Geração Perdida
O best-seller de Jack Kerouac On The Road, de 1957, é levado pela primeira vez às telas do cinema
pelo festejado diretor brasileiro Walter Salles, numa produção dos EUA, França
e Grã-Bretanha, através do cineasta e produtor Francis Ford Copolla, que em
1979, adquiriu os direitos legais para realizar a adaptação. Salles recriou de
forma elegante a saga da contracultura dos jovens perdidos no mundo do
pós-guerra, deixando nítidos os reflexos violentos do período da Grande Depressão
americana de 1929.
O manifesto de Kerouac escrito de 1947 a 1951, tomou forma e
acabou por ser publicado em 1957, sobre a trajetória vivida pelo autor com seus
amigos Neal Cassady, Allen Ginsberg e William S. Burroughs, conhecidos
posteriormente como figuras exponenciais e inventores do movimento literário
beat. Suas experiências foram levadas para a literatura e transformadas em livro
que virou um clássico da juventude, principalmente dos jovens à procura de seus
destinos e de um sentido para a vida, ainda que, como enfocado pelo cineasta,
redunda num processo de desintegração pelo excesso de álcool, droga e fumo.
Deixa-os completamente hipnotizados pela amargura e pelo desejo de liberdade,
através de uma rebeldia que beira quase aos sem causa. Os relatos são bem mais
profundos e complexos nos seus modus
operandis intrínsecos de vidas perdidas e sem nexos existenciais.
Na Estrada tem presenças marcantes como de Marylou (Kristen
Stewart), surpreende ao aparecer nua e participa de um ménage à trois, bem oposta de sua personagem em Crepúsculo (2008); mas para contracenar
com a musa do filme, apresentam-se os viajantes Dean Moriarty- o ex-marido-
(Garret Hedlund) e Sal Paradise- alter ego do autor do livro- (Sam Riley) que
dão consistência e embasamento para o drama e o desenvolvimento sobre as
angústias e os dissabores da vida, como do protagonista que procura seu pai
junto aos mendigos de rua. Logo se vê os reflexos em sua personalidade, ao
largar mulher e filhos para uma vida sem objetivos e completamente vazia para
um adulto, largando o pé pelo mundo à procura de aventuras bissexuais.
O cineasta brasileiro já
havia realizado um filme similar de estrada em Diários de Motocicleta (2004), sobre a vida Che Guevara, agora
atinge um resultado acima do razoável, longe de uma obra maravilhosa e bem
distante da obra-prima de Dennis Hopper Sem
Destino (1969), marco histórico da rebeldia de dois amigos que saem em uma
jornada desenfreada de sexo, drogas e liberdade pelas estradas poeirentas do
Sul dos EUA; mas está próximo de Thelma
& Louise (1991), de Ridley Scott; ou ainda de Antes Só do Que Mal Acompanhado (1987), de John Hughes.
O diretor busca a
fidelidade nos relatos, dando autenticidade ao livro que se embasou. Desveste o
clássico para uma linguagem cinematográfica, destacando-se a figura singular
criada em Dean, na realidade Neal Cassidy, um irlandês órfão de mãe e pai
alcoólatra que perambula pelas ruas como um excluído social. Ou na melancolia
devastadora de Sal, logo após a morte do genitor, que o fez se lançar como um
itinerante pelas estradas da vida de diversas cidades dos EUA e por fim no
México.
Salles conduz a trama com
segurança até mais da metade do filme, deixando transparecer falta de fôlego
para os restantes 40 minutos, embora tivesse uma boa estrutura para o longa, peca
pela pouca dramaticidade e investe mais no tecnicismo, mas evita bem os
arroubos de grandes cenários, com um domínio muito bom dos planos e
contraplanos de cenas. Mas o grande equívoco desta produção é a montagem
precária, que acarreta sequências longas e sonolentas, especialmente na parte
final, tornando extenuado para o espectador. Fica a indagação do por que não deixar
mais enxuto e dinâmico, pois seria bem mais palatável a película.
O filme centraliza seus personagens numa viagem existencial improvável,
de rumos irrefreados a cada parada, sem um norte, ou apenas tendo como lema a
inspiração para viver bem longe de um universo incerto pelos dogmas e normas.
Tudo é buscado com voracidade e sem um regramento preocupado com os ditames estabelecidos
pela sociedade de consumo. Eis um satisfatório drama que aborda os prazeres de viver muito
em tão pouco tempo, como se o mundo fosse acabar no outro dia, com cores de doloridas
e tristes, apesar dos excessos e repetições de cenas.
Um comentário:
Filme cult. Já gostei. E os nomes de peso do cinema que produziram o filme: Copolla é genial.
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