorismo
excessivo em que age com assustadora violência física e psicológica, desferindo
tapas e bofetões, com cadeiras voando nas aulas. Entende que assim criará
gênios como Louis Armstrong e Charles "Bird" Parker. O resultado é fabuloso
num filme elogiado pela crítica diante da intensidade dos personagens bem
estruturados psicologicamente, com G. K. Simmons no soberbo papel do professor
enlouquecido pela técnica perfeita para descobrir novos talentos do jazz.
Em seu segundo longa, La
La Land : Cantando Estações, Chazelle
retoma sua admiração pelo jazz, mas desta vez num clima de romantismo
exacerbado e um banho de nostalgia em um tributo aos velhos clássicos musicais
das décadas de 1950 e 1960, com longos números de canto e dança de poucos
cortes. Sua inspiração é explícita em Sinfonia
de Paris (1951, de Vincente Minnelli, Cantando
na Chuva (1952), de Gene Kelly e Stanley Donen, e Os Guarda-Chuvas do Amor (1964), de Jacques Demy. Faz também algumas
referências aos cenários que rodaram os inesquecíveis Juventude Transviada (1955) e Casablanca
(1942). No plano-sequência do prólogo no engarrafamento na autoestrada, quase
manda a plateia para casa pela fragilidade da cena. Após um gesto obsceno de um
rapaz para uma moça no carro, está dada a senha para o grande romance que virá
no desenrolar da trama. Primeiro desdenha e depois tenta conquistar, como nos
velhos enredos de Hollywood à moda antiga. Ao chegar a Los Angeles o pianista
jazzístico Sebastian (Ryan Gosling) reconhecerá Mia (Emma Stone), uma atendente
de uma cafeteria dentro de um grande estúdio que luta para ser atriz. Ele é
despedido de uma apresentação pelo proprietário do estabelecimento,
coincidentemente interpretado pelo ator G. K. Simmons, que encarnou o irascível
mestre na realização anterior; ela segue a saga de rejeições de aspirante ao
estrelato.
Os sonhos desfeitos e as tentativas para ingressar no mundo hollywoodiano no apogeu dos anos
dourados, como da protagonista que tenta várias vezes a carreira de atriz. Uma
fábula adulta sobre a impossibilidade da felicidade desfeita de um sonho pela
ganância do dinheiro diante das circunstâncias periféricas que rondam destinos
do universo de estrelas distantes do cotidiano, magnificamente explorado em Café
Society (2016), de Woody Allen. Chazelle não aprofunda
como Allen, pelo contrário, seu musical é raso e despretensioso como reflexão ou
algo mais sólido, pois se esboroa como areia movediça em termos de construção maior
e significativa para um cinema como instrumento da arte superior para reflexão.
Debruça-se no mundo que produz beleza externa pirotécnica para fazer brilhar os
olhos. O desfecho é o encontro revelador naquele céu estrelado luminoso e
singular com uma fotografia primorosa num cenário estonteante para um público
menos exigente e especialmente no apelo sentimental. Tecnicamente o filme é bem
feito, isto é inquestionável na produção, na montagem, na fotografia, na trilha
sonora convencional, no figurino e na iluminação beirando ao neon.
O espectador descompromissado sente-se cativado pela magia
do cinemão filmado em Cinesmascope, utilizada para o widescreen, mais um
presente aos saudosistas da tecnologia e projeção de Hollywood nos tempos
áureos da indústria americana. Pouco importa a previsibilidade do desfecho no
seu desenrolar e as armadilhas melodramáticas que descambam para a pieguice
barata. Um filme explorado para atingir corações carentes por este cineasta promissor,
mesmo que se afaste de uma realização contundente e profunda na essência como a
anterior, demonstra equilíbrio cênico num ritmo linear bem popular, quase demagógico,
para colher os frutos da bilheteria. Distante de temáticas polêmicas, dentro de
uma proposta de fácil digestão, flerta com a atmosfera fantasiosa de números
musicais na velha fórmula de fabricar sonhos românticos sem fronteiras distantes
de uma realidade. Um musical nostálgico pelos objetivos claros de riquezas em
homenagens, mas pobre em
conteúdo. Porém , irá trazer lembranças de um passado bem longe,
ainda que seu resultado seja meramente transitório, ao passar o fervor da
premiação e do apelativo marketing do Oscar.
Um comentário:
É tambem achei por ai, o cineasta consegue emplacar seu segundo filme, para mim é aguardar, mostrou que domina a tecnica de apresentar emoções, falta vir o que una emoções e conteúdo. Mas sem duvida belo filme!!!!!!!!!!
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