sexta-feira, 20 de julho de 2012

Na Estrada

















Geração Perdida

O best-seller de Jack Kerouac On The Road, de 1957, é levado pela primeira vez às telas do cinema pelo festejado diretor brasileiro Walter Salles, numa produção dos EUA, França e Grã-Bretanha, através do cineasta e produtor Francis Ford Copolla, que em 1979, adquiriu os direitos legais para realizar a adaptação. Salles recriou de forma elegante a saga da contracultura dos jovens perdidos no mundo do pós-guerra, deixando nítidos os reflexos violentos do período da Grande Depressão americana de 1929.

O manifesto de Kerouac escrito de 1947 a 1951, tomou forma e acabou por ser publicado em 1957, sobre a trajetória vivida pelo autor com seus amigos Neal Cassady, Allen Ginsberg e William S. Burroughs, conhecidos posteriormente como figuras exponenciais e inventores do movimento literário beat. Suas experiências foram levadas para a literatura e transformadas em livro que virou um clássico da juventude, principalmente dos jovens à procura de seus destinos e de um sentido para a vida, ainda que, como enfocado pelo cineasta, redunda num processo de desintegração pelo excesso de álcool, droga e fumo. Deixa-os completamente hipnotizados pela amargura e pelo desejo de liberdade, através de uma rebeldia que beira quase aos sem causa. Os relatos são bem mais profundos e complexos nos seus modus operandis intrínsecos de vidas perdidas e sem nexos existenciais.

Na Estrada tem presenças marcantes como de Marylou (Kristen Stewart), surpreende ao aparecer nua e participa de um ménage à trois, bem oposta de sua personagem em Crepúsculo (2008); mas para contracenar com a musa do filme, apresentam-se os viajantes Dean Moriarty- o ex-marido- (Garret Hedlund) e Sal Paradise- alter ego do autor do livro- (Sam Riley) que dão consistência e embasamento para o drama e o desenvolvimento sobre as angústias e os dissabores da vida, como do protagonista que procura seu pai junto aos mendigos de rua. Logo se vê os reflexos em sua personalidade, ao largar mulher e filhos para uma vida sem objetivos e completamente vazia para um adulto, largando o pé pelo mundo à procura de aventuras bissexuais.

O cineasta brasileiro já havia realizado um filme similar de estrada em Diários de Motocicleta (2004), sobre a vida Che Guevara, agora atinge um resultado acima do razoável, longe de uma obra maravilhosa e bem distante da obra-prima de Dennis Hopper Sem Destino (1969), marco histórico da rebeldia de dois amigos que saem em uma jornada desenfreada de sexo, drogas e liberdade pelas estradas poeirentas do Sul dos EUA; mas está próximo de Thelma & Louise (1991), de Ridley Scott; ou ainda de Antes Só do Que Mal Acompanhado (1987), de John Hughes.

O diretor busca a fidelidade nos relatos, dando autenticidade ao livro que se embasou. Desveste o clássico para uma linguagem cinematográfica, destacando-se a figura singular criada em Dean, na realidade Neal Cassidy, um irlandês órfão de mãe e pai alcoólatra que perambula pelas ruas como um excluído social. Ou na melancolia devastadora de Sal, logo após a morte do genitor, que o fez se lançar como um itinerante pelas estradas da vida de diversas cidades dos EUA e por fim no México.

Salles conduz a trama com segurança até mais da metade do filme, deixando transparecer falta de fôlego para os restantes 40 minutos, embora tivesse uma boa estrutura para o longa, peca pela pouca dramaticidade e investe mais no tecnicismo, mas evita bem os arroubos de grandes cenários, com um domínio muito bom dos planos e contraplanos de cenas. Mas o grande equívoco desta produção é a montagem precária, que acarreta sequências longas e sonolentas, especialmente na parte final, tornando extenuado para o espectador. Fica a indagação do por que não deixar mais enxuto e dinâmico, pois seria bem mais palatável a película.

O filme centraliza seus personagens numa viagem existencial improvável, de rumos irrefreados a cada parada, sem um norte, ou apenas tendo como lema a inspiração para viver bem longe de um universo incerto pelos dogmas e normas. Tudo é buscado com voracidade e sem um regramento preocupado com os ditames estabelecidos pela sociedade de consumo. Eis um satisfatório drama que aborda os prazeres de viver muito em tão pouco tempo, como se o mundo fosse acabar no outro dia, com cores de doloridas e tristes, apesar dos excessos e repetições de cenas.

Um comentário:

Cristina Andréia de Borba Figueiró disse...

Filme cult. Já gostei. E os nomes de peso do cinema que produziram o filme: Copolla é genial.