segunda-feira, 27 de junho de 2016

Paulina


O Estupro

Santiago Mitre foi o roteirista dos filmes Leonera (2008), Abutres (2010) e Elefante Branco (2012), todos realizados por Pablo Trapero, fez sua estreia como diretor em O Estudante (2011), ano marcado por convulsões sociais nos EUA, Chile e na Europa. Abocanhou mais de 20 prêmios em festivais pelo mundo. Em seu segundo longa, Paulina, baseado no filme homônimo La Patota, de Daniel Tinayre, produção de 1961, o sucesso continua para este cineasta de apenas 35 anos, obtendo premiações em San Sebastián, Lima, Turim, Biarritz e Chicago, mas a principal láurea veio ao ganhar o troféu principal da Semana da Crítica em Cannes. É uma coprodução da Argentina, Brasil e a França, que vem num momento de comoção nacional para os brasileiros, diante do estupro de uma jovem no Rio de janeiro.

O drama social retrata a temática da violência contra a mulher de uma maneira pouco convencional, sem ser sensacionalista, busca contextualizar a trama e dar luzes à história em uma reflexão mais profunda, tendo como subtema a justiça a serviço dos interesses pessoais de poderosos. Dolores Fonzi (atriz de Truman e O Crítico) interpreta com esmero a personagem-título, de 28 anos, que largou uma promissora carreira na advocacia após estudar e se formar em Direito, em Buenos Aires, para ser professora com suas convicções de ensino sobre política na província de Misiones, em uma escola rural no norte do país, na divisa com o Paraguai, considerada problemática e de alto risco pelas circunstâncias inerentes da região.

Mitre, que assina o roteiro com Mariano Llinás, não conta uma história linear, há idas e vindas, não segue uma cronologia precisa, pois aos poucos o enredo vai se desanuviando para ir ao encontro do imbróglio e suas nuances decorrentes do crime em que é vítima por engano, ao ser confundida com outra mulher. A protagonista que aparece no prólogo do filme discutindo seu futuro com o pai (Oscar Martinez), um poderoso juiz conservador e pouco ético na sua ortodoxia profissional, quer que ela siga seus passos na magistratura e desista de seu projeto de dar aulas no interior, sob o argumento de que qualquer outra pessoa de escolarização de nível médio poderia fazer o que é sua convicção de lecionar. Sustenta que como uma profissional na área do Direito poderá contribuir muito mais para a sociedade do que na carreira do magistério para alunos pouco qualificados. Sequer o namorado conseguirá desmotivá-la de seu objetivo traçado.

O filme apresenta uma complexidade bem maior do que parece, pois uma jovem que sofreu abuso sexual de um tio, resultando no nascimento de um filho, será o pivô involuntário por causa de um desacerto com o companheiro e apontado como o principal suspeito do estupro. O realizador coloca na tela um prato indigesto de uma situação dolorosa para que a personagem central vá buscar forças na crença da justiça e resolver sozinha o fato inusitado, pois ela quer conduzir uma investigação imparcial para saber dos motivos que levaram o acusado de uma gangue de jovens que falam guarani, entre eles alunos seus, a praticarem tamanho desatino de violência sexual contra uma pessoa indefesa com sentimentos humanitários e ideais de botar o mundo nos trilhos. Mas com a entrada do pai novamente em cena, a relação estremece, diante do propósito de buscar justiça pelas próprias mãos, através de uma vingança barata com elementos de força pela truculência policial. O choque pelas atitudes extremadas fragilizará a relação com o vínculo paterno ora em xeque, diante de sua crença pelo senso de justiça, ao afirmar num diálogo: “Quando os envolvidos são pessoas pobres o Judiciário não procura justiça, mas sim culpados”.

Outro componente importante do drama será a insistência do namorado em realizar o exame de DNA para saber se é ele o pai da criança prestes a nascer. Desmorona a relação e o amor entre eles perderá consistência. Para a protagonista, filho do estupro ou não, pouco importa na atual situação. A questão do aborto é tratada sutilmente no enredo, pois o objetivo não é fazer ou não simplesmente o abortamento. O que o diretor busca são os métodos legítimos e éticos da justiça, sem que haja apologia da vingança pelo crime cometido pelos infratores. Outro elemento importante lançado para reflexão pela psicóloga é a vítima no estado de Síndome de Estocolmo, quando passa a ter simpatia e sentimento de amor ou amizade perante o seu agressor, mas rechaçada com fortes argumentos pela violentada, ao invocar que as pessoas de poucos recursos não teriam o direito da ampla defesa, como demonstrado pelo aspecto físico dos abusadores. A cena da delegacia fica evidente e o reconhecimento fica prejudicado pela aberração imposta no contexto traumático é visível, mas que não irá abalar a convicção da professora, que antes fora perguntada por um agente machista representante do Estado, sobre o tipo de roupa que vestia ao ser atacada.

