segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Eu Sou Ingrid Bergman
















Uma Diva Reverenciada

Um filme sobre a vida da bela e talentosa Ingrid Bergman, uma das mais premiadas atrizes da história do cinema, três vezes vencedora e outras oito indicações ao Oscar. Eu Sou Ingrid Bergman é dirigido pelo conterrâneo sueco Stig Björkman, que tem em sua filmografia Imagens do Playground (2009) e Mas o Cinema é Minha Amante (2010). Realizado como documentário intimista obteve um resultado além da expectativa, numa narrativa sensível, poética e reveladora que passeia pela conturbada trajetória da personagem-título, através de fatos verídicos que marcaram sua existência entre prós e contras, alegrias e dissabores, mas sem aquele ranço viciado de simplesmente contar uma história recheada de futilidades. Lança um olhar breve de lembranças do passado, sem deixar de mostrar seus últimos dias já enferma do câncer, mas querendo atuar e relembrar os episódios marcantes de sua carreira, como na cena do depoimento orgulhoso do único filho homem.

O realizador utiliza materiais pessoais como diários íntimos da biografada, cartas enviadas às suas amigas e vídeos amadores. Traça com isenção todo o percurso pessoal e profissional da célebre atriz, incluindo seus diversos casamentos, entre eles com o cineasta Roberto Rossellini, quando se ofereceu para trabalhar com ele resultando numa grande paixão e três filhos, sendo a mais famosa Isabela Rossellini. A relação fria e controvertida com os filhos, o escândalo de adultério do primeiro marido, logo que veio de Estocolmo para os Estados Unidos a convite de David O. Selznik para fazer carreira em Hollywood. Suas andanças pela França, Inglaterra e Itália, num relato sobre os principais filmes como Intermezzo: Uma História de Amor (1939), Casablanca (1942), À Meia Luz (1944) -que rendeu o primeiro Oscar-, Quando Fala O Coração (1946) e Joana D’Arc (1948). Ficou afastada por muitos anos, retornou à indústria cinematográfica americana e abocanhou outra estatueta com Anastácia, A Princesa Esquecida (1956).

A narrativa tem depoimentos dos filhos que não demonstram amarguras, a começar pela filha mais velha, Pia, seguindo pelos outros irmãos; passa por depoimentos de atrizes consagradas como Liv Ullmann e Sigourney Weaver; ocupa espaços como se a própria protagonista efetuasse a leitura dos textos com boa dose de emoção, num tom ficcional com muito realismo das encenações bem representadas pela voz da personagem-narradora (Alicia Vikander), ajudado pelas imagens antigas em 8 mm, num tom agradável como de um sonho transcendental. Björkman tem um olhar maduro e equidistante para mostrar os fatos numa cronologia sem ser didática, mas que imprime boa velocidade num clímax certeiro sobre a vida de Ingrid Bergman (1915-1982), ao perder a mãe com 3 anos, sofre o impacto da morte do pai com14 anos, por quem nutria um grande amor e a herança da paixão pelo cinema. A trilha sonora é adequada ao clima nostálgico, cria-se uma atmosfera de reminiscências para as passagens da grande ascensão, alguns tropeços pelos caminhos como o boicote pelos estúdios, em que beirou o abandono da carreira, até chegar ao epílogo da existência.

Eu Sou Ingrid Bergman retrata as passagens que se sucedem, principalmente a determinação para lutar contra o conservadorismo de uma época para uma mulher que queria ser livre, imprimindo muita coragem para enfrentar as rígidas regras morais dos anos 1940 e 1950. Ressalte-se que não há pelo diretor o intuito de colocar julgamentos morais às atitudes da estrela. Transparece um relato mais afinado com os ideais feministas na defesa da mulher de espírito libertário, sem amarras, poucas raízes de vínculos afetivos maternais, na qual definia-se como “um pássaro migratório”, dona da escolha de seu destino, afirmava que: “não se arrependia de nada do que fizera, mas pelo que não fez”. Um belo tributo para uma atriz que estava bem à frente de seu tempo. Mas ao filmar os quatro filhos sem mágoas ou ressentimentos do passado da mãe, o cineasta retrata a fantasia decorrente da beleza de uma celebridade de espírito criativo e intenso, nesta reverência familiar para uma diva dedicada exclusivamente ao cinema como elementos de amor e paixão pela vida, e, pelo que fez, que se fundem como uma simbiose. Um filme sobre a trajetória de viver marcada por ensinamentos reflexivos e existenciais nada convencionais num passeio pela história do cinema e seu fascínio, como uma aula acoplada para os apreciadores mais devotados.

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