sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Os Belos Dias


Triângulo Amoroso

A cineasta francesa Marion Vernoux tem uma carreira pontuada por boas realizações, entre elas Ninguém me Ama (1994), Um Dia de Rainha (2001), A Boire (2004). Porém, se firmou mesmo foi com a comovente comédia dramática Instituto de Beleza Vênus (1998), em que retrata além dos conselhos e tratamentos de beleza oferecidos, também o local onde mulheres e homens podem conversar e desabafar sobre seus problemas pessoais. Angèle não acredita mais no amor e a jovem Marie está descobrindo este sentimento com um senhor de 60 anos. São mulheres em busca da realização, felicidade e amor. Venceu quatro Césars: Melhor Filme, Direção, Roteiro e Atriz Revelação com Audrey Tautou.

Baseado no romance de Fanny Chesnel Une Jeune fille aux cheveux blancs (Uma garotinha de cabelos brancos), Vernoux adaptou para o cinema o drama romântico Os Belos Dias, sobre a vida da dentista sessentona Caroline (Fanny Andant) que se aposentou do consultório em que trabalhava com o marido Philippe (Patrick Chesnais). É aconselhada pelas duas filhas adultas a procurar uma atividade lúdica para não entrar em depressão, por ter se afastado da atividade profissional e ainda acabara de falecer sua melhor amiga.

A diretora centra o filme em Caroline e seu tédio decorrente de um casamento desgastado e dando mostras de um iminente rompimento. Ao receber das filhas a matrícula no clube Les Beaux Jours, que dá literalmente o nome ao título do longa, vai em busca não só do resgate do prazer de viver, mas de entretenimento nas aulas de informática, artesanato, teatro e terapia de grupo. Logo se vê atraída pelo instrutor de computação Julien (Laurent Lafitte), um rapaz de 35 anos, com fama de sedutor e que estraçalha corações de mulheres sempre mais velhas do que ele.

Ao se formar o clássico triângulo amoroso, o filme entra em compasso de desaceleração, ao invés de andar com mais vigor. A protagonista é mostrada se realizando sexualmente, redescobrindo a alegria e obtendo a tão almejada felicidade pela liberdade transitória, como num manifesto de autoajuda. Do clube da terceira idade, o que traz de positivo na realidade para a vida pacata e sem graça da sexagenária é o romance proibido e intenso com o instrutor mulherengo e que não quer nada de muito sério com ninguém. Embora haja algumas complicações no relacionamento, com a descoberta pelo marido traído e a repentina saída momentânea do lar, porém o que quer mesmo é tentar recuperar o casamento por outros meios de persuasão. Sobra um lirismo inócuo e à beira da singeleza e sem maiores cobranças do casal, tudo muito simplório e desproporcional.

Os Belos Dias é um painel burocrático de uma paixão de uma mulher veterana por um rapaz 25 nos mais jovem, com uma bela trilha sonora e uma fotografia cativante, num roteiro pouco inspirado e com um olhar feminista engajado, sem maiores pretensões para uma análise reflexiva. Não chega a ser daqueles melodramas desprezíveis, pois tem no seu desígnio a busca constante da liberdade, embora sem a contundência do instigante Álbum de Família (2013), de John Wells, onde as filhas entram em choque com a mãe de língua ferina, após o pai ter ido embora por não suportar mais a intolerância e com os vínculos rompidos com a mulher enferma, além do uso contumaz de remédios dopantes. Vernoux direciona sua protagonista para o amor e a traição, também através das filhas que, neste caso, lhe indicam o clube para os descobrimentos da vida; já Wells tem no conflito instalado seu ponto forte, deixando que os segredos familiares venham à tona como fragmentos jogados para todos os lados, transformando o cenário num clima de lavanderia aquela comédia com sabor amargo.

O romance tem como ingredientes as reações simplistas da traição, tanto pelo ângulo do marido como pelas filhas, embora a diretora conduza com algum distanciamento a história já bem batida do triângulo e a desproporção de idades, não chega emocionar e sequer se aprofunda no tema, deixando como resultado uma proposta rasa e quase descartável, não fosse a presença de Fanny Ardant que vale o ingresso, em grande forma, esbanja talento e sobra uma exuberante beleza. Sempre em grande estilo, como no fabuloso A Mulher do Lado (1981), de François Truffaut; ou no espetacular O Jantar (1998), de Ettore Scola, com atuações marcantes e inesquecíveis de uma grande estrela.

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