segunda-feira, 12 de março de 2012
Um Dia
Destino Traiçoeiro
A diretora Lone Scherfig é conhecida no Brasil pelo seu elogiado longa Educação (2009), sobre uma garota de 16 anos, conflitada com a família no subúrbio londrino em 1961, sofre com o tédio de seus dias de adolescente e aguarda impacientemente a chegada da vida adulta. Logo se vê atraída por um homem charmoso e cosmopolita de mais de trinta anos e um mundo novo se abre diante de si, deixando-a em um dilema entre a educação formal e o aprendizado da vida. Agora a diretora brinda os espectadores com sua mais recente obra Um Dia, um misto quente de comédia romântica com drama, baseado no best-seller de David Nicholls, com mais de 1,3 milhão de exemplares vendidos e publicado em 37 países.
O enredo é bem espirituoso e digno dos melhores roteiros, tendo a trama como protagonistas principais Emma (Anne Hathaway- em mais uma atuação de luxo da bela e estonteante nova-iorquina do Brooklyn, nascida em 12 de novembro de 1982) e Dexter (Jim Sturgess- que não decepciona). Eles fazem um casal de formandos que se conhecem realmente no dia da formatura na faculdade, em 15 de julho de 1988, e acabam por ficar juntos na intimidade, embora de forma despretensiosa, mais pelo acaso do que por razões óbvias.
O ritual dos encontros é repetido anualmente, sempre no dia 15 de julho, para festejar mais um ano de formatura e coincidentemente o início de uma grande amizade e o amor que cresce geometricamente com o tempo, mas é abafado visceralmente pela negação dos destinos cruzados que ambos levam. Este é o mote do filme que serve de um cronograma sombrio e paradoxal para seu desenlace.
Dexter é um playboy irresistível e sonhador de um mundo como fosse um grande cenário imaginário para os seus deleites. Tem problemas com o pai que o lembra e faz alusões da referida data com a dos festejos de um santo da região. Suas visitas à mãe gravemente enferma são conturbadas. Os encontros e desencontros são contumazes nas vidas dos dois jovens amigos, que teimam em considerar o relacionamento como uma simples amizade, embora profunda pela atmosfera criada em torno dos dois e os fatos sejam contrários aos destinos que eles buscam como uma fuga aleatória. Já Emma, oriunda da classe operária, tem bons princípios e regramentos para uma convivência estável, sonha em tornar o mundo bem melhor, não é feliz com seu marido, um colega dela e de Dexter na faculdade, que também se casa e tem uma linda filha.
O filme se desenrola num clima de incertezas e Emma tem tudo para ser a razão da existência do amigo, que sempre lhe procura nos piores dias das lágrimas contidas, das discussões exacerbadas e com críticas ásperas. Sobram poucos dos bons momentos cruciais para compartilhar em diversões, apoios e risos, nos dias 15 de julho, num relacionamento que se estende por mais de 20 anos e, aos poucos, vão percebendo o quanto são importantes aqueles fortuitos encontros agendados, ou aguardados ansiosamente no calendário.
A diretora parece encaminhar os destinos numa solução simples. O filme mantém a atenção do espectador, mesmo que a previsibilidade do epílogo estivesse na iminência, mas com estilo sutil surpreende com a reviravolta do roteiro, deixando um jogo de planos e cenas eficientes construídos em flasbacks mostrar os momentos de alguns encontros ainda não revelados, segurando firme o público, não deixando cair a peteca como se imaginava.
Scherfig revela segurança e harmonia na estrutura dramática mesclada com boas doses de humor, sem ser piegas e deixando acesa a chama da expectativa até o final inesperado deste bom longa-metragem, que aborda os perigos de se brincar com o destino. Faz um aprofundamento sensível e com bastante clareza sobre o amor sucumbindo por culpa dos seus protagonistas. Ou seja, as coisas são fáceis, mas os seres humanos parecem querer dificultar ao máximo as próprias razões existenciais e não contam com as armadilhas do destino.
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