segunda-feira, 8 de março de 2010

Norberto Lubisco Permanece Fechada



Cinema Fechado

A Casa de Cultura Mário Quintana possuía três salas de cinema: Eduardo Hirtz, Paulo Amorim e Norberto Lubisco. Porém, no mês passado fechou, temporariamente, a aconchegante Sala Norberto Lubisco, por determinação da Secretaria Estadual de Cultura, sob a pífia alegação de segurança.

Quando se fecha um cinema, morre um pouco da cidade e as pessoas que tinham por hábito a frequência contumaz naquele espaço cultural. Como bem observou o escritor e jornalista Juremir Machado da Silva, em debate numa rádio local com a secretária Mônica Leal, asseverou que esta não é uma pessoa com vínculos estreitos à cultura no Rio Grande do Sul. Talvez a Secretaria de Segurança ou Finanças fossem mais adequadas, pelo histórico e as aptidões intrínsecas de seu perfil, mais próprio a efetivar cortes financeiras e enxugamento da máquina, ao afirmar com toda eloquência sua predileção por atos administrativos que até são louváveis, mas não se resume para a aplicação pura e simples. Houve esquecimento de incentivos fiscais e na busca da Lei de Incentivos à Cultura (LIC)?

Parece que se desligará no final do mês, visando se desincompatibilizar para concorrer às eleições em outubro. Os gaúchos agradecem seu ato heroico, pois estaremos livres das atrapalhadas da secretária, que conseguiu mobilizar praticamente todo o Estado, ao demitir o competente e indiscutível jornalista e historiador Voltaire Schilling do Memorial do Rio Grande do Sul, num ato incompreensível e despótico. Enquanto isso, desfilava pela Cavalgada do Mar, assistindo placidamente a morte de dois cavalos despreparados para este tipo de atividade. E a sala Norberto Lubisco continua fechada por problemas de segurança e uma suposta recomendação do Corpo de Bombeiros.

Já tivemos em outras épocas secretários comprometidos com a cultura e a intectualidade gaúcha de forma insofismável, senão vejamos: Carlos Appel, de 1995 a 1996; Nelson Boeira, de 1997 a 1998; Luiz Pilla Vares, de 1999 a 2000; Luiz Marques, de 2001 a 2003 e Roque Jacoby, de 2003 a 2006. Mas a secretária fala em remodelação e modernização, assumindo como uma promessa, talvez de campanha ou apenas uma frase solta e inócua.

Não é todo dia que temos à frente de um Theatro São Pedro, uma celebridade com toda a idoneidade de uma Eva Sopher, que orgulha e enaltece o povo gaúcho, pelas suas obras, realizações e investimentos culturais como o recente Multipalco. Mas Eva Sopher é uma intelectual voltada para a cultura e as coisas do teatro, com raízes plantadas naquele prédio que quase foi demolido. Troca governo e ninguém se atreve a trocá-la, pois seria uma insanidade mental pensar em tal ato.

No início do atual governo quase foram fechadas as três salas da Casa de Cultura Mário Quintana, diante da retirada do patrocínio do Unibanco, mas felizmente o Banrisul acabou bancando e todos nós pensávamos estar felizes para sempre, mero engano, pois o tiro de misericórdia estava faltando e atingiu no coração da mais charmosa salinha, a Noberto Lubisco, deixando a plateia de cinéfilos perdida, atormentada e em estado de viuvez. E a secretária montada em seu "pingo" brilhava pelas areias do litoral todo seu estado de graça numa cavalgada que foi condenada até mesmo pelo maior e incomparável tradicionalista de nossos pagos, Paixão Cortes, homem com visões além de nossos dias e que serviu de modelo para a estátua do Monumento do Laçador.

Ressalte-se que o brilhante intelectual Juremir Machado da Silva, não se conteve e publicou um artigo num jornal da capital, com o título emblemático Tempo de Matar Cavalos, parafraseando o título do filme iraniano Tempo de Embebedar Cavalos. Ainda bem que existe a possibilidade de no epílogo do atual governo, ser empossado alguém que conheça um mínimo de cultura nesse Estado e reabra a sala Norberto Lubisco que está fechada e se espera não seja para sempre, assim como aconteceu com tantos outros cinemas da capital, tais como: Cacique, Scala, Rex, Rey, Imperial, Guarani, Marabá, Roma, Astor, Vogue, Bristol, Baltimore, Talia, Avenida, Marrocos, Colombo, Presidente e Coral.

Lamentável sob todos os aspectos o fechamento da Norberto Lubisco, mas o que dói mais na carne e na alma é saber que a secretária não se abala e nem está preocupada, exceto em cavalgar e preparar a campanha eleitoral para as eleições vindouras. Será que ela foi ao cinema algum dia?

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