Grande Legado
A cineasta belga naturalizada francesa, Agnès Varda, deixou um legado imensurável, com realizações abrangentes e muitas reflexões com críticas pontuais à sociedade e seus preconceitos em Varda por Agnès (2019). Não foi somente um documentário autobiográfico testamentário, mas também um mosaico do passado, presente e do futuro, onde aparecem intercalados personagens sofridos por uma sociedade cruel com a humanidade. Com alguma similitude de temática de visão do mundo, o documentário Aznavour por Charles, que pode ser visto na Net/Claro Now, depois de ter estreado no cinema, acabou sendo mais uma vítima da pandemia. O próprio lendário cantor e compositor mundial celebrizado pelo público e pela crítica pelas suas canções marcantes filmou sua vida e como a desfrutou durante sua existência. Até o dia em que mostrou o material que capturou ao longo de 34 anos para o cineasta e amigo Marc di Domenico, que ficou impressionado com as imagens. Do material doado do diário cinematográfico, resultou montado 83 minutos. A câmera era o fiel guardião para os registros do artista, pois gravava tudo que via por onde andava, tais como os amigos, seus amores e suas dificuldades tediosas pertinentes.
A história dos registros começou em 1948, quando a grande
amiga Edith Piaf (1915-1963), já famosa por La
Vie en Rose, presenteou Charles Aznavour (1924-2018) com uma câmera Super
8, ainda desconhecido da maioria das pessoas, que se tornou um bem particular
essencial e nunca mais a largou. Varda tinha uma trajetória dedicada ao cinema,
fotografia, artes visuais e o companheiro de todas as horas Jacques Demy como
elementos de amor e paixão. Aznavour filmou não só sua vida, mas o dia a dia
por onde passava com seus shows no Marrocos, na extinta URSS, Ilha de Capri,
Japão, China, África e as reminiscências buscadas na Armênia, a qual presta
justa homenagem. Os pais do protagonista eram da geração de armênios nascidos
no exílio, neto de sobreviventes do Genocídio Armênio, massacre ocorrido de
Teve uma carreira de 70 anos e mais de mil canções escritas com participação em dezenas de filmes, inclusive menciona agradecido e carinhosamente a amizade com o cultuado cineasta François Truffaut, ao ter a oportunidade de fazer aparições breves em algumas das realizações do mestre francês. Embora tenha convivido com celebridades, o foco de sua câmera era filmar pessoas anônimas, desde fãs nas filas do teatro até meninos jogando futebol em campinhos de várzea sem grama. “Era esse o propósito do documentário: mostrar o seu ponto de vista como ‘homem’ e não ‘estrela’. Ele captura a natureza humana, não as aparências. Charles filma ruas movimentadas, agitados passeios de barco e, mesmo assim, ele transparece através do que escolheu retratar”, diz o cineasta em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo. Domenico afirma na entrevista que Aznavour não participou da escolha dos textos e das imagens da obra, mas que o realizador e o filho do cantor, Misha, convidaram o ator Romain Duris para narrar em off o documentário. Retratou com certa melancolia através de uma visão global os prismas de uma exposição dos dilemas universais apontados, ainda que timidamente e sem um aprofundamento maior, mas com a altivez do artista sempre diligente aos percalços que rondam a humanidade e suas transformações.
O longa é uma boa mostragem das observações feitas no
cotidiano, a vida boêmia, os sonhos de juventude, a vida de um neófito cantor,
a miséria por muitos lugares que passou, dos romances que marcaram os amores
conquistados e perdidos com grandes paixões que iriam inspirar as letras de
suas antológicas canções que viraram sucessos incontestáveis, tais como:
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