quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Confissões de Uma Garota de Programa























Terapia Sexual

O festejado diretor americano Steven Soderbergh já realizou coisas bem melhores. É de sua filmografia, obras como Traffic (2000), Eric Brockovich- Uma Mulher de Talento (2000), Doze Homens e Outro Segredo (2004), Doze Homens e Um Novo Segredo (2007), Che (2009). Porém, indiscutivelmente Sexo, Mentiras e Videotape (1989) é sua obra-prima, pelo arrojo e a qualidade singular deste filme que arrebatou o Palma de Ouro no Festival de Cannes de 1989, na França, dando-lhe também o Prêmio de Melhor Diretor daquele ano, atingindo o ápice na carreira. Soderbergh não vem repetindo seus trabalhos anteriores, parece estar em declínio na suas criações cinematográficas, dando mostras já em Che, Parte I, filme que não decolou, apenas fez uma base para a Parte II, que ainda não estreou e se espera bem mais do apresentado.

Seu último longa Confissões de Uma Garota de Programa é, talvez, o menor filme deste cineasta que tem indiscutíveis qualidades como bom artesão. Ao escolher a musa do cinema pornô Sasha Grey, no papel principal como Chelsea/Christine, comete um atentado ao bom senso, maculando sua obra. É inegável que a atriz tem dotes físicos e uma certa beleza, mas para por aí. Seu desempenho é fraco, insosso, sem expressão e a representação artística inexiste. Limita-se a responder aos clientes famosos de Manhattan que lhe pagam muito bem para ser a namoradinha de aluguel, um monossilábico Yes ou No. Quando tenta dizer alguma frase, arriscando alguma ideia, nocauteia literalmente com o filme. Provavelmente será a vencedora do Oscar de 2010, na categoria de pior atriz, caso venha a ser indicada, devendo levar para casa o Trofeu Framboesa.

Confissões... peca na estrutura, no roteiro e nas pífias atuações do elenco. Falta aprofundamento nas questões levantadas como as eleições no EUA, onde há uma tímida preferência por Barack Obama, nas apostas em dinheiro dos comuns e mortais americanos. Alguns homens dentro de um avião jogam todas suas fichas no candidato negro como o grande vencedor para governar seu país. O diretor dá uma preferência antiquada por cenários luxuosos em interiores, com pouca luminosidade, refutando completamente os exteriores, num claro e prosaico desleixo. Dá a impressão que está com vontade de livrar-se logo do filme que tem eternos 78 minutos de duração.

O longa vai andando como pode, solto, com confissões surradas de uma moça de programa em vídeo digital, num paradoxo às suas produções grandiosas e de cunho social comprometidas com um cinema de arte. Surgem temas interessantes como a grande quebradeira de empresas e bancos americanos nos dias atuais, mas não há uma reflexão profunda. O diretor conduz para a terapia do sexo com uma plausível e boa solução dos problemas.

Entre um cliente que fala o tempo todo de seus problemas econômicos e familiares, esquece para surpresa de Chelsea, de um relacionamento íntimo; logo entra em cena outro cliente falcatrua com promessas de filmar a vida da prostituta, iludindo-a com viagens ao exterior, entre elas para Dubai, num engodo clássico, deixando-a tristonha; há a patética aparição do parceiro/companheiro que esboça um artificial ciúme, embora se conforme de imediato com a situação. Finca pé apenas para que sua "amada" não viaje com clientes nos finais de semana, sob pena de perdê-lo. E segue a babaquice do roteiro, com desdobramentos inverossímeis. Há o arrependimento de um "senhor sensato" ao falar com a filha, deixa de completar uma "glamourosa viagem", bem como o judeu que fala em ouro e dinheiro num epílogo que revela a continuação da saga da jovem na atividade da profissão mais antiga do mundo.

Ressalte-se que é um filme onde há todos os requintes, inclusive com temas a serem abordados com um olhar crítico. A prostituição sempre que levada ao cinema pode render bons filmes, como muitas vezes trai e detona seu realizador. É inegável que o tema é delicado e sutil em sua apreciação, com poderes de uma visão séria. Mas o diretor encontrou na fórmula da superficialidade resumir essa descartável realização sem inspiração.

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