Recomeçar a Vida
A diretora Susanne Bier definitivamente afasta-se do
controvertido movimento Dogma 95,
nascido e propagado na Dinamarca, mas aos poucos está se desvencilhando. Ou
seja, livra-se totalmente como no seu penúltimo longa Em
um Mundo Melhor (2010), notável pela temática abordada
com a profundidade adequada, sem incorrer no discurso barato e vazio, obteve o
prêmio de melhor filme estrangeiro no Oscar de 2011. Agora com sua última
realização Amor é Tudo o que Você Precisa,
assim como no filme anterior, também esta é uma produção mais arrojada e um
custo mais elevado, longe dos princípios norteadores de uma câmara na mão, uma
ideia de um cunho técnico com uma série de restrições quanto ao uso de
tecnologias nos filmes, com regras quanto ao conteúdo das obras e seus
diretores, radicalmente contra a indústria cinematográfica propriamente dita.
O longa retrata a história de duas famílias que o destino
fará que se cruzem por linhas tortas, justamente no casamento dos filhos onde
se encontram para festejar na paradisíaca Costa Amalfitana, no Sul da Itália. É
lá que os noivos Patrick (Sebastian Jessen) e Astrid (Molly Blixt Egelind) pretendem
morar, na suntuosa casa de campo rodeada pela plantação de limões e laranjas,
onde recepcionam os convidados para a grande comemoração marcada para o dia
posterior. O pai ausente do rapaz é o viúvo Philip (Pierce Brosnan- um
galã em decadência) que conhece por acaso a mãe da noiva, Ida (Trine Dyrholm-
de excelente desempenho) que luta contra o câncer e tem obstinação por viver
com o charme de mulher vitoriosa, embora contraditoriamente fora abandonada
pelo marido, que a troca pela jovem sirigaita colega da contabilidade de sua
empresa. Há um constrangimento nos filhos, ao levar sua namorada na cerimônia
matrimonial. Já o pai do noivo é assediado pela cunhada megera que arranja
armadilhas e não o deixa em paz para flertar e lançar seu fascínio sobre a futura
sogra de seu filho que apresenta uma crise de identidade e coloca o futuro com
a noiva em xeque, após descoberta inusitada que mantinha adormecida.
A fotografia é primorosa e deslumbra com uma trilha sonora
encantadora, mas que esbarra no roteiro previsível de Anders Thomas Jensen, que
esteve bem mais inspirado no Em um Mundo Melhor.
Bier erra feio a mão com esta comédia romântica, ao abordar um tema instigante
e sempre interessante como as diferenças de duas famílias num encontro formal,
que esbarra nas vaidades, idiossincrasias, mentiras, traições e revelações de
lado a lado. Astrid ao bradar que não aguenta mais as aparências cínicas e
fantasiosas do evento, apenas esboça um sentimento que está lhe doendo no peito
e na consciência. E ao perguntar para a mãe: como se sabe quando se descobre a
verdadeira paixão de sua vida e se aquela é a pessoa ideal? Surge um prenúncio
de que algo de ruim irá acontecer, porque as coisas não vão bem em seu
relacionamento sexual estranho.
A cineasta trata objetivamente do recomeço da vida e a
coragem para mudar, mesmo parecendo tarde demais, com uma leveza que tentou
passar à platéia, porém foi um verdadeiro tiro pela culatra, considerando-se o
resultado inócuo no melhor estilo dos filmes românticos de final feliz de
Hollywood. Busca o choque através do encontro de duas pessoas com mais de 50
anos, que tiveram dramas pessoais devastadores, mas que querem reerguerem-se,
como a cabeleireira Ida com seus traumas de sua moléstia e o empresário
bem-sucedido Philip que perdeu a esposa num trágico acidente de carro e tem que
lidar com os problemas viscerais com a falta de vínculo com o filho.
Amor é...não passa
de uma comédia de razoáveis propósitos e resultados previsíveis beirando a
autoajuda, que deixa “bons ensinamentos” e uma “brilhante lição de vida”, nesta
obra menor na filmografia de Bier, em que o resultado é uma imensa baboseira vazia,
pois prometia bem mais do que as conclusões precipitadas e decepcionantes no
epílogo. Um filme frustrante, diante da expectativa aguardada desta festejada
diretora que desandou de vez.
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