segunda-feira, 25 de março de 2013

O Lado Bom da Vida

















Os Desajustados

Mesmo que indicado a oito Oscar deste ano, O Lado Bom da Vida levou apenas o discutível e imerecido prêmio de melhor atriz para Jennifer Lawrence, de performance discreta, embora atue com bastante entrega no papel da protagonista. O diretor David O Russel se inspirou no romance homônimo do escritor americano Mattew Quick para levar às telas do cinema esta narrativa de um velho clichê, onde um casal de desajustados que se conhece por acaso, e com a troca de favores, sonham com uma realidade próxima, descobrindo durante a trajetória que nasceram um para o outro. Custam para descobrir o que todas as pessoas próximas já perceberam.

Diagnosticado como bipolar por bater no amante da esposa, num flagrante no banheiro de sua casa, Pat Solitano (Bradley Cooper- de bom desempenho e conhecido por estrelar os três longas Se Beber Não Case, de Todd Phillips) é internado num manicômio pelo seu temperamento agressivo e incontrolável em situações difíceis, como na cena do jogo de futebol americano, quando sua fúria aflora e as recomendações médicas são esquecidas literalmente. Ao sair do hospício é acolhidos em casa pelos pais (Robert De Niro e Jacki Weaver) que o ajudam a reconstruir uma nova vida e esquecer o trauma do casamento. De Niro entrega-se com a dedicação de um iniciante de corpo e alma no papel do pai cabeça-dura, jogador inveterado e de pouco referencial ao filho, mas sempre ao seu lado, bem superior ao papéis anteriores. O elenco está harmônico com atuações discretas.

O filme alterna-se em situações tragicômicas e descamba para o final previsível, quando no decorrer da história Pat é recepcionado para um jantar pelo melhor amigo, que lhe apresenta a jovial cunhada viúva Tiffany (Lawrence). Ela também sofre de crises de bipolaridade, sendo conhecida pelos amigos e colegas como uma típica vadia, pois em seus surtos transa com quem vê pela frente. Há uma química entre os dois e uma simbiose entrelaça o casal desafortunado que busca valores na vida e objetivos claros. O rapaz é um ex-professor que tenta recuperar o tempo que esteve internado por oito meses e longe da civilização, especialmente da mulher que o traiu e ainda assim não a esquece; já a viúva coloca concurso de dança que se inscreveu como a redenção para um novo momento em sua vida.

É retratada uma parceria de ajuda mútua através de um plano de cooperação para atingir as metas estabelecidas. Descobrem o prazer de viver racionalmente com atividades produtivas e inerentes de pessoas que querem levantar de tombos fortes e arrasadores que o destino pregou. O óbvio está li entre eles, mas como há situações complexas com enormes feridas abertas, há uma longa demora na cicatrização, o que dificulta cair a ficha dos excluídos, onde mesmo com a previsibilidade iminente do epílogo se desenhando, o diretor segura pela expectativa do concurso de dança de salão, bem comum neste tipo de enredo cômico e trágico da reciprocidade dos personagens. Cada passo e cada criação surgem como construção para o inesperado entre eles, embora não para o espectador atento. A segunda chance da vida está ali flutuando como a coreografia mágica dos passos, conduzida pelo cineasta que tem em sua bagagem o longa O Vencedor (2010), com tema similar e com a mesma forma estética, porém naquele longa sai a dança e entra os socos violentos do boxe para fazer um campeão.

Embora seja superior ao filme que usa os mesmos ingredientes como o Amor é Tudo o que Você Merece (2011), de Susanne Bier, que tinha razoáveis propósitos e resultados previsíveis beirando a autoajuda, O Lado Bom da Vida é uma razoável comédia romântica recauchutada, onde o cineasta aborda no melhor estilo dos filmes românticos de Hollywood, retratando o encontro de duas pessoas problemáticas com dramas pessoais significativos, mas que querem reerguerem-se de traumas do passado.

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