Uma triste notícia para os cinéfilos: fechou em definitivo o
charmoso Cinema Victória de Porto Alegre. Estava ali, bem localizado no Centro
Histórico, com entrada pela Av. Borges de Medeiros e pela Travessa Acilino de
Carvalho (Rua 24 horas). Desaparece do cenário cinematográfico uma lenda do
patrimônio da arte, um dos últimos cinemas de rua que foi empurrado nos últimos
tempos para dentro de uma galeria.
Foi ali que assisti meu primeiro filme na Capital gaúcha, o
longa Um Certo Capitão Rodrigo (1971),
de Anselmo Duarte, com Francisco Di Franco, Elza Prado e Pepita Rodrigues. Meu
tio me levou pela primeira vez naquele suntuoso cinema, com uma entrada
principal ao estilo de um teatro, todo atapetado em vermelho para um pisar
macio, dois andares de cadeiras de madeiras chiques para se apreciar as películas,
com uma sala de espera repleta de sofás e poltronas de couro, portarias com
funcionário engravatados e nas laterais bilheterias com moças bonitas e
educadas, de cabelos presos e um sorriso carinhoso nos lábios pintados de um
batom cintilante.
Havia uma bomboniere com as insuperáveis balas azedinhas e
as imperdíveis balas de goma, barras de chocolate ao melhor estilo da Neugebauer.
Pipoca não era recomendável, não ficava bem, lembrava pessoas ruminando. À
vezes, os filmes paravam de repente para serem trocados os rolos, um bom
momento para uma troca de beijos discretos e um agarrar de mãos no escurinho da
sala. Um bom local de referência para esperar a namorada e assistir em cinemascope
naquele telão Tubarão, de Steven
Spielberg, O Vento Levou (1939), de
Victor Fleming, Os Dez Mandamentos
(1956), de Cecil B. DeMille e o badalado O
Exorcista (1973), de William Friedkin.
No Cine Victória levei meus filhos para assistir comédias,
suspense, dramas e quase sempre os infantis da Walt Disney, entre os quais Branca de Neve e os Sete Anões (1937), Cinderela (1950) A Bela Adormecida (1959), além de filmes de piratas, ilhas de
tesouros, entre tantos. Fica uma ponta de melancolia pelo fechamento e um ciclo
que se encerra para o último cinema de calçada, ou quase, pois já estava encolhido
dentro de uma galeria. Agora, sobrou ali, apenas um espaço vazio que logo será
ocupado por uma agência bancária, ou um restaurante, ou ainda, quem sabe uma agência
lotérica. Tudo ficou para trás, repleto de reminiscências das lembranças de um
passado, na qual a arte e a cultura sucumbiram diante de uma economia combalida
e em crise. A
dor da derrota novamente se faz presente no sombrio e desesperançado futuro do
cinema. Triste, mas realista.
6 comentários:
Desculpe-me, Roni, mas não entendi a tua cronologia familiar/cinematográfica. Não sei a tua idade, mas foste a primeira vez no cinema em 71 e, imagino muitos anos depois, levaste os teus filhos pra assistir Branca de Neve, Cinderela e A Bela Adormecida? Foram reprises nos anos 80? Ou talvez nos anos 90, já que teus filhos talvez fossem muito pequenos nos 80? Eu sou mais jovem e talvez, por erro meu, lembre de assistir no Victoria apenas filmes da minha época nos anos 80 e 90. Lembro de, quando criança, querer assistir reprises, mas elas eram muito raras. Lembro de conseguir assistir no Bristol uma reprise de Alien, já que na época original que foi lançado eu não pude assistir. Mas tantas reprises de animações assim no Victoria, ao menos nessa época, eu realmente achava que não ocorria.
Quanto à tristeza pelo encerramento das atividade, confesso que senti isso apenas na despedida do cinema original, quando foi apresentado o filme "Ou Tudo Ou Nada", indicado aquele ano ao Oscar. Estava lá no dia em que o cinema fechou. Essa porcaria que ficou no lugar eu realmente dispenso. Além de não haver nenhum resquício nostálgico do cinema antigo, a qualidade técnica e de atendimento era péssima. Estive lá para assistir um filme brasileiro no ano passado e eles interromperam a exibição na hora dos créditos, dá pra acreditar? Sou nostálgico, mas graças a Deus temos opções bem melhores do que esta nos dias de hoje. O fabuloso IMAX pode não ter o charme nem a programação dos cinemas antigos. Mas este Victoria, além ter uma das piores qualidades técnicas de Porto Alegre, tinha uma das piores programações também. Portanto não tenho saudade nenhuma, rsrsrs!
Em Porto Alegre foi a primeira vez que fui ao cinema. Já tinha ido antes no interior.
Levei meus filhos para assistir as reprises nos anos 80 e 90. Muito boa tua cronologia.
Quanto à programação, realmente estava muito ruim ultimamente, com filmes sofríveis.
Mas sempre que fecha um cinema, dá uma amargura muito grande em ver as portas trancadas definitivamente.
As lembranças do passado teimam em retornar. Fazer o quê?
Sim concordo. Sofro até hoje com o fechamento do Baltimore, na época, a melhor tela da cidade. Era uma das maiores e tinha uma posição que permitia a visão completa da tela na primeira fila, sem esforço. Tantos filmes e tantas emoções que eu vivi naquele complexo de cinemas! O último filme foi O Homem Bicentenário, hehe!
OLÁ!
Estamos tentando reabrir o cine até dezembro, com tecnologia 100%digital
mais informacoes lcmaurente.cinevictoria@gmail.com.
att
roberta martins
Olá, comunicamos que o Cine Victória reabriu para exibições na última sexta-feira, dia 1º.
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