Em seu último longa-metragem Francis Ha, Noah Baubach dirige e é coautor do roteiro com a sua
atual namorada, a promissora atriz Greta Gerwig, que surgiu com força pelas
mãos de Woody Allen, em Para Roma, com
Amor (2012). O cineasta ficou conhecido pelas comédias dramáticas A Lula e a Baleia (2005), indicado ao
Oscar na época pelo roteiro original, e O
Casamento de Margot (2007), um gênero que desenvolve com classe e retorna
novamente em ótimo estilo. Tem na protagonista que dá nome ao filme a
interpretação irretocável e soberba de Greta no papel de uma jovem de 27 anos,
moradora de um subúrbio de Nova Iorque que sonha em ser bailarina profissional,
uma meta difícil pela sua idade já considerada avançada para uma aluna de uma
companhia, tendo em vista que ainda não desabrochou e sequer teve o
reconhecimento esperado pela professora coreógrafa.
A trajetória gira em torno do dia a dia de Frances, que mora
praticamente de favores de amigos, por não ter imóvel, numa vida ainda sem uma
definição profissional, embora tenha uma meta na cabeça dentro de um sonho
juvenil na busca do sucesso, num devaneio típico de quem busca alcançar um
objetivo quase que impossível. Tem na melhor amiga Sophie (Mickey Summer) a
pessoa ideal para ouvir seus lamentos e frustrações decorrentes dos conflitos
do cotidiano, ou ainda estar presente nos momentos de alegria intensa quase
rara, ou na maioria das vezes nas tristezas que se revelam com o passar do
tempo, advindos de fracassos pela ambição brecada e sem evolução. Há uma
tonalidade melancólica e até um pessimismo na trama, embora sem excessos
melodramáticos que são bem contidos com vigor de equilíbrio elogiável.
Um filme apreciável e surpreendente pela qualidade de um
resultado com autonomia pela busca da dignidade e da delicadeza da personagem
em seu conteúdo que retrata a redenção das desventuras e uma afetividade sutil
de uma jovem perdida, que encontra um mundo adverso do idealizado. E o diretor
acerta em cheio ao filmar em preto e branco nesta tendência de obras recentes
como Branca de Neve (2012), do
espanhol Pablo Berger; ou no oscarizado O
Artista (2011), do francês Michel Hazanavicius; e ainda no fabuloso Tabu
(2012), do português Miguel Gomes. Há o realismo cênico marcante de origem na
escola francesa nouvelle vague e o
seguimento magnífico difundido por Woody Allen, como no notável Manhatann (1979), quando um escritor
divorciado é constrangido pela ex-mulher que decide viver com uma amiga e
publicar um livro, no qual revela assuntos particulares do relacionamento
deles.
Os diversos locais que passou a protagonista vão encaixando-se
na comédia. Começa no bairro Tribeca de Nova Iorque e chega a Paris, um sonho que
traz desde criança, bem como na expectativa de conhecer Tóquio, por onde passou
Sophie e o amado. Há um lirismo bem dosado e com uma trilha sonora fascinante
de Georges Delerue e especialmente a canção Modern
Love, de David Bowie, que também esteve presente no longa Sangue Ruim (1986), de Leon Carax, num
tributo ao cineasta francês. Deixa de certa forma a comédia mais leve, menos
densa e coloca o espectador dentro da história como um parceiro do drama
pessoal da aspirante ao profissionalismo e sua obstinação pela dança e o sonho
do estrelato.
Frances Ha é uma
comédia de linguagem simples, mas eficiente e que tem os ingredientes
necessários para torná-la dramática e não frustrar os cinéfilos mais
ambiciosos. Um filme sobre os sonhos a serem realizados e a amizade de duas
mulheres, onde a protagonista revela toda sua fraqueza psicológica e, ao mesmo
tempo, cresce em outras cenas, como nas peripécias solitárias pelo mundo. Uma
instigante realização deste cineasta que se firma no cenário internacional como
um diretor autoral, que demonstra intimidade com a câmera e possibilita um
elenco leve, deixando o filme fluir através da espontaneidade dos atores. Lança
um olhar para o mundo globalizado que cada vez mais tem menos espaço para a
juventude, embora não tão pessimista, ao deixar metaforicamente na revelação do
nome de Frances uma saída, como se estivesse abrindo uma janela para o futuro.
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