segunda-feira, 21 de março de 2011

Bruna Surfistinha


























Prostituição sem Glamour

O longa-metragem Bruna Surfistinha é baseado no best-seller O Doce Veneno do Escorpião (2005), escrito por Raquel Pacheco, que adotou o codinome que dá o título ao filme e que está lotando as salas de cinema para ver a trajetória da garota de programa mais famosa do Brasil. Notabilizou-se pelo seu blog de relacionamentos e sugestões, inovando ao dar nota para seus clientes, de acordo com seus desempenhos na cama, bem como por ser oriunda de uma família classe média.

O filme não chega a inovar e trata da saga da mocinha que insatisfeita com seus pais, neste caso adotivos, está à procura de autoafirmação e busca uma vida própria, vê novos horizontes se abrirem, tal qual uma cinderela adormecida que desperta para o mundo adulto e mau, após sua primeira transa com um dos clientes assíduos (Cássio Gabus Mendes, sóbrio e fiel ator) do bordel da experiente cafetina (Drica Moraes, em convincente desempenho). Um registro à parte para Deborah Secco, na pele de Bruna Surfistinha, ao dizer constantemente aos frequentadores e clientes futuros: "eu sou Bruna", está maravilhosa fazendo aquela menina meiga, dócil, ingênua, com cara de santa do pau-oco, mas ao mesmo tempo possui um tempero feminino especial de uma conquistadora singular. Carrega o filme nas costas, demonstrando muita competência e talento de uma atriz que desabrocha para ser uma grande diva.

O longa tem inspiração e faz menção implícita a Pretty Baby- Menina Bonita (1978), com a lindíssima Brooke Shields e dirigida pelo saudoso e festejado Louis Malle, onde a filha de uma prostituta é criada num bordel e se prepara para assumir o lugar da mãe, tendo sua virgindade leiloada ao completar 12 anos. Já na cena da fila dos homens na espelunca, sendo cobrado o programa de R$20,00, há uma menção quase que explícita à minissérie Hilda Furacão (1998), adaptada para a TV por Glória Perez e dirigida por Wolf Maia, representando o papel da célebre prostituta a estonteante Ana Paula Arósio.

O drama autobiográfico tenta não deixar transparecer o glamour da prostituição, mas ao mesmo tempo fustiga o espectador com cenas picantes de sexo mas sem sensualidade, e Deborah Secco está soberba, num papel feito sob encomenda, que não poderia ser dado a outra atriz e o diretor Marcus Baldini, um estreante no cinema, logo se convenceu de que ficaria em boas mãos com a atriz global. Baldini conduz com certa segurança a película, mas não chega a inovar e nem aprofundar-se com maior naturalidade. Deixa frases soltas, como no cena final, Bruna ao dizer que tem saudades da vida que não viveu, mas não da que estava com os pais, sob um guarda-chuva numa rua movimentada por carros e pessoas, tendo a noite servindo como cenário.

A busca do negócio próprio, independência financeira dos pais e a o obstinação por números, tanto de clientes como de cifras são a referências de um filme que segue um roteiro pré-elaborado com uma história que muitos só conheciam pelo livro, abordando as brigas constantes com os pais adotivos; sua inexperiência com as dificuldades inerentes de uma mocinha recatada num bordel, ascendendo como uma prostituta luxuosa, tendo amparo de seu blog; as dependências com as drogas, especialmente a cocaína; o encontro inesperado com o irmão adotivo e a descoberta de seu segredo; a queda para a prostituição de quinta categoria e a decisão inesperada de por fim na profissão.

Um longa que tem um final ortodoxo e de certo modo previsível, como dos letreiros e a vida que Raquel, ou melhor Bruna, está levando nos dias de hoje, ao lado de um ex-cliente apaixonado e bom coração. Talvez se houvesse elipses mais acentuadas, a repetição de várias cenas não se tornaria chata e descartável. Mas o filme se não é elogiável, decepciona para os mais exigentes.

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