Solidão e Morte
Baseado em fatos reais, Foxcatcher-
Uma História que Chocou o Mundo recria uma história verdadeira e instigante
pelas mãos do compenetrado diretor Bennet Miller, meticuloso no formato e no
escândalo ocorrido, embora não tão chocante como repercussão na esfera mundial,
como retrata o infeliz subtítulo brasileiro. O cineasta já havia recriado
situações análogas em dois títulos badalados na sua carreira como Capote (2005) e O Homem que Mudou o Jogo (2011). Em ambos há uma verossimilhança
próxima da realidade e do que contam os livros, tendo em vista que o cineasta
não é afeito a criar alternativas ficcionais que refogem da versão literária.
Para parte da crítica é mérito, para outra seria acomodação.
Mas importa mesmo é que o longa é uma realização magnífica
pela atmosfera marcante e bem elaborada no tom certo da dramaticidade
contada com eficiência, secundada pela ótima trilha sonora e a estonteante
fotografia de interiores e exteriores. É criado um cenário hostil e duro na
bela fazenda do milionário egocêntrico John du Pont (Steve Carell- estupenda
atuação e digna de abocanhar o Oscar de melhor ator) que aos poucos vai
passando para a plateia sua distância e ausência de amor, carinho e vínculo de
proximidade com a mãe (Vanessa Redgrave), uma adoradora de cavalos puro-sangue,
tudo para ela são os equinos, na fria e distante relação com o filho que se
acha escritor, filatelista, ornitólogo e treinador. Na verdade não é nada do
que pensa, é apenas um sujeito com evidências claras de patologia doentia pelo
estrelato, decorrente de um vazio na sua vida silenciosa e sem graça, embora
ricaço.
O diretor enfatiza um protagonista, que passa de um simples
observador de pássaros para a construção de um moderno centro de treinamento de
esportes para as lutas greco-romanas nas suas fazendas, na Pensilvânia, visando
a medalha de ouro nas Olimpíadas de Seul, em 19888. Para isto foi em busca da
contratação do campeão olímpico desta categoria em Los Angeles , Mark
Schultz (Channing Tatum), que sempre treinou e foi orientado pelo competente irmão
mais velho, um pai para ele, David (Mark Ruffalo), considerado uma lenda como
treinador e liderança. Primeiro traz o atleta para sua mansão e destina-lhe uma
acomodação digna de um grande campeão que passa a ser um integrante da poderosa
equipe de Foxcatcher. Atraído pelo excelente salário e as condições de vida
oferecidas, bem como as promessas de aprimoramento físico, o caçula Mark imagina
e foca na nova premiação pretendida por ele e pelo seu empresário, que aos
poucos se tornam amigos numa viagem apoteótica narcisista. Nem tudo são flores
e confetes, logo o campeão olímpico se envolve em drogas e bebidas, seu
relacionamento com du Pont torna-se insuportável, diante da personalidade
excêntrica do esquisito herdeiro do complexo industrial.
Com a vinda posterior de David, após as coisas se
complicarem e a olimpíada cada vez mais próxima, a dupla terá dissabores
trágicos por parte do herdeiro patrocinador enlouquecido por medalhas e sua
proximidade com o poder, com facilidades bem claras de entrada de armamento na
sua residência. Tudo em nome de um patriotismo doentio bem explorado por Miller,
no qual eleva o filme para uma esfera superior e distante de patriotadas
imbecis ocorridas em realizações comprometidas, entre elas Argo (2012), com o heroísmo desbragado americano insuflado pela
paixão nacionalista sem limites, numa louvação de enaltecimento desproporcional,
pela direção de Ben Affleck; ou pela forma romântica e patriótica para agradar
os norte-americanos e os velhinhos da Academia em Lincoln (2012), de Steven Spielberg.
Premiado no Festival de Cannes como melhor diretor, Miller
também foi indicado para concorrer ao Oscar, bem como a roteiro original, ator
(Carell), ator coadjuvante (Rufallo), e maquiagem. Injustificáveis as
ausências, porém, não ser listado para melhor filme e ator coadjuvante (Tatum).
Um filme digno de elogios e referências maiúsculas pela sua complexidade e
decorrências edipianas, simbolizadas por uma relação que sugere um erotismo
abafado e com ilações que vão para uma imaginária sensação de castração do
prazer, que se reflete na mãe e seus apreciáveis amores equinos que contrapõe
com o filho a obsessão pelo esporte de luta-livre, deixando transparecer uma
sexualidade implícita com seus pupilos.
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