O cineasta não tem a pretensão de dar soluções definitivas, apenas questiona os métodos utilizados pelo ressentimento vingativo no ato do estupro. Eis um drama recorrente que deixa margens de dúvidas para o debate sobre a complexidade das circunstâncias que resultaram no delito, neste sintomático filme que causará muita polêmica sobre os desdobramentos entre vítima e estuprador, pois às vezes o espectador irá entender os gestos da moça que não quer dar simplesmente o perdão; já em outras decisões, não. Porém no fundo Mitre quer enfatizar e passar para a plateia as soluçõs antiéticas do poder representado pelo magistrado para se chegar ao desfecho pessoal com uma punição exemplar, desmedida até, mas sem examinar e dar seguimento com inteira justiça ou legitimidade ao fato no todo. Paulina é um filme perturbador por ser imparcial, isento e questionador da sociedade por colocar o dedo na ferida, por isto é notável na sua conjuntura temática das causas e efeitos.

quarta-feira, 22 de junho de 2016

O Botão de Pérola


Segredos do Mar

O cineasta chileno radicado na França Patricio Guzmán é um dos mais badalados documentaristas em atividade no cinema mundial. Dirigiu o fabuloso A Batalha do Chile (1975-1979), dividido em três partes, no qual passa a limpo o processo político-social anterior ao golpe militar de 1973 de seu país, bem como as nefastas consequências posteriores. É dele o invejável Nostalgia da Luz (2010), melhor documentário do European Film Awards, numa reflexão poderosa e profunda sobre os restos humanos encontrados no Deserto de Atacama, em uma grande mancha marrom da terra mais seca do planeta vista do espaço que funciona como uma porta de um triste passado.

O mais recente filme, O Botão de Pérola (2015), foi um dos premiados no Festival de Berlim no ano passado como melhor roteiro e Prêmio do Júri Ecumênico. É uma espécie de sequência por uma amostragem fiel de uma estrutura semelhante ao filme anterior, dando continuidade na abordagem do Golpe de Estado no Chile, sob o comando de Augusto Pinochet que destituiu Salvador Allende, em 11 de Setembro de 1973. Retrata com discernimento pela notável analogia da existência da espécie humana e suas origens relacionadas com a religião, a política e a ciência do infinito que se fundem pela filosofia, a arqueologia e a antropologia para propor uma metáfora vigorosa deste período nebuloso para os chilenos decorrentes de um inventário macabro. O realizador sutilmente troca de cenário, sai do Deserto de Atacama com o olhar para a terra e o céu e vai para o mar da Patagônia com os rochedos de pedra como paredões sinistros que se encontram com a Cordilheira os Andes.

O documentário começa explicando didática e professoralmente sobre a população indígena que habitou aquele lugar com quatro tipos de tribos; o poder e a importância da água no corpo humano e na terra, em que predomina majoritariamente, mas pouco se fala de sua importância. As entrevistas com alguns moradores da região entremeados com o depoimento de um poeta e os efeitos nefastos na ingenuidade do índio que foi para a Inglaterra num navio, voltou de lá e nunca mais foi o mesmo, sendo aculturado de maneira perversa, concluindo com a perda da identidade dele e dos nativos dali, ainda colaborou involuntariamente com os colonizadores na dizimação de seu povo. Com brilho poético, o cineasta demonstra toda sua sensibilidade para um mergulho sobre a existência humana e as questões dentro de uma relação de circunstâncias que acompanham os fatos e situações da política e as consequências sociais que faz abrir um debate contextualizado.

