A produção pernambucana Tatuagem
(2013), de Hilton Lacerda, foi o grande vencedor do Festival de Gramado deste
ano, por melhor filme, ator e trilha sonora. Pernambuco está num grande momento
atualmente no cinema, tendo produzido Árido
Movie (2005), de Lírio Ferreira; Cinema, Aspirinas e Urubus (2005) e Era uma Vez Eu, Verônica (2012), ambos de Marcelo Gomes; Baixio das Bestas (2006) e Febre do Rato (2011), todos de Cláudio
Assis; além do badalado O Som ao Redor (2012),
do ex-crítico de cinema e diretor Kleber Mendonça Filho, que lhe rendeu o prêmio
da Crítica no Festival de Roterdã, na Holanda, o Kikito em Gramado de melhor
direção de 2012 e o título de melhor filme no Festival do Rio.
Vem deste Estado que mais produz cinema nos dias atuais o
filme Na Quadrada das Águas Perdidas, dos
diretores estreantes Wagner Miranda e Marcos Carvalho, uma produção de 2011 que
recebeu mais de 15 prêmios no Brasil e Exterior, com o título retirado de um
disco de Eleomar Figueira de Melo, de 1978, traz uma reflexão sobre a solidão
no árido Sertão nordestino. Com um único ator na história, num longa sem
diálogos, captando apenas os sons da mata e dos animais de Olegário, vivido
esplendidamente o monólogo por Matheus Nachtergaele, num desempenho impecável.
A trama é um misto de drama com aventura, mas prepondera
mesmo é o tom documental para salientar ternura nas agruras da saga do protagonista
que abandona sua choupana de barro coberta de palha. Embrenha-se na Caatinga
dentro de uma destroçada carroça puxada por um jegue esquálido; dois bodes
subnutridos que pretende trocar por mantimentos, mas com o imprevisto na sua
andança, resta apenas um; e o cachorro vira-lata como seu fiel escudeiro; além
da figura invasiva acompanhada de maus agouros, está sempre presente o
indesejado urubu e seu olhar de carniceiro, como se fosse uma assombração
espreitando a próxima vítima. Há ainda outras perdas pelo caminho e a caravana
da miséria vai aos poucos se deteriorando para o sertanejo.
Um filme sobre a solidão e a forma de manter-se vivo no
interior daquele lugar inóspito, numa metáfora sobre a sobrevivência que vai
surgindo e levando nosso anti-herói para seu objetivo inicial de buscar
iguarias básicas para alimentar-se. Bebe água das folhas de cactos, come caça,
mel da mata, folhas e o que aparecer para o sustento, onde o exotismo de alguns
animais selvagens contrastam com os dóceis acompanhantes do indivíduo
sobrevivente, numa bonita fotografia e com o embalo da bonita trilha sonora assinada
pelo Grupo Matingueiros, Geraldo Azevedo e Eleomar Figueira de Melo na
trajetória de Olegário pelo Sertão desprovido de vida na sua essência, exceto o
reino animal que se reproduz e encanta pela sua natureza pródiga.
Na Quadrada das Águas
Perdidas é rodado num cenário tipicamente rural, longe da civilização
urbana, como se fosse uma homenagem aos filmes de Glauber Rocha e seu inventivo
cinema sobre a seca e a aridez das caatingas e a morte dos animais por falta de
água. A odisseia de um homem solitário que não se cansa da vida e suas
dificuldades apresentadas, que sonha em ser rei, se vê montado num cavalo
reluzente e altaneiro.
Não há necessidade da fala, pois os devaneios das noites mal dormidas em qualquer canto lhe dão esperança em se manter vivo. Um bravo homem e sua luta com uma garra impressionante, quando solta gritos como silvos de serventes em forma de protesto dentro de uma fauna e flora que lhe são intimas. São sustentadas por imagens desprovidas de uma linguagem convencional, nesta apreciável obra de reflexão do processo evolutivo, no espaço e no tempo, vista com sensibilidade sensorial, num drama que reflete a preocupação do cinema autoral e fundamentalmente um filme silencioso que capta os barulhos externos.
Não há necessidade da fala, pois os devaneios das noites mal dormidas em qualquer canto lhe dão esperança em se manter vivo. Um bravo homem e sua luta com uma garra impressionante, quando solta gritos como silvos de serventes em forma de protesto dentro de uma fauna e flora que lhe são intimas. São sustentadas por imagens desprovidas de uma linguagem convencional, nesta apreciável obra de reflexão do processo evolutivo, no espaço e no tempo, vista com sensibilidade sensorial, num drama que reflete a preocupação do cinema autoral e fundamentalmente um filme silencioso que capta os barulhos externos.
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