quarta-feira, 16 de junho de 2010

Festival Varilux Cinema Francês (O Refúgio)












O Refúgio

François Ozon é um diretor consagrado na França, apesar de ser jovem, com apenas 42 anos de idade. Já dirigiu e fez sucesso com dramas, comédias, romances, tais como Sob a Areia (2000), À Beira da Piscina (2003), O Amor em 5 Tempos (2004). Seu maior sucesso, talvez tenha sido 8 Mulheres (2004), dirigindo nada mais, nada menos, todas juntas na mesma película: Fanny Andant, Catherine Deneuve, Isabelle Huppert, Emmanuelle Béart, Virginie Ledoyen e Ludivine Sagnier.

Agora em O Refúgio, com grandes atuações de Isabelle Carré e Louis-Ronan Choisy, sua temática volta-se para o drama sobre as drogas e as consequências de uma gravidez indesejada e uma maternidade em conflito com uma nefasta realidade, tendo como oposição os pais do companheiro morto por uma overdose de heroína com cocaína, em que surpreendentemente a jovem sobrevive e traz como herança o infortúnio de uma dúvida sobre seu relacionamento e as causas que levaram ao trágico desaparecimento de seu namorado, sob a ótica de desconfiança e amargura da senhora que seria sua futura sogra.

Há a promessa para que faça o aborto, sob uma condição ameaçadora e impositiva de quem não quer ser avó. Surge a aproximação do cunhado, um rapaz bissexual, embora sua opção seja para a homossexualidade, trazendo seus traumas e revelações daquele núcleo familiar em decomposição que vive, sobre sua situação precária por não ser filho legítimo, questionando a adoção. Busca na aproximação à garota dar apoio explícito, àquela figura desolada que está refugiada numa casa de praia no interior, onde o proprietário é uma velho cego, metáfora sobre um mundo obscuro e que prioriza as aparências.

Ozon faz boas referências e se aproxima seu cinema de filmes consagrados como Quatro Meses, Três Semanas e Dois Dias (2007), brilhante reflexão sobre o regime romeno, sem perder o foco do aborto. Porém, sua infuência maior neste longa está nos Irmãos Dardenne que arrasaram com três filmes sobre filhos indesejados, aborto, culpa e gravidez psicológica, como nos sensíveis e corrosivos O Filho (2002), A Criança (2005) e no extraordinário O Silêncio de Lorna (2008), que retratava ainda a imigração de uma albanesa na Bélgica. O Refúgio é um daqueles filmes de extrema sensibilidade, com cenários em lugares de beleza rara, com uma trilha sonora no ponto certo, sem perturbar os ouvidos dos espectadores. É um longa um pouco lento, não chega a empolgar, mas ainda assim tem mais méritos do que erros.

Ao retratar os problemas inerentes aos jovens, Ozon se debruça nos malefícios das drogas e a perda de um sentido objetivo da vida, tendo na origem os conflitos da família. Reflexões que também já os fizeram seus compatriotas Christophe Honoré com A Bela Junie (2008), Em Paris (2006), Canções de Amor (2007); Jonathan Demme por O Casamento de Rachel (2008); assim como O Conto de Natal (2008), de Arnaud Desplechin e na obra-prima Horas de Verão (2008), de Olivier Assayas, todas películas que mergulharam no ecossistema familiar com suas desarmonias e confrontos em momentos cruciais.

O drama capta com boa receptividade a solidão que se torna contumaz, que está presente em quase todas as cenas, como da ausência dos pais no início do filme, e logo após no velório mostra o distanciamento entre os membros familiares. Apesar de leveza no desenrolar da trama, não afasta a dramaticidade nas cenas intrinsecamente no seu bojo, bem como a estrutura do roteiro é bem elaborada com um seguimento maduro de uma direção sem subterfúgios.

O Refúgio tem a sensibiidade dos filmes que tratam da juventude perdida com seus problemas existenciais que acabam nas drogas. Decorrendo gravidez de risco e uma maternidade rejeitada, com pais se opondo drasticamente. As perdas dos valores e as opções sexuais são abordadas com sutileza, embora sem um enfoque contundente, há o refinamento e a delicadeza dos filmes franceses com seus questionamentos voltados para uma boa reflexão.

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