O bissexto e ermitão cineasta Terrence Malick tem por
formação a filosofia. Leva uma vida de enclausuramento, não dá entrevistas,
raramente é fotografado e passa anos sem filmar. É perfeccionista em seu
trabalho, roda centenas de negativos e usa seu tempo burilando material para
editar uma obra. Realizou em 2011 o fabuloso A Árvore da Vida, porém desta vez não deixou passar muito tempo
para realizar um novo longa. E este veio em forma de continuidade do filme anterior,
filosofando sobre o amor e as paixões desencontradas, o vazio existencial e a
busca pelo imaginário da completude da vida em Amor Pleno. Se no drama anterior falava sobre a ausência de Deus, interligando
religião com a perda de um dos três filhos, questionando a opressão do pai. Agora
reverte a situação e faz uma verdadeira ode a Cristo pelos ensinamentos do
padre Quintana (Javier Barden- caricato e irreconhecível), um exilado religioso
que luta arduamente com os desígnios da vocação.
A trama é um experimental poema sobre o nada e o tudo, com
interpretações sob a luz natural, numa linda fotografia e um cenário radiante
de flores espalhadas pelos campos, enormes gramados regados por chafarizes numa
cidade interiorana dos EUA, depois de uma breve passagem por Paris e a ponte
dos cadeados dos amantes apaixonados. Neil (Ben Affleck- se raramente atua bem,
agora está pior do que nunca) é um homem infeliz e indeciso em seus romances.
Conhece a francesa Marina (Olga Kurylenko) na Cidade Luz e se casam, mas a
mulher tem como interesse maior obter seu green card para estabelecer-se definitivamente nos Estados Unidos, depois de ser
abandonada pela filha de 10 anos que foi morar com o pai num lugar distante. O
casamento por conveniência traz dissabores e uma degradação iminente na relação
conturbada. Neil reencontra sua ex-namorada Jane (Rachel McAdams) e engata uma
reconciliação com promessas de um relação sólida.
Tanto na forma como no conteúdo de Malick está o empirismo
estético e cansativo de figuras humanas flutuando de um lado para outro, sem se
encontrar com o que querem ou nem sabem o que procuram. Na realidade parecem
zumbis dilacerados num contexto de cores esfuziantes, com a alma em pedaços num
tédio fastidioso que danifica a ideia da continuidade, causando bocejos, diante
do excessivo esvaziamento da proposta. A narrativa peca pela falta de
estrutura, ao usar um artifício perigoso como de não dar seguimento verossímil
aos personagens. Descontextualizado e solto para manejar em off com som, imagem e música, resultando
numa miscelânea desastrosa de montagem e que leva o drama a sucumbir
inapelavelmente.
Amor Pleno está
dissociada e distante das obras–primas do cineasta, tais como: Terra de Ninguém (1973), Cinzas no Paraíso (1978) e Além da Linha Vermelha (1998). Malick é
um artesão na acepção a palavra como poucos, mas que se perdeu pelo abuso
voluntário do excesso nesta obra sequencial, como um segundo filme de uma
trilogia sobre a existência, o sentido da vida e um olhar no futuro da
humanidade. Talvez feche o ciclo e reapareça a arte e o poder de criação num
futuro, deixando para trás esta complexa viagem enfadonha ao infinito.
Eis um drama sensitivo pela estética, mas sem força de
construção de personagens. Mexe no cérebro e com o equilíbrio do espectador na
sua plenitude, para uma reflexão até o fim da existência, sem ter a pretensão
de chegar a algum ponto de vista racional, embora crucial, mas se deixa levar
por pensamentos menores e simplistas, dando luz para um olhar frustrado que
aflora desordenadamente, embora haja o impacto sensorial num presente momentâneo
não consegue trazer reflexões do grande enigma da vida. Sobra ousadia, mas
falta densidade dramática no contexto das cenas que se tornam estéreis por
ausência rítmica de elaboração plausível. São sequências sem diálogos na busca
do indivíduo e sua insignificância no planeta.
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