Vem do estreante cineasta inglês Barnaby Southcombe o
suspense Eu, Anna, rodado em Londres,
com toques e reviravoltas ao estilo consagrado do mestre Alfred Hitchcock.
Deixa o espectador confuso das ideias e muitas vezes se vê conduzido para uma
solução aparentemente simples, porém logo é revista e o envolvimento é superado
por outra hipótese ainda mais imaginária. Há méritos em torno da expectativa
criada ao suposto acusado e as mudanças da trama sugerem um tom investigativo de
dados de confiabilidade duvidosa como nos bons policiais.
A história do filme é complexa, gira e dá boas guinadas no
roteiro, mas já no prólogo apresenta um casal que se cruza e troca olhares
lânguidos num elevador. Os personagens vivem situações bem diversas em suas
andanças antagônicas. O inspetor-chefe Bernie (Gabriel Byrne- de convincente
interpretação) investiga um crime misterioso e de difícil solução, tendo em vista que a vítima é poderosa e pode estar ligada à rede de tráfico e com
muitas pessoas dentro de um esquema forte de distribuição de drogas. Tenta desvendar
o enigma, embora exista um forte suspeito do assassinato, há dissimulações no
roteiro que causam dúvidas. E não falta o surrado interrogatório policial com
acusações, revides e juras de vingança.
Do outro lado da trama está Anna (Charlotte Rampling- de
atuação marcante e de notável performance física e dramática), no papel de uma
vendedora de uma loja de móveis, com mais de 50 anos, bonita, charmosa e
divorciada.Mora com a filha e a neta num apartamento de classe média. Seu passatempo
é frequentar um clube de solteiros, com a esperança de refazer sua vida
mergulhada numa imensa solidão e com um trauma do passado que lhe atormenta e
corrói seus pensamentos com um instigante sentimento de culpa. Os fantasmas da
mulher são decorrentes de uma situação inusitada de um destes encontros
fortuitos e sem vínculo emocional afetivo, com consequências trágicas do acaso.
Do encontro inusual de Anna e Bernie com algumas saídas,
logo cresce e atinge um amadurecimento dentro de uma relação afetiva e
romântica, com telefonemas e suspiros próprios de dois adolescentes. A
investigação fica prejudicada e o clima de tensão evolui com as descobertas e
revelações bem hitchcockianas, num filme com boa construção e o suspense num
contexto de emoção contida e acertada, sem se afastar do ponto certo de um equilíbrio
mesurado. A trilha sonora é adequada e não chega a interferir no clímax exato
do desenrolar da trama. Porém é difícil imaginar o filme sem Charlotte e sua atuação esplendorosa, uma diva ao melhor estilo do bom cinema, que emociona ao
falar com os olhos e dá o ritmo positivo com seu andar de estrela.
Eu, Anna surpreende pelo conjunto da produção equilibrada deste diretor novato, mas que
deixa um indicativo de ser promissor, num filme bom e bem realizado, com
surpresas sem exageros ou excessos, eficiente por contagiar o espectador,
deixando aflorar sutilmente as circunstâncias que poderão ser reveladas, em
face da abordagem com domínio amplo sobre o que demonstra.
Eis um longa-metragem de suspense policial mesclado com um
drama existencial, que faz refletir sobre a culpa e o passado, diante da
iminência da perda do domínio do poder. São retratadas nas cenas que mergulham
em situações complexas do envolvimento dos protagonistas pelo esvaimento da
lucidez e com uma suposta ausência de imparcialidade na investigação. O abalo
emocional destrói a razão que é jogada num plano secundário.
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