segunda-feira, 11 de abril de 2011

Rio

















Contradições da Cidade Maravilhosa

O longa de desenho animado Rio teve na direção e roteiro o cineasta carioca Carlos Saldanha, que também já havia dirigido A Era do Gelo 2 e 3 e Robôs, é um verdadeiro passeio turístico pela bela e maravilhosa cidade do Rio de Janeiro, mostrando samba, futebol, carnaval e também os malefícios e contrariedades que estão impregnados por lá, como fizera timidamente antes o filme Alô Amigos (1942), através do papagaio Zé Carioca.

O filme já começa com o transporte ilegal de animais do Rio para Minnesota (EUA), de uma espécie rara de arara macho, cor azul, carinhosamente chamado de Blu, que será adotada pela simpática livreira americana Linda. O animal foi retirado das florestas brasileiras através do tráfico ilegal e contínuo de pássaros em extinção, algo que nem Avatar conseguiu, apesar de todo seu inesgotável aparato. A mocinha recebe a visita do ornitólogo brasileiro Luiz que propõe sua ida ao Brasil e levar Blu para reproduzir com a fêmea Jade, visando manter a espécie.

Mas a recepção na Cidade Maravilhosa não foi da melhores, pois logo há um sequestro da ave rara e a trama toma ares de aventura, levando a garotada a delirar em 3D, esta nova mania de filmar, diante dos inegáveis recursos tecnológicos sofisticados e altamente convincentes, que fazem adultos e crianças se embebecerem de prazer e êxtase no visual que o diretor propicia. Os pontos turísticos são meticulosamente colocados no cenário como pano de fundo, como Copacabana; o Pão de Açúcar; o Cristo Redentor; a Lapa; os desfiles de escolas de samba na Marquês do Sapucaí, colorindo com os carros alegóricos, as fantasias, as mulatas; toda a beleza em voos esplendorosos de asa-delta da Rampa de Pedra Bonita; as idas e vindas do Bondinho de Santa Tereza com os pássaros sobrevoando o local.

O desenho animado visto na versão dublada tem a magia e a originalidade do sotaque carioca maneiro e com seu malemolejo inerente ao povo do Rio, como na amizade dos pássaros cardeal Pedro e o canário Nico; assim como o magnífico personagem do cachorro buldogue Luiz e sua fantasia ao melhor estilo de Carmem Miranda; o carnavalesco tucano Rafael, que tem uma esposa possessiva e ciumenta, é pai de 17 tucaninhos, busca uma oportunidade ímpar para se divertir na folia maior, ao ajudar Blu e Jade a se libertarem das amarras, assim como ele próprio se sente preso no universo do casamento; o mau-humorado e perverso gavião Nigel, a serviço da turma de contrabandistas; os macaquinhos covardes e perniciosos colaboradores do gavião.

O diretor deu uma passada rápida e sem um aprofundamento maior nas favelas, embora seja o local onde os contrabandistas moram, sem que haja uma crítica contundente, ficando mais nas entrelinhas e na implícita retratação de um local perigoso e inseguro, ainda que apresentada a figura do negrinho órfão, que vive na rua e colabora com os bandidos que arrepende-se depois, seja fruto de uma infância conturbada. Saldanha tinha por objetivo evidente mostrar as belezas naturais e o encantamento das maravilhas do Rio, sem fazer uma crítica feroz às mazelas da cidade. O filme foi proposto ao divertimento e atinge em cheio sua meta, pois dificilmente alguém sai entediado ou de cara torcida da sala de cinema. Os aplausos são ouvidos sonoramente e as crianças tentam agarrar os pássaros na ilusão de ótica da terceira dimensão. Registre-se a bela fotografia de Renato Falcão e a agradável trilha sonora de Sérgio Mendes, com as participações de Carlinhos Brown, Bebel Gilberto e William.

Mesmo de forma simples, sem uma retórica esfuziante, há o alerta do tráfico de animais, especialmente aqueles em extinção, são solenemente deportados de nossas florestas brasileiras. Há o brado ecológico no sinal lançado de que muita coisa tem que melhorar na fiscalização, para se evitar que uma espécie única como da arara azul seja enviada para os EUA, sem sequer saber voar, diante do tratamento domesticado que ganhou, numa ironia fina e mordaz aos imaginários civilizados.

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