quinta-feira, 18 de agosto de 2011
A Árvore da Vida
Sentido da Existência
Terrence Malick é um cineasta formado em filosofia. Leva uma vida de ermitão pelo seu enclausuramento, não dá entrevistas, raramente é fotografado e é chamado de diretor bissexto, pois passa anos sem filmar. É perfeccionista em seu trabalho, roda centenas de negativos e usa seu tempo burilando seu material para editar uma obra. Tem em sua filmografia três obras–primas: Terra de Ninguém (1973), depois arrasou em Cinzas no Paraíso (1978), completando com Além da Linha Vermelha (1998). Mais tarde realizou um longa menor O Novo Mundo (2005).
Agora Malick retorna com outro filme fabuloso A Árvore da Vida, abordando mais de um tema, interligando religião com a perda de um dos três filhos, questionando a opressão do pai, um engenheiro de aviação (Brad Pitt- de atuação irrepreensível) e todo seu rigor e disciplina severa ao preparar as crianças para as adversidades da vida e as peripécias do mundo, principalmente pelo método da repetição até chegar ao objetivo principal de uma meta. Tem na esposa submissa (Jessica Chastain- uma atriz principiante e de futuro promissor) um ponto de equilíbrio e apoio, primando pela suavidade e sensibilidade materna, com sua doçura no olhar e nos gestos para cada filho, ao contrário do tenso marido.
A película começa com o processo de espaço-tempo de Big Bang, tendo no nascimento do universo, a formação das galáxias e planetas e os primeiros movimentos da vida e sua evolução, a Terra com os humanos e suas contradições. Avança para a queda dos meteoros e a abertura de crateras extinguindo os dinossauros e a raiva enrustida nos animais pré-históricos demonstradas na cena em que um deles pisa no outro até sua finitude. Seria maldade pura ou um ato solidário para a morte sem sofrimento? Como não lembrar de 2001-Uma Odisseia no Espaço (1968), de Stanley Kublick, pela semelhança de uma proposta ficcional cósmica e seus elementos temáticos da evolução humana.
O universo cósmico é mostrado em várias cenas, tendo a dor e a tristeza juntas como frutos da morte do filho como pano de fundo, com a reflexão da perda e a culpa pelo fim, sem ser piegas. O sensitivo aflora desordenadamente, mas logo dá lugar para o impacto sensorial que se instala no presente em quase todo o desenrolar do grande enigma da vida, dando um passo redentor para a morte e suas explicações transcendentais num epílogo de reencontros da família O´Brien do Texas, nos anos 50.
Vencedor este ano no Festival de Cannes com esta magia poderosa e suas implicações filosóficas, com suas metáforas e alegorias, como na procura obstinada do sentido da vida num universo misterioso de toda sua imensidão interplanetária, porém sem a explosão devastadora e apocalíptica do filme Melancolia (2011), de Lars von Trier. Traz no conteúdo como síntese sensorial Tio Boonmee, Que Pode Recordar Suas Vidas Passadas (2010), de Apichatpong Weerasethakul, bizarro e equivocado longa-metragem tailandês que venceu o Festival de Cannes do ano passado, sem a grandiosidade e a complexidade proposta por Malick. Também nos remete para o rigor autoritário visto no vencedor do Palma de Ouro de 2009, o magistral filme alemão A Fita Branca (2009), de Michael Haneke.
A Árvore da Vida é um filme de imagens radiantes e surpreendentes, tendo no seu bojo uma proposta filosófica, sem ter a audácia de explicar ou concluir teses exaustivas. Mas usa apropriadamente como metáfora da morte uma grande explosão, seguida de um cogumelo devastador de fumaças, que bem poderia ser a lembrança das bombas jogadas pelos americanos em Hiroshima e Nagasaki. Mas a alegoria da vida está presente e levará a reflexões, quando se observa o poder das imagens, como das borboletas, das árvores nas matas, do gado pastando mansamente, dos embriões dando formato para as vidas que logo virão ao mundo.
A religião é questionada fortemente quando a desilusão vem à tona como forma de revolta. Há a perda do emprego do obstinado pai como símbolo da civilização derrotada, tendo contundência na sentida reconstrução em outro local de um mundo em ebulição, restando como artefatos uma dolorida relação de uma família em vias de extinção, sob o olhar do filho mais velho, Jack (Sean Penn) olhando com amargura e um desgosto profundo os gigantescos edifícios em Dallas. As imagens do passado e a infância povoam suas lembranças. Tanto o irmão, como o pai e a mãe carregam o sentimento de perda que martela incessantemente como um soco no estômago.
Eis um drama estupendo pela estética e sua força de construção de personagens e imagens radiantes e reveladoras. Mexe e remexe no cérebro e com o equilíbrio do espectador na sua plenitude, para uma reflexão do início ao fim da existência, sem ter a pretensão de chegar a algum ponto de vista racional, embora crucial, deixando atordoados os pensamentos menores e simplistas, dando luz para um olhar panorâmico e perturbador, oriundos do talento deste gênio do cinema nesta nova obra-prima inesquecível.
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