quinta-feira, 14 de março de 2013

Barbara














Alemanha Dividida

O diretor alemão Christian Petzold ambienta seu longa Barbara nos anos de 1980, num bucólico vilarejo, ao Leste de Berlim, às margens do Mar Báltico, em pleno regime comunista instalado na Alemanha Oriental, ainda antes de cair o muro da vergonha. Recebeu o prêmio Urso de Prata pela melhor direção no Festival de Berlim de 2012 e foi indicado pelo seu país para concorrer à vaga de melhor filme estrangeiro no Oscar deste ano. Em sua filmografia há os longas Controle de Identidade (2000), Fantasmas (2005) e Jericó (2008).

A história é centrada na conceituada cirurgiã pediatra Barbara (Nina Hoss- de estupenda atuação) que se envolve com seu chefe, o colega médico André (Ronald Zehrfeld), porém quer mesmo é fugir para a Alemanha Oriental. Sente-se constantemente sendo vigiada e passa por humilhantes revistas íntimas no seu local de trabalho, um pequeno hospital de poucos recursos técnicos, bem como no apartamento onde mora. A trama é bem conduzida pelo cineasta que mostra com fôlego a divisão em duas Alemanhas. A famigerada e ironicamente chamada de República Democrática Alemã estava mergulhada num regime autoritário e inexiste liberdade de expressão, como se vê na cenas mostradas durante o enredo, onde a reunificação era completamente descartada.

Um filme ao melhor estilo da escola alemã, com um roteiro enxuto e sem muitas explicações ou concessões para o espectador, num tom seco e direto sem artimanhas, no apogeu da Guerra Fria. Passa pela personagem-título as situações mais escabrosas e chocantes, como da jovem paciente a quem ajuda e tem uma boa afinidade, onde o aborto é vislumbrado como uma pena para garotas em campo de concentração socialista. A própria protagonista sente na carne o horror da desconfiança e a perseguição, despertando a atenção dos oficiais defensores do regime autoritário, ao ser transferida de uma cidade grande para o interior. É ajudada com dinheiro pelo amante que busca uma forma para sua fuga daquele país antidemocrático, mas neste meio tempo surgem imprevistos em sua vida.

O drama não cai na caricatura fácil e nem no maniqueísmo e mostra o envolvimento profissional e o amor que cresce entre André e Bárbara, mas a médica tem a dúvida pairando na cabeça: paixão ou mais um espião do governo que lhe assedia? A revelação vem só no epílogo. O cineasta inspirou-se nas lembranças da infância e suas férias no Oriente, pois seus pais eram socialistas que se decepcionaram com o resultado da divisão que endureceu e mudou o rumo e diretrizes traçados como metas. A mãe de Petzold fugiu do regime comunista alemão quando estava grávida dele e foi com o marido para o Ocidente.

Barbara é um drama tenso com construções de personagens fortes e psicologicamente bem alicerçados. A trilha sonora não é utilizada e em seu lugar entram o silêncio entrecortado por pássaros silvando; o ruído enigmático do vento forte; e o mar agitado e ameaçador na cena final. Há o belo contraste da protagonista que vive escondendo dinheiro e sempre em estado de alerta e medo pela opressão ditatorial naquele aparente inofensivo lugarejo isolado do mundo, num filme simples de época, mas com uma direção magnífica, onde a Nina Hoss conduz a trama fabulosa apenas com o marcante olhar revelador e segura até o final inusitado, pelo realismo de uma experiência de cinema íntimo e tenso dentro de uma instigante beleza de detalhes.

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