Na recente premiação em Berlim, em entrevista coletiva para a imprensa, Guzmán denota sua preocupação com o passado político, o que já fizera em Nostalgia da Luz, ao afirmar que: “Me interessa muito a geografia chilena e creio que se podem fazer metáforas por meio desses elementos. O que mais me interessa é a memória. Me interessa lutar contra a amnésia do Chile.” Por essa razão, faz toda uma construção pela geografia do país, o passado colonial com mortes e estupros de índios, para chegar até a ditadura imposta em 1973, que teve milhares de vítimas jogadas no mar, amarradas e empacotadas literalmente, com a intenção de não deixar vestígios das atrocidades. Mas o crime nunca é perfeito, como diz a velha máxima das investigações policiais, pois há a devolução de um corpo feminino desfigurado, que resultará em pesquisas e buscas no fundo do oceano com a descoberta de indicativos da truculência dos algozes que dominavam o poder. O desfecho do longa sinaliza para o título como o símbolo da aproximação, pois o objeto é marcante na barra de ferro presa no fundo do mar.

O mérito maior do documentarista é saber selecionar da série de depoimentos aqueles mais consistentes e adequados ao tema, sob o ponto de vista humano e com a força das descrições contadas pela boca de personagens do povo e por um intelectual sobre as marcas indeléveis colocadas na temática. Guzmán não é movido pelo discurso panfletário maniqueísta, longe disto, seu cinema busca o equilíbrio e a racionalidade do tema do tempo e da memória para um resgate histórico, pois sabe controlar e dar o tom na entrevista como um emérito questionador, ao deixar as pessoas à vontade para falarem algo interessante e os enigmas guardados com fervor e paixão pelos remanescentes que procuram manter suas vidas e dos seus familiares encravados naquela região com seus mistérios do passado. Um grande exemplo da narrativa sóbria é da velha índia que diz que eles não precisam de Deus e nem de polícia naquele lugar, falam com o coração e buscam soluções para as dúvidas mencionadas. Às vezes, em comoventes devaneios para continuar lutando com as forças que ainda restaram.

O Botão de Pérola tem a essência do cinema, diante das poderosas imagens captadas num cenário distante para dar cores fortes de uma realidade que existiu e deixou marcas por cicatrizes incuráveis que as informações desfilam na tela para o espectador refletir sobre uma brutalidade advinda de um processo deformado que atinge em cheio vidas que ficaram pelos caminhos tortuosos de um poder ilegítimo. Eis um espetacular registro sobre a história, através de uma narrativa em off descrita pelo próprio diretor, com uma fotografia fascinante para um estonteante cenário que serviu de palco para as barbáries covardes praticadas aos cidadãos contrários ao regime militar, que eram jogados dos aviões como se fossem objetos descartáveis. Mas sobram pistas oriundas do genocídio de opositores à tirania. Ali eram despejados para desaparecerem para sempre nas profundezas das águas salgadas apresentadas como um cemitério escondido para colocar presos políticos descontentes. Um ótimo documentário que possivelmente terá o terceiro ato para fechar a trilogia. Quem sabe no Estádio Nacional transformado em um campo de concentração do horror para 20.000 pessoas durante dois meses em Santiago?

terça-feira, 14 de junho de 2016

Festival Varilux Cinema Francês (Chocolate)


O Racismo

O aguardado filme que não decepcionou no Festival Varilux de Cinema Francês foi este drama biográfico Chocolate, dirigido por Roschdy Zem, um realizador que já tem três filmes em sua filmografia: Mauvaise Foi (2006), Omar M’a Tuer (2010) e Bodybuilder (2013), todos inéditos no circuito comercial no Brasil. O cineasta foi ao encontro de uma história baseada em fatos reais, ou seja, a ascensão do circo para o teatro do palhaço Chocolat, primeiro artista circense negro com sucesso na França. Do anonimato à glória, a incrível trajetória e a surpreendente queda desta famosa estrela que alcançou um estrondoso sucesso popular na festejada Paris da Belle Époque.

