quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Seleção de Filmes Bourbon (Minha Terra, África)













Minha Terra, África (White Material)

A diretora francesa Claire Denis que brilhou com Chocolate (1988) - não confundir com a comédia de Lasse Hallström (2000), com Juliette Binoche e Johnny Deep- e o perturbador e instigante Desejo Insaciável (2001), drama sobre a carne e seus impulsos, lança White Material, traduzido para o português Minha Terra, África, seu último trabalho, ainda sem tradução e com previsão para estreia no Brasil no final do ano, foi apresentado no último Festival de Cannes, com discreta recepção de público e crítica, propiciou assisti-lo no minifestival da Seleção de Filmes Bourbon, em sessões inéditas.

A película foca sua trama em Maria (Isabelle Hupert- sempre impecável e com irrepreensível atuação), uma fazendeira francesa branca que planta café num certo país da África em convulsão social. O longa francês tenta refletir os problemas sociais e as convulsões africanas, demonstrando os conflitos tribais e as disputas acirradas pelo poder nas conturbadas camadas de um povo em litígio com problemas raciais extremados, tendo o líder dos rebeldes se refugiado na casa da proprietária e recém-separada do marido André (Christopher Lambert).

Maria está na boca do vulcão com todos suas manifestas e dificuldades existenciais, vendo o sofrimento do filho, uma pessoa frágil e conflitada com o mundo externo, sem objetivo de vida definido, vivendo sistematicamente entre a mãe, o pai e o outro irmão paterno, fruto do novo relacionamento de André com uma mulher inconstante. A diretora lança mão de uma forma convencional ao mostrar os pedágios cobrados pelos rebeldes e acuados pelas milícias oficiais e paramilitares. Há uma efervescência brutal na busca pelo poder, com degolas, execuções sumárias e crueldades mostradas com certo requinte de perversidade.

Claire Denis mostra os negros recrutados para trabalharem na colheita do café, na fazenda de Maria, sob imensa tensão na região, mas não consegue se livrar de cenas apelativas e reflexões pouco imaginativas, sem maior densidade, fruto de um roteiro que banaliza a violência e tira o foco das reivindicações e dos dramas individuais e coletivosMinha Terra, África não chega a evoluir e a profundidade aguardada acaba por diluir-se, por falta de uma melhor e capaz firmeza na direção, embora com uma fotografia magnífica e com atuações razoáveis de um elenco que desponta com Isabelle Hupert em destaque, o longa naufraga e implode, num final melancólico sem inspiração.

A cineasta bem que poderia ser mais crítica, se deixasse o longa com menos perversão e focasse o resultado na luta inglória de um povo que busca um país de melhor qualidade, mas a plataforma reivindicatória é pueril e se dispersa na fragilidade e pouca lucidez da diretora que empolgou com Chocolate e Desejo Insaciável, mas agora dá mostras de falta de criatividade, ficando na mesmice e no trivial num filme comum.

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