Triângulo Amoroso
A cineasta francesa Marion Vernoux tem uma carreira pontuada
por boas realizações, entre elas Ninguém
me Ama (1994), Um Dia de Rainha
(2001), A Boire (2004). Porém, se
firmou mesmo foi com a comovente comédia dramática Instituto de Beleza Vênus (1998), em que retrata além dos
conselhos e tratamentos de beleza oferecidos, também o local onde mulheres e
homens podem conversar e desabafar sobre seus problemas pessoais. Angèle não
acredita mais no amor e a jovem Marie está descobrindo este sentimento com um
senhor de 60 anos. São mulheres em busca da realização, felicidade e amor.
Venceu quatro Césars: Melhor Filme, Direção, Roteiro e Atriz Revelação com Audrey
Tautou.
Baseado no romance de Fanny Chesnel Une Jeune fille aux cheveux blancs (Uma garotinha de cabelos
brancos), Vernoux adaptou para o cinema o drama romântico Os Belos Dias, sobre a vida da dentista sessentona Caroline (Fanny
Andant) que se aposentou do consultório em que trabalhava com o marido Philippe
(Patrick Chesnais). É aconselhada pelas duas filhas adultas a procurar uma
atividade lúdica para não entrar em depressão, por ter se afastado da atividade
profissional e ainda acabara de falecer sua melhor amiga.
A diretora centra o filme em Caroline e seu tédio decorrente
de um casamento desgastado e dando mostras de um iminente rompimento. Ao
receber das filhas a matrícula no clube Les
Beaux Jours, que dá literalmente o nome ao título do longa, vai em busca
não só do resgate do prazer de viver, mas de entretenimento nas aulas de informática,
artesanato, teatro e terapia de grupo. Logo se vê atraída pelo instrutor de
computação Julien (Laurent Lafitte), um rapaz de 35 anos, com fama de sedutor e
que estraçalha corações de mulheres sempre mais velhas do que ele.
Ao se formar o clássico triângulo amoroso, o filme entra em
compasso de desaceleração, ao invés de andar com mais vigor. A protagonista é
mostrada se realizando sexualmente, redescobrindo a alegria e obtendo a tão
almejada felicidade pela liberdade transitória, como num manifesto de
autoajuda. Do clube da terceira idade, o que traz de positivo na realidade para
a vida pacata e sem graça da sexagenária é o romance proibido e intenso com o
instrutor mulherengo e que não quer nada de muito sério com ninguém. Embora haja
algumas complicações no relacionamento, com a descoberta pelo marido traído e a
repentina saída momentânea do lar, porém o que quer mesmo é tentar recuperar o
casamento por outros meios de persuasão. Sobra um lirismo inócuo e à beira da
singeleza e sem maiores cobranças do casal, tudo muito simplório e
desproporcional.
Os Belos Dias é um
painel burocrático de uma paixão de uma mulher veterana por um rapaz 25 nos
mais jovem, com uma bela trilha sonora e uma fotografia cativante, num roteiro
pouco inspirado e com um olhar feminista engajado, sem maiores pretensões para uma
análise reflexiva. Não chega a ser daqueles melodramas desprezíveis, pois tem
no seu desígnio a busca constante da liberdade, embora sem a contundência do
instigante Álbum de Família (2013),
de John Wells, onde as filhas entram em choque com a mãe de língua ferina, após
o pai ter ido embora por não suportar mais a intolerância e com os vínculos
rompidos com a mulher enferma, além do uso contumaz de remédios dopantes.
Vernoux direciona sua protagonista para o amor e a traição, também através das
filhas que, neste caso, lhe indicam o clube para os descobrimentos da vida; já
Wells tem no conflito instalado seu ponto forte, deixando que os segredos
familiares venham à tona como fragmentos jogados para todos os lados,
transformando o cenário num clima de lavanderia aquela comédia com sabor
amargo.
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