terça-feira, 3 de setembro de 2013

Frances Ha















A Bailarina

Em seu último longa-metragem Francis Ha, Noah Baubach dirige e é coautor do roteiro com a sua atual namorada, a promissora atriz Greta Gerwig, que surgiu com força pelas mãos de Woody Allen, em Para Roma, com Amor (2012). O cineasta ficou conhecido pelas comédias dramáticas A Lula e a Baleia (2005), indicado ao Oscar na época pelo roteiro original, e O Casamento de Margot (2007), um gênero que desenvolve com classe e retorna novamente em ótimo estilo. Tem na protagonista que dá nome ao filme a interpretação irretocável e soberba de Greta no papel de uma jovem de 27 anos, moradora de um subúrbio de Nova Iorque que sonha em ser bailarina profissional, uma meta difícil pela sua idade já considerada avançada para uma aluna de uma companhia, tendo em vista que ainda não desabrochou e sequer teve o reconhecimento esperado pela professora coreógrafa.

A trajetória gira em torno do dia a dia de Frances, que mora praticamente de favores de amigos, por não ter imóvel, numa vida ainda sem uma definição profissional, embora tenha uma meta na cabeça dentro de um sonho juvenil na busca do sucesso, num devaneio típico de quem busca alcançar um objetivo quase que impossível. Tem na melhor amiga Sophie (Mickey Summer) a pessoa ideal para ouvir seus lamentos e frustrações decorrentes dos conflitos do cotidiano, ou ainda estar presente nos momentos de alegria intensa quase rara, ou na maioria das vezes nas tristezas que se revelam com o passar do tempo, advindos de fracassos pela ambição brecada e sem evolução. Há uma tonalidade melancólica e até um pessimismo na trama, embora sem excessos melodramáticos que são bem contidos com vigor de equilíbrio elogiável.

Um filme apreciável e surpreendente pela qualidade de um resultado com autonomia pela busca da dignidade e da delicadeza da personagem em seu conteúdo que retrata a redenção das desventuras e uma afetividade sutil de uma jovem perdida, que encontra um mundo adverso do idealizado. E o diretor acerta em cheio ao filmar em preto e branco nesta tendência de obras recentes como Branca de Neve (2012), do espanhol Pablo Berger; ou no oscarizado O Artista (2011), do francês Michel Hazanavicius; e ainda no fabuloso Tabu (2012), do português Miguel Gomes. Há o realismo cênico marcante de origem na escola francesa nouvelle vague e o seguimento magnífico difundido por Woody Allen, como no notável Manhatann (1979), quando um escritor divorciado é constrangido pela ex-mulher que decide viver com uma amiga e publicar um livro, no qual revela assuntos particulares do relacionamento deles.

Os diversos locais que passou a protagonista vão encaixando-se na comédia. Começa no bairro Tribeca de Nova Iorque e chega a Paris, um sonho que traz desde criança, bem como na expectativa de conhecer Tóquio, por onde passou Sophie e o amado. Há um lirismo bem dosado e com uma trilha sonora fascinante de Georges Delerue e especialmente a canção Modern Love, de David Bowie, que também esteve presente no longa Sangue Ruim (1986), de Leon Carax, num tributo ao cineasta francês. Deixa de certa forma a comédia mais leve, menos densa e coloca o espectador dentro da história como um parceiro do drama pessoal da aspirante ao profissionalismo e sua obstinação pela dança e o sonho do estrelato.

Frances Ha é uma comédia de linguagem simples, mas eficiente e que tem os ingredientes necessários para torná-la dramática e não frustrar os cinéfilos mais ambiciosos. Um filme sobre os sonhos a serem realizados e a amizade de duas mulheres, onde a protagonista revela toda sua fraqueza psicológica e, ao mesmo tempo, cresce em outras cenas, como nas peripécias solitárias pelo mundo. Uma instigante realização deste cineasta que se firma no cenário internacional como um diretor autoral, que demonstra intimidade com a câmera e possibilita um elenco leve, deixando o filme fluir através da espontaneidade dos atores. Lança um olhar para o mundo globalizado que cada vez mais tem menos espaço para a juventude, embora não tão pessimista, ao deixar metaforicamente na revelação do nome de Frances uma saída, como se estivesse abrindo uma janela para o futuro.

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