quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010
Lula, O Filho do Brasil
Contrariedades Sobre Lula
O diretor Fábio Barreto nunca foi um grande artesão, pois tem em sua biografia desastres monumentais como A Paixão de Jacobina (2002), Bela Donna (1997) e A Nossa Senhora do Caravaggio (2007), entre alguns dos tantos. Já fez um bom longa que concorreu ao Oscar de melhor filme estrangeiro O Quatrilho (1994), com a sempre ótima Glória Pires, que desta vez encarna a impagável dona Lindu, mãe do presidente Lula, com suas frases de efeito em repetitivos clichês da sabedoria popular num estilo autoajuda, tais como: "A rapadura é doce, mas não é mole não" ou ainda "devagar com o andor que o santo é de barro ", neste polêmico filme Lula, O Filho do Brasil, que não é nenhum desastre, porém está longe de uma produção de grande qualidade.
A película começa num estilo semelhante a Dois Filhos de Francisco (2005), de Breno Silveira, contando toda as dificuldades deste interior do Brasil, mais especificamente em Garanhuns, no sertão de Pernambuco, sobre a saga da mãe pobre que fica com um lote de filhos enquanto o marido vai se aventurar em Santos, São Paulo. Sua ida é meio forçada e graças a um dos filhos que mais tarde irá conduzir Lula para a política brasileira através do sindicato dos metalúrgicos.
Há falhas no filme, como a interpretação do bom ator Rui Ricardo Dias que apresenta a língua presa no início do longa, mas depois esquece e a língua se solta com naturalidade, na fase de Lula já barbudo e envolvido nos grandes comícios e sua luta contra a temível polícia repressora de São Paulo, naqueles "anos de chumbo". Falha de direção, diante da descontinuidade de um personagem que fica estereotipado.
Barreto tenta se aproximar do filme político, após abandonar a ideia de Dois Filhos de Francisco, tentando ingressar na seara do protesto como feita de forma esplendorosa pelo diretor Roberto Farias em Pra Frente, Brasil (1983), onde o futebol anestesiava o povo com a conquista da Copa de 70, enquanto isso os presos políticos eram torturados barbaramente no interior das celas ao som dos gols de Pelé, Tostão, Jairzinho & Cia. Obviamente que os atletas nada tinham com isso, eles estavam apenas defendendo a pátria de chuteiras, chavão este criado pelo notável dramaturgo Nelson Rodrigues.
Lula, O Filho do Brasil não consegue desenvolver e ter a contundência do filme do Roberto Farias, este sim, com luz própria e um talento acima da média. Tenta timidamente, quando da prisão de Lula, mas não avança e fica na superfície. Pra Frente, Brasil aborda um trabalhador confundido com um ativista político, por isso é torturado ao extremo, em desempenho elogiável de Reginaldo Farias, mas Barreto parece querer se livrar logo do cenário político, deixando Lula solto num roteiro percorrido como se fosse de um documentário, ao se aproximar o epílogo.
Proposital ou não, fica a sensação que Lula teve em Lurdes (Cleo Pires) seu grande, verdadeiro e único amor. O mundo girava em torno dela e do primeiro filho e desmoronou com sua morte prematura. Já a primeira dama Marisa Letícia, interpretada por Juliana Baroni, está deslocada e sua participação é pífia e insossa, não há uma interação com seu amado, fica algo de fútil numa aproximação simplória, assim como a frágil professorinha (Lucelia Santos) que aparece e some por decreto. Outro personagem estereotipado é o pai de Lula (Milhem Cortaz), com suas bravatas e porres homéricos desfila como um troglodita inveterado, está amplamente demonizado e caracterizado como um selvagem, contrastando com a candura, a leveza e a simbólica beatificação de dona Lindu, sem nenhum reparo ou equívoco na educação dos filhos e na grandeza de vida. Exageros à parte, até na morte partiu como uma santa.
Talvez o maior equívoco da produção fosse os patrocínios de empresas construtoras e de operadoras de telefones. Sempre houve alguma desconfiança no Governo Lula destes segmentos da sociedade, inclusive com denúncias em revistas semanais, o que causa um desconforto em época de eleição, retirando a isenção do longa, assim como o lançamento em ano de campanha eleitoral causa uma sensação de propaganda, porém se depender do filme, não irá acontecer, até pelo decepção na bilheteria, pois era esperado um público de 12 milhões de espectdores e, até agora, se chegou em apenas 800 mil.
Restou do longa um Lula persuasivo, insistente e galanteador com suas namoradas, buscando sempre a aproximação no sindicato e propício para a conciliação. Frio na morte do pai e abalado pela perda da mãe. Uma tentativa tímida de mostrar um país em convulsão pelas greves dos metalúrgicos. Lula poderia ser mais de carne e osso, assim como dona Lindu, pois não afloram defeitos como seres humanos, deixando todos os malefícios demoníacos para tenebroso pai, que sequer teve analisado seu alcoolismo pelas causas e depois consequências.
O longa, se não é de todo inconsequente, tem alguns méritos razoáveis como ao menos a tentativa de mostrar uma época em ebulição e neurotizada pelos caçadores de comunistas, a perseguição implacável aos trabalhadores sindicalizados e a retirada do cenário de lideranças do comando de greve ou que pudessem parar as fábricas automotivas. Houve um exacerbado ideologismo que confundiu e minou parte da crítica a aderir aos detratores e opositores travestidos de imparciais, razão pela qual fulminou-se o filme, desconhecendo-se ou ignorando-se a existência de um contexto sócio-político de um regime de exceção.
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