quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Mostra de Cinema São Paulo (Gromozeka)















Gromozeka

A Rússia está representada na 35ª. Mostra de Cinema de São Paulo por uma de suas apostas com o insuficiente Gromozeka, com direção de Vladimir Kott, que tem na filmografia uma produção para a televisão The Silver Samurai (2006) e o longa Mukha (2008), além do curta The Door (2004). Kott erra feio nesta produção tida como promissora, ao abordar nesta trama interessante até certo ponto como em retratar os dramas sociais de três amigos integrantes de uma banda de rock, tocando músicas positivas e alvissareiras, dando esperança de vida para o amanhã, sob as belas imagens das frequentes nevascas.

Um tema instigante e sempre interessante como dos personagens entrelaçarem-se em alguns momentos do drama, por circunstâncias meramente pelo acaso profissional num artifício bem explorado e batido nos roteiros atuais dos bons filmes. Mas falta o ritmo e o clímax em quase todas as cenas, onde o artificialismo vai se encaixando até o final, numa quebra de ritmo sequencial terrível para quem esperava algo bem melhor. A trama é constituída de três senhores cinquentões, com diversos problemas profissionais e particulares, onde o estresse está sempre presente. Um policial vive seu dilema com seu filho adulto que não quer nada com trabalho fixo e muito menos trabalhar junto com o pai. Prefere fazer freelances em serviços escusos. Tem ainda o conflito com sua mulher que está apaixonada por outro homem e todo muito sabe.

O segundo personagem é um taxista que não suporta ver a filha única atuar como atriz pornô e vai até as últimas conseqüências, adotando uma solução escabrosa; já o último do trio é um médico com uma doença grave e insolúvel, mas além de tudo está dividido entre o amor da esposa oftalmologista com o da amante radiologista. Apesar de que o apoio do colo e do braço amigo virá de um travesti, que o acalenta no pior momento de sua vida, num raro momento de lucidez do filme.

Porém o diretor jogou fora um tema que já foi abordado pelo cinema com ótimos resultados, como Meus Caros Amigos (1975) e O Quinteto Irreverente (1983), ambos de Mario Monicelli, enfocando o passado e presente na vida dos amigos: um conde falido, um arquiteto, um dono de um restaurante, um cirurgião e o amigo morto, fora um editor de jornal. Outro notável filme sobre amizade foi Nós Que Nos Amávamos Tanto (1974), de Ettore Scola, numa homenagem a Fellini, o filme mostra 30 anos na história da Itália (1945-1975) e o reencontro de três grandes amigos, que não se viam desde o fim da Guerra.

O roteiro leva para um desenlace fatídico e desanda de vez do meio para o final da película, com uma proposta eminentemente conservadora. O diretor detona sua obra que tinha tudo para dar certo, diante de uma proposta boa como o tema do reencontro de amigos para tocarem numa banda. Totalmente mal aproveitada ao começar a punir os pseudosulpados, num evidente e claro falso moralismo barato e a preservação da família unida a qualquer preço, nem que para isso tenha que se infringir a legitimidade da escolha. Um final melancólico e frustrante para um filme que torna-se descartável.

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