Júbilo ao Cinema
O diretor brasiliense Iberê Carvalho estreia em
longa-metragem com este premiado O Último
Cine Drive-In, uma comovente homenagem aos cinéfilos, através de um enredo
simples e eficiente, com ternura e desenvoltura, tanto para os olhos como para
a alma dos espectadores. A beleza está justamente na simplicidade e no objetivo
a ser alcançado, ou seja: o amor ao cinema. Chega ao circuito comercial
precedido de quatro Kikitos no último Festival de Gramado: melhor filme pelo
júri da crítica, melhor ator (Breno Nina), atriz coadjuvante (Fernanda Rocha-
também premiada no Festival do Rio) e direção de arte; foi laureado como melhor
filme no Festival de Punta del Este, no Uruguai e no Festival das Américas, no
Texas, EUA; além de ser escolhido para a Seleção Oficial do Festival de
Chicago, nos EUA.
A trama traz como protagonista Marlonbrando (grafado assim
mesmo, interpretado pelo estreante B. Nina), um jovem que vive em Anápolis, mas
que vai para Brasília, sua cidade natal, para acompanhar Fátima (Rita Assemany),
a mãe em estado terminal de câncer, que está internada em um hospital com suas
burocracias exageradas para visitação dos parentes, além do descalabro de suas
acomodações de leitos precários. Sem ter onde ficar na cidade, ele acaba
procurando pelo pai, Almeida (Othon Bastos), proprietário há 37 anos do pouco assíduo
e último Cine Drive-in no país, que insiste em manter vivo o cinema, mesmo não
atraindo mais espectadores como na década de 70. Para isso, conta com a ajuda
de apenas dois funcionários: Paula (F. Rocha- estava realmente grávida nas
filmagens do marido e diretor), que é responsável pela projeção e dos serviços
de cozinha, e José (Chico Sant'anna), um velho amigo da família, que ajuda a
vender ingressos no caixa, cuida da limpeza e da segurança do local. Com a
ameaça de demolição do prédio e o agravamento da doença de Fátima, pai e filho discutem
um passado de ausência paterna, se alfinetam e colocam em xeque uma relação
dolorida, mas terão que juntar forças para se unir e tentar reviver os anos de
glórias do estacionamento lotado de carros por frequentadores vorazes de sonhos
imaginários.
Apaixonado pelo que faz, Almeida é uma espécie de um
desbravador sobrevivente que luta para manter sua casa de espetáculo num mundo
em que o cinema de shopping, o 3D, o IMAX e o digital predominam nos dias atuais
pelo conforto, segurança e a evolução. Reluta em entregar seu espaço, mas sabe
que a utopia pode acabar e começa a esmorecer. A presença do filho mudará a
rotina da mesmice e do pessimismo ali instalados. Toma pé da situação, mantém
um bom relacionamento com os funcionários, embora conflitado com a jovem Paula,
por ficar com seu quarto, logo aparará as arestas por um grande causa. Um filme
que possui momentos marcantes na essência, que variam do drama para a comédia,
do road movie para a fábula adulta
primorosa, como da fantasia no epílogo de imagens coloridas e de esperanças.
O Último Cine Drive-In
não tem o glamour do festejado melodrama Cinema Paradiso (1988), de Giuseppe Tornatore, homenageado com um
cartaz, em que ambos prestam declarações de grande júbilo ao cinema. Há ainda
no local um pôster do clássico O Poderoso
Chefão (1972), latões de películas e projetores antigos como herança de uma
época. Mescla humor com drama, com o auxílio de uma boa trilha sonora, num tom
bem equilibrado de uma narrativa correta dentro de um enxuto roteiro, mostrando
a decadência das velhas projeções românticas, em que se assistiam filmes de
dentro dos automóveis. Sem ser piegas e afastando-se do maniqueísmo, não se
deixa envolver pelo emocional na sua estrutura dramática, com elipses
adequadas, um bonito cenário da Capital brasileira como símbolo de um passado
de reminiscências.
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