terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Tudo pelo Poder









Bastidores da Política

A campanha aética e toda sua podridão política são os principais componentes do roteiro na trama que enfoca o governador democrata Mike Morris (George Clooney- numa atuação discreta), visando à presidência dos EUA. Tudo pelo Poder tem em seu personagem central um misto do charme e elegância de John Kennedy e as aventuras sexuais de Bill Clinton com sua estagiária que sacudiram o governo e tremeu a Casa Branca. A direção é de Clooney, em seu quarto longa-metragem, com destaques para os anteriores Confissões de Uma Mente Perigosa (2002); sendo o melhor de todos Boa Noite e Boa Sorte (2006), numa verdadeira aula do bom jornalismo e suas investigações éticas.

A trajetória do filme é instigante e leva ao clímax somente no final, pois nos primeiros trinta minutos é meio sonolento, gira entre as armações quase que sem saída entre os coordenadores e assessores de campanha. De um lado o idealista político Stephen Myers (Ryan Gosling- ator canadense de estupenda interpretação, trabalhou no longa Namorados para Sempre (2010), parece ser meio ingênuo, às vezes passa por cínico, em suas armadilhas com seu chefe, o marqueteiro (Philip Seymour Hoffmann- sempre em boa forma) e do lado oposto o assessor do candidato republicano (Paul Giamatti- de notável atuação).

No meio do turbilhão do processo que se desenvolve a campanha, Stephen envolve-se com uma estagiária (Evan Rachel Wood), que teve um caso com o candidato Morris, numa clara alusão ao escândalo de Mônica Lewinsky. Tudo está por ir água abaixo e o candidato ouve de seu assessor o seguinte: “Você poderia roubar, mentir e enganar. Qualquer coisa, menos transar com a estagiária”. Mais explícito seria impossível, pois surge o episódio de Clinton com Mônica como um escândalo em erupção, tal qual um vulcão, após as revelações bombásticas de gravidez e complicações futuras. Para piorar o quadro crítico, surge a jornalista investigativa (Marisa Tomei), que está à procura de notícias retumbantes e já possui algumas informações indicativas para publicar no jornal em que trabalha, nada menos que o The New York Times. As primárias em Ohio correm um risco insustentável pelo fantasma da estagiária e o escândalo que se avizinha como iminente e devastador.

Clooney busca na política novamente a inspiração para seu novo filme, tendo um roteiro complexo baseado numa peça de Beau Willimon, mostra toda a parafernália dos bastidores de uma eleição para presidente dos EUA. É levada com muito dinheiro e mentira, como se vê na plataforma política de Morris, bem arquitetada pelo Partido Democrata, prometendo cursos universitários financiados por troca de trabalhos voluntários no setor público; uma energia limpa em uma década, através de investimentos em tecnologia; diplomacia máxima e urgente nas relações exteriores. Tudo soa falso e vazio, mas aos poucos vai virando uma contraditória verdade no discurso empolgado do carismático, bonitão e charmoso candidato, em sua busca obstinada pelo poder.

Tudo pelo Poder é um filme que aborda os ardis inescrupulosos, torna-se cético e tem uma forte consistência de personagens com diálogos equilibrados e às vezes chega na contundência, revertendo e mudando as expectativas que poderiam se encaminhar. O diretor não nega a influência do grande filme Todos os Homens do Presidente (1976), de Alan Pakula, com Robert Redford e Dustin Hoffman, que culminou com a queda do ex-presidente dos EUA Richard Nixon, após o rumoroso escândalo político Watergate.

A película não é só uma reflexão ou crítica aos bastidores de uma campanha eleitoral para a presidência norte-americana, mas o paradoxo da mentira para fazer valer o ideal, como no episódio da suposta contratação de Stephen pelo oponente coordenador republicano e o envolvimento de seu próprio chefe. Muitos golpes baixos e deslizes de assessores numa campanha tumultuada pela falta do decoro, onde não há lugar para ingênuos e bonzinhos. O maquiavelismo está explícito onde “os fins justificam os meios”, parece ser copiado com maestria do livro O Príncipe, de Nicolau Maquiavel, criador do verdadeiro manual da política.

O filme se não é o melhor de Clooney, pois embora pareça ingênuo por mostrar o que se imagina como óbvio, cumpre seu papel objetivo de apresentar as falcatruas das abjetas coligações, o jogo da politicagem e a sujeira empurrada para debaixo do tapete, vender a alma para o diabo, os conflitos de lealdade e confiança, o questionamento da ética na vida pública de assessores e candidatos máximos. Fica a visão doentia dos homens públicos pelo poder e seus envolvimentos com situações escabrosas, dignas de maracutaias da melhor estirpe. A política sempre rendeu bons filmes e grandes tramas envolventes e Clooney não deixa de dar sua contribuição valiosa para esta temática milenar da politicagem e a posição de desilusão dos norte-americanos com seus dois partidos maiores, representados ultimamente por Bush e Obama.

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