Paixão Virtual
O filme Ela é
ambientado numa Los Angeles do futuro, com um cenário predominantemente com
cenas em tom avermelhado, tendo na figura masculina um vestuário de calças com
cintura alta e reta. Ganhador do Globo de Ouro como melhor roteiro, foi
indicado em cinco categorias ao Oscar deste ano: melhor filme, roteiro
original, trilha sonora, canção (The Moon Song) e desenho de produção. A
direção e o roteiro são de Spike Jonze, o mesmo do badalado Quero ser John Malkovich (1999) e dos
menos cotados Adaptação (2002) e Onde Vivem os Monstros (2009).
O drama retrata o solitário Theodore (Joaquin Phoenix- em
grande performance numa atuação irrepreensível), que acaba se apaixonando pela
voz de uma mulher de um sistema operacional de comnputador (Scarlett Johansson- dubla a
personagem invisível Samantha), dando início a uma inverossímil relação amorosa
entre o homem contemporâneo e a tecnologia. O longa parte da inusitada aventura
virtual do protagonista com uma suposta namorada criada por um sistema
operacional de software, levando à loucura aquele escritor de cartas de amor, que
dita mensagens sensuais e românticas, sendo o responsável pela empresa Lindas
Cartas Manuscritas. Seu passatempo é ver filmes pornográficos e jogar games,
estando sempre conectado no mundo cibernético. Vem do rompimento com a esposa
Catherine (Rooney Mara) que o acusa, quando assinam o divórcio, de ser “uma
pessoa sem condições de enfrentar as emoções reais”, indo ao encontro da
apática relação entre eles, muito mal resolvida, especialmente por Theodore,
que resiste em não cortar o vínculo definitivamente.
Jonze retrata com sutileza a solidão humana no tema da
incomunicabilidade e por consequência o fantasioso namoro virtual, com a
entrega de corpo e alma do escritor para sua paixão abstrata, numa obsessiva
cobrança e dependência psicológica e física para estar on-line permanente,
causando transtornos quando a voz desaparece e não consegue conectar-se para
interagir. Tudo então vai mal e sua vida apresenta terríveis dissabores, ao
perceber que a namorada perfeita idealizada está off-line, num processo
desgastante e demolidor da ausência. A abordagem tem profundidade no vazio
existencial do protagonista, diante da inibição e do distanciamento da
realidade aterradora pelo fracasso com duas mulheres reais: a ex-esposa e a
garota de encontros (Olívia Wilde). Na mesma esteira de isolamento e de romance
desfeito, o cineasta coloca a melhor amiga Amy (Amy Adams- vista recentemente
em Trapaça) que perde o marido e
também se envolve com contato fabricado no computador.
O filme é uma ciranda de encontros e confissões entre os
dois personagens ao mostrar os tempos cibernéticos frios e as loucuras advindas
de cabeças perturbadas pela falta de limites de hiperconectados. Há um mergulho
na alma dos dois, como um desbloqueio dos sentimentos e do futuro que é visto
como um aceno de socorro. Catherine era uma companheira que passou e não tem
mais chances de retorno; já a perturbação mental pela inexistente Samantha é
visceral e dizima a lucidez de Theodore, quando este descobre que ela se
relaciona com mais de 600 outros homens iguais a ele. Fica amassado e reduzido
a nada, ao receber a notícia arrasadora e bombástica daquela voz perturbadora,
com quem conversa e faz sexo todas as noites em seus devaneios.
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