segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Eu, Anna



Relação Misteriosa

Vem do estreante cineasta inglês Barnaby Southcombe o suspense Eu, Anna, rodado em Londres, com toques e reviravoltas ao estilo consagrado do mestre Alfred Hitchcock. Deixa o espectador confuso das ideias e muitas vezes se vê conduzido para uma solução aparentemente simples, porém logo é revista e o envolvimento é superado por outra hipótese ainda mais imaginária. Há méritos em torno da expectativa criada ao suposto acusado e as mudanças da trama sugerem um tom investigativo de dados de confiabilidade duvidosa como nos bons policiais.

A história do filme é complexa, gira e dá boas guinadas no roteiro, mas já no prólogo apresenta um casal que se cruza e troca olhares lânguidos num elevador. Os personagens vivem situações bem diversas em suas andanças antagônicas. O inspetor-chefe Bernie (Gabriel Byrne- de convincente interpretação) investiga um crime misterioso e de difícil solução, tendo em vista que a vítima é poderosa e pode estar ligada à rede de tráfico e com muitas pessoas dentro de um esquema forte de distribuição de drogas. Tenta desvendar o enigma, embora exista um forte suspeito do assassinato, há dissimulações no roteiro que causam dúvidas. E não falta o surrado interrogatório policial com acusações, revides e juras de vingança.

Do outro lado da trama está Anna (Charlotte Rampling- de atuação marcante e de notável performance física e dramática), no papel de uma vendedora de uma loja de móveis, com mais de 50 anos, bonita, charmosa e divorciada.Mora com a filha e a neta num apartamento de classe média. Seu passatempo é frequentar um clube de solteiros, com a esperança de refazer sua vida mergulhada numa imensa solidão e com um trauma do passado que lhe atormenta e corrói seus pensamentos com um instigante sentimento de culpa. Os fantasmas da mulher são decorrentes de uma situação inusitada de um destes encontros fortuitos e sem vínculo emocional afetivo, com consequências trágicas do acaso.

Do encontro inusual de Anna e Bernie com algumas saídas, logo cresce e atinge um amadurecimento dentro de uma relação afetiva e romântica, com telefonemas e suspiros próprios de dois adolescentes. A investigação fica prejudicada e o clima de tensão evolui com as descobertas e revelações bem hitchcockianas, num filme com boa construção e o suspense num contexto de emoção contida e acertada, sem se afastar do ponto certo de um equilíbrio mesurado. A trilha sonora é adequada e não chega a interferir no clímax exato do desenrolar da trama. Porém é difícil imaginar o filme sem Charlotte e sua atuação esplendorosa, uma diva ao melhor estilo do bom cinema, que emociona ao falar com os olhos e dá o ritmo positivo com seu andar de estrela.

Eu, Anna surpreende pelo conjunto da produção equilibrada deste diretor novato, mas que deixa um indicativo de ser promissor, num filme bom e bem realizado, com surpresas sem exageros ou excessos, eficiente por contagiar o espectador, deixando aflorar sutilmente as circunstâncias que poderão ser reveladas, em face da abordagem com domínio amplo sobre o que demonstra.

Eis um longa-metragem de suspense policial mesclado com um drama existencial, que faz refletir sobre a culpa e o passado, diante da iminência da perda do domínio do poder. São retratadas nas cenas que mergulham em situações complexas do envolvimento dos protagonistas pelo esvaimento da lucidez e com uma suposta ausência de imparcialidade na investigação. O abalo emocional destrói a razão que é jogada num plano secundário.

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