terça-feira, 20 de agosto de 2013

Bling Ring- A Gangue de Holywood



















Tédio Luxuoso

Com Bling Ring- A Gangue de Holywood, Sofia Coppola novamente se debruça sobre o tédio, tema recorrente da cineasta juntamente com solidão, presentes em todos seus filmes, como visto recentemente em Um Lugar Qualquer (2010), ao realizar um ensaio instigante solidificou-se como uma cineasta voltada para as coisas simples do cotidiano no aspecto genérico, mas ao mesmo tempo tão complexas no abismo que é o sentimento humano e a vida sem sentido. Assim foi também no fabuloso Encontros e Desencontros (2003), com o frenesi das luzes de Tóquio fustigando um casal perdido numa imensa selva de pedra, com a iluminação colorida servindo como um cenário estonteante pelos contrastes de beleza e angústia. A agonia das almas estava estampada em cada rosto ou gesto. Mas em Maria Antonieta (2006), apesar de alguns excessos por histrionismos exagerados, não chegou a comprometer o bom resultado.

Neste seu quinto longa-metragem, a diretora se baseia em fatos reais extraídos da revista Vanity Hair, sobre uma reportagem com o título Os Suspeitos Usavam Louboutins, escrito pela jornalista Nancy Jo Salesb, posteriormente virou um livro, abordando o culto da fama pela sociedade consumista. Aparentemente nada mais banal do que cinco adolescentes reunirem-se para invadir casas em Los Angeles, entre 2008 e 2009, sob a argumentação pífia da obsessão pelas roupas, sapatos, joias, pinturas femininas e carro conversível de artistas famosos fashions, entre os quais Paris Hilton, Megan Fox, Lidsay Lohan, Orlando Bloom.

Coppola usa o artifício do pretexto dos furtos para abordar o tédio de jovens solitários que fumam e cheiram drogas, para depois cometer delitos que vão se avolumando cada vez mais numa ciranda sem fim. Uma reflexão sobre a juventude atual é proposta, como realizada no filme Na Estrada (2012), de Walter Salles, ainda que de outra época, retrata a saga da contracultura dos jovens perdidos no mundo do pós-guerra, deixando nítidos os reflexos violentos do período da Grande Depressão americana de 1929.

O drama norte-americano reconstitui os adolescentes de uma gangue juvenil oriundos de pais ausentes e com problemas de relacionamentos. Saem sufocados de suas residências no subúrbio à procura de aventuras, indo ao encontro da diversão perigosa de invadir suntuosas mansões de celebridades que acarretará em transtornos irreversíveis nas suas vidas pacatas, diante do fato inequívoco da ilegalidade pelos furtos e roubos que se sucedem. A cineasta já havia realizado uma obra similar em As Virgens Suicidas (1999), ao enfocar uma família saudável e próspera que vive num bairro de classe média, composta por um professor e a esposa religiosa, com cinco garotas adolescentes que atraem a atenção dos rapazes da região. Diante do suicídio de uma delas, as relações familiares se fragilizam e se estabelece um confronto para burlar as rígidas regras da mãe.

A cineasta retrata o valor estimativo dos objetos subtraídos e concomitantemente foca o jovem de baixa autoestima, que busca fama e se satisfaz ao conquistar mais de 800 amigos virtuais no Facebook. A banalidade se sobrepõe ao rigor das normas de civilidade que são questionadas e colocadas em xeque por pessoas vazias e sem objetivo de vida que se satisfazem numa diversão ilegal, mas utilizada como protesto na busca da legitimação para os atos juvenis inconsequentes. Porém, o culto ao dinheiro e aos ídolos são retratados linearmente e não chega a ser aprofundado. Há muita perda de tempo em cenas de planos longos de planejamento, para após invadir as casas; bem como desnecessárias e cansativas as sessões de maquiagens e danças incessantes, sem elipses precisas para o corte.

O tédio como vazio existencial de uma solidão nos tempos modernos e virtuais é abordado com razoável complexidade. Falta um mergulho maior na estrutura psicológica dos personagens principais Marc (Israel Broussard) e Rebecca (Katie Chang), pseudônimos de Nick Prugo e Rachel Lee, além das outras garotas interpretadas por Taissa Farmiga, Emma Watson e Claire Julien. Está sem consistência estrutural a tese desenvolvida sobre os ensinamentos do best-seller de autoajuda O Segredo, contrapondo com a desglamourização dos anti-heróis da diretora, ao ser mencionado o clássico Bonnie & Clyde (1967), de Arthur Penn.

Bling Ring- A Gangue de Holywood traz reflexões tênues sobre a existência vazia dos adolescentes, diante da ausência dos pais na educação e na cultura dos filhos, embora rasa a proposta que não avança na montagem, ao deixar o drama enfadonho nos seus dois terços iniciais. As soluções previsíveis ficam para epílogo e já são aguardadas pelo desenrolar da trama sobre as futilidades que se desdobram e resultam na delinquência precoce por falta de limites que leva o indivíduo ao sofrimento maior pelo desconforto da vida.

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