segunda-feira, 14 de junho de 2010

Festival Varilux Cinema Francês (8 Vezes de Pé)














8 Vezes de Pé

Um dos razoáveis filmes que passou no Festival Varilux de Cinema Francês foi 8 Vezes de Pé, dirigido por Xabi Molia, tendo no elenco principal Elsa (Julie Gayet) e Mathieu (Denis Podalydès). A comédia dramática é uma trama que envolve Elsa, mulher que busca um emprego fixo e vive de pequenos "bicos", tentando obter a guarda do filho menor, ao se separar do marido, conhece o vizinho Mathieu e compartilha suas frustrações de um relacionamento fracassado. Sua luta tenaz com o ex-marido é pela disputa judicial do garoto Ethiene com evidências de rebeldia, que resiste em aceitar a mãe que ainda tem esperanças de reconquistar e se reconciliar com o velho parceiro.

Elsa vive literalmente num carro velho, que é na realidade seu lar, pois fora despejada por falta de pagamento do aluguel, leva vários foras dos pretensos empregos que tenta sem sucesso. Já o vizinho é um atirador de arco e ex-jogador de futebol frustrado e decepcionado, também despejado e sem grandes perspectivas de vida, que trabalha com pesquisas encomendadas por grandes magazines. Os dois personagens são excluídos de uma sociedade competitiva. Encontram-se algumas vezes na floresta, numa demonstração de que a mata está mais receptiva para ambos. O roteiro leva crer para uma França em crise de trabalho e moradia, onde há nas entrelinhas a clarividência de um mundo globalizado e viril para com os que não se prepararam para enfrentar uma nova realidade de pessoas capacitadas.

Há uma bela cena no epílogo, do encontro com a bola de futebol entre filho e mãe no mar, servindo de elo de união para uma aproximação entre aquelas duas criaturas alijadas de um contexto superior de uma vida desejada por elas. Elsa mostra para Ethiene as dificuldades que o mundo reserva, beirando a uma crueldade, ao jogar várias vezes a bola nas águas turvas, fazendo-o esforçar-se para atingir seu limite físico de uma criança ainda inocente. Seu desespero para salvá-lo é o ápice da luta para vencer os obstáculos criados pela natureza, numa metáfora apropriada apesar do desafio perigoso.

O filho não é uma pessoa ruim como chega a imaginar, sequer a mãe é uma louca desvairada, pois busca a conquista a qualquer preço, diante das terríveis dificuldades de relacionamento na aproximação maternal. Falta para Elsa a estabilidade emocional e o equilíbrio financeiro, que vão com o tempo corroendo pelas entranhas sua paciência e sua obstinação de mãe. Teve a ajuda de um primo, que acaba por se complicar com sua companheira, resultando em mais problemas do que soluções.

O diretor bem que poderia ter feito algo melhor, decorrendo o título de um ditado francês, invocado por Elsa para demonstrar sua tenacidade: "sete vezes ao chão, oito vezes de pé". Faltou profundidade num tema já explorado à exaustão e com melhores resultados, pois ficou na superficialidade, andando aos trancos para um desenlace final, até certo ponto previsível e artificial para uma trama que tinha tudo para ser melhor explorada e com um acabamento digno.

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