segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Balada do Amor e do Ódio












Palhaços Trapalhões

Os espanhóis sempre se notabilizaram por ótimas obras sobre o período do ditador Francisco Franco, morto em 1975. Tanto pelos quadros de Salvador Dalí, Pablo Picasso, como nos filmes de Luis Buñuel, Carlos Saura e Pedro Almodóvar, entre tantos outros notáveis, de uma extensa lista da melhor qualidade. Porém, desta feita o tiro saiu pela culatra e o resultado não foi nada bom. O diretor Álex de la Iglesia errou feio a mão com Balada do Amor e do Ódio (Balada Triste de Trompeta- título original), um comédia equivocada no seu propósito final, ao abordar o período do franquismo, numa sucessão de erros e gafes intermináveis e desgastantes para um cineasta que se propõe a realizar uma obra com alguma pretensão superior.

O longa se inicia em 1937, em Madri, com a guerra civil se instalando com força na Espanha, com batalhas sangrentas entre governistas e revolucionários. No centro dos conflitos está Javier (Carlos Areces) que ainda criança vê seu pai, o Palhaço Branco (Santiago Segura), morrer na cadeia ao tentar fugir, tendo participação direta no final trágico, por defender um ideal contrário aos interesses do Generalíssimo, depois de lutar muito pelas milícias, destruindo com foiçadas diversos soldados do Exército Nacional. Javier segue a trajetória do pai e vai trabalhar num circo, sendo batizado de Palhaço Triste, acaba por se conflitar com Sérgio, o Palhaço Gracioso (Antônio de la Torre), numa disputa ferrenha por Natalia (Carolina Bang), esposa do seu patrão e dono do circo. O filme começa a se perder com a renhida luta dos palhaços pela bela mulher, que sente prazer em apanhar do marido e ver seu pretendente brigar por ela, desenvolvendo todo seu masoquismo e por vezes sadismo, ao apreciar os dois homens se engalfinhando para ter seu lindo corpo como troféu.

O que era para ser uma alegoria do período do regime da Ditadura Franquista, virou uma comédia de ação e aventura, com muitas correrias causando enormes estrepolias por ande passavam os dois palhaços disputando Natalia. Muitos tiros, os oponentes se esfolando, tendo ambos seus rostos desfigurados por contingências de suas confusões amorosas e inquietações pessoais bizarras. A cena da perseguição que se estende até o alto do prédio, com personagens voando de motocicleta e se espatifando num edifício próximo; a mocinha sendo disputada a tapas e beijos pelos seus admiradores, tiroteio para tudo que é lado, desabaladas corridas, no melhor estilo dos filmes B e C blockbusters americanos, com uma infindável trapalhada de personagens sem consistência e briguentos por pura armação motivacional rancorosa ou vingança barata.

O cineasta já fez filmes bem melhores como O Dia da Besta (1995), Perdita Durango (1997) e Crime Ferpecto (2004), mas agora ficou no meio do caminho, indeciso entre a comédia de costumes com uma crítica ácida e mordaz ao regime do governo Franco e a ação com muita aventura americanizada e sem sentido crítico algum, em cenas que lembram Super-Homem, Mulher-Gato, Batman, e por aí afora. Nem a morte do presidente do governo Carrero Blanco, em 1973, por atentado terrorista consegue convencer e ter um resultado satisfatório. Iglesia começa desenvolvendo o longa-metragem no período franquista de 1937 e termina no início da década de 70, quando morre o ditador e assume o poder o Rei Juan Carlos I. A perda do pai é a mola propulsora no prólogo, acarretando numa tristeza imensurável em Javier, que aos poucos vai se transformando em ódio e rancor, partindo para uma derradeira vingança. A mordida no dedo do Generalíssimo não convence, sequer sua desabalada corrida no mato, todo sujo como um suíno.

Nada alavanca o filme ou resulte numa contingência oriunda do passado. Há uma grande desordem no roteiro com uma falta de consistência de uma direção frágil que chega a dar dó. Deixa para trás um objetivo inicial proposto bem no começo da comédia, afundando assim de vez com toda a temática e uma reflexão plausível mais apurada, deixando o grotesco se sobressair e se misturar com a aventura e bastante ação no epílogo.

Nenhum comentário: