Morte em Sarajevo
O interessante Morte
em Sarajevo foi outro filme bem aguardado e com boa expectativa de público
e crítica na 40ª. Mostra de Cinema de São Paulo, vencedor do Grande Prêmio do
Júri e do Prêmio da Crítica no Festival de Berlim, com direção e roteiro de Danis
Tanovic, cineasta nascido na Bósnia-Herzegovina e criado em Sarajevo. O realizador
tem em sua filmografia os prestigiados e importantes títulos do cinema do seu
país, tais como: Terra de Ninguém
(2001), seu primeiro longa e ganhador do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e o
Prêmio do Público de Melhor Longa Estrangeiro na 25ª Mostra; também é dele o
segmento Bósnia-Herzegovina do filme 11
de Setembro (2002, 26ª Mostra); O
Inferno (2005, 29ª Mostra), Triage
(2009), Cirkus Columbia (2010, 34ª
Mostra), Um Episódio na Vida de um
Catador de Ferro-Velho (2013) e Tigres
(2014, 39ª Mostra).
Um drama sobre os conflitos étnicos da Bósnia, Sarajevo,
Montenegro, Croácia e Sérvia que originou uma guerra civil entre os anos de 1992 a 1995. A causa foi por uma
combinação complexa de fatores políticos e religiosos com um fervor
nacionalista de crises políticas, sociais e segurança que se seguiu ao fim da
guerra fria com a queda do comunismo na antiga Iugoslávia. Esta agitação
ruidosa é o tema focado no cenário do Hotel Europe, em Sarajevo, para uma
movimentada preparação para a festa de gala da União Europeia como manutenção
da paz no continente, em memória do centenário do assassinato do arquiduque
Francisco Ferdinando pelas mãos de Gavrilo Princip. Mas há um grande entrave: os
funcionários do estabelecimento planejam uma greve pelos dois últimos meses de
salários atrasados, o que ocasiona um verdadeiro caos que poderá levar à
falência o majestoso hotel cinco estrelas hipotecado para um banco e com
dívidas astronômicas. Tudo depende deste importante jantar político que não
pode dar errado com a presença da mídia internacional.
Em meio ao clima tenso está uma jornalista de Sarajevo que
duela ao vivo num programa de televisão com um ativista da Sérvia, sobre as
causas e efeitos oriundos desde 1914, que explodiram na ferrenha luta pela
separação até o fim da Iugoslávia. O choque de opiniões leva para uma disputa
árdua entre os dois, tirando o programa do ar, levando para um desfecho trágico
com evacuação das dependências de todos os hóspedes e convidados famosos. As
consequências são as piores possíveis e se complicam ainda mais com a deflagração
da paralisação, diante do desaparecimento de um líder do movimento e o envolvimento
direto de uma antiga funcionária da rouparia que trará indiretamente
transtornos à sua filha despedida e assediada sexualmente pelo gerente.
O longa retrata um lugar belicoso que traz angústia e medo,
no qual há seguranças armados que agem violentamente para manter a ordem e
resolver as questões com ferocidade. Enquanto isto, como uma panela de pressão
ideológica, há uma crescente crise que aumenta as tensões, passando pela
recepção, lavanderia e cozinha até chegar à direção do estabelecimento. Nesta
turbulência toda ainda há um ator (Jacques Weber) dedicado no quarto mais
luxuoso, parece estar alheio à realidade, porém não consegue achar o tom
correto em seu ensaio solitário, embora seu objetivo maior seja a representação
adequada sobre os fatos de 1914. Os três eventos distintos: entrevista, greve e
encenação, irão se interligar pelos fatos ocorridos e as consequências da crise
financeira e política que fervilham e atingem o ápice, tendo em vista as
dificuldades de se manter aberto aquele local. Mas se as coisas não andam pela
transição forçada, chama-se a segurança para na base da truculência fazer
andar. São métodos enraizados de violência explícita que ainda prevalecem
naqueles homens rudes que cheiram pó.
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