A trama centra a narrativa na dupla inédita formada por Chocolat -interpretado por Omar Sy, que migrou há mais de 10 anos do Senegal, o primeiro afro a ganhar o troféu César (o Oscar francês) de melhor ator por Intocáveis (2011), de Eric Toledano e Olivier Nakache, que viriam formar dobradinha novamente em Samba (2014)- que leva chutes no traseiro de Footit (estrelado pelo neto de Chaplin, James Thiérrée) e patrocinam uma impagável dupla que diverte a conservadora aristocracia francesa, diante das circunstâncias favoráveis para o prazer da imbecilidade. Enquanto o negro apanha do branco sem se rebelar, é considerado burro e quase que irracional, razão pela qual leva ao delírio uma plateia dissociada da dignidade. Mas a ascensão vertiginosa do artista o leva ao ápice da carreira pela fama, com dinheiro entrando fácil, muita jogatina no cassino, mulheres em profusão a escolher, bebedeiras homéricas, até surgir as discriminações diante da insistência do personagem central tentar ingressar no teatro para encarnar Otelo, de William Shakespeare, acarretando um desgaste na amizade dos parceiros inseparáveis para fulminar a carreira de ambos como um míssil.

Zem conta a triste história com detalhes didáticos, através de uma narrativa linear a vida do jovem negro Rafael Padilha, nascido em Cuba no ano de 1868, e vendido quando ainda era adolescente. Irresignado com a situação do escravagismo que imperava em meados dos anos de 1900, conseguiu com um esforço incomum, anos depois, fugir para trabalhar nas docas portuárias ladeada de muros e o cais. É descoberto por acaso por Footit para tornar-se um palhaço que irá contracenar com seu criador artístico numa pequena cidade interiorana no Norte da França. Como Padilha não soava à altura do esperado, ganhou o batismo artístico de Chocolat, que empresta o nome ao título do filme, virou uma celebridade no final do século XIX, terá problemas de documentação e será considerado ilegal no país até ser preso. Mas o caprichoso destino determina o encontro fortuito com a enfermeira viúva Marie (Clotilde Hesme) que cuida de crianças em um hospital infantil, será uma companheira de todas as horas, sofrendo humilhações por se relacionar com um homem de cor diferente, independente de ele estar no auge ou na miséria com tuberculose, morando em situação deplorável, resistirá como uma autêntica mulher de fibra. Um destino cruel é o castigo por não ser branco, embora sempre à procura de subsistência no mercado dos sonhos, terá uma nova realidade, quase sempre decepcionante, triste e trágica, como no epílogo da melancólica alegoria do céu estrelado que irá aos poucos se apagando.

Chocolate retrata um momento difícil para a raça negra na época da aristocracia francesa, que nutria repugnância de quem não fosse branco. Toledano e Nakache abordaram em Intocáveis um tema universal que é o reingresso na sociedade de um ex-apenado, tendo agravada a situação por ser um negro naturalizado, oriundo de um país africano e ex-colônia francesa; já em Samba o tom é mais leve e provocativo concomitantemente, sendo a inclusão social para um trabalho digno de um imigrante o foco da trama. O filme de Zem é simples na estética, deixando as metáforas afastadas do enredo, indo direto ao cerne do conflito pelo choque racial na Cidade Luz da Belle Époque. Não há grandes rodeios ou simbologias pelas desgraças sociais com a perda objetiva da identidade de um imigrante refugiado que é visto como um parasita. As piadas são razoáveis, às vezes beira a tênue linha divisória do pastelão para uma sutileza mais apropriada, sem estigmatizar pela rudeza, mas no contexto funciona como um elemento de descontração e bom humor para analisar um triste e doloroso contexto enfrentado pelos oriundos da raça afro.

O longa tem um toque de humor cáustico na busca pela igualdade, mas não tem a profundidade de um filme como O Porto (2011), do finlandês Aki Karismäki, que aborda o sofrimento e a ojeriza de uma casta que vira as costas, fruto da xenofobia racial, com um olhar de misericórdia e esperança; nem de Claire Denis no instigante Minha Terra, África (2009); ou do arrasador O Segredo do Grão (2007), do tunisiano Abdellatif Kechiche; ou ainda do contundente Cachê (2003), de Michael Haneke. Chocolate tem méritos inegáveis ao abordar a história do primeiro palhaço negro em Paris, contracenando com um branco, numa relação de duas pessoas opostas que se conhecem fortuitamente. Embora o tema racial seja o principal da abordagem, a inclusão social para um trabalho digno de um imigrante também está no mesmo plano. Resta um bom resultado reflexivo pela superação e do conflito existente, que repele dogmas normativos pela visão crítica da falência das instituições e pela arrogância fleumática de uma sociedade conservadora, ao mostrar o desequilíbrio diante do preconceito racial que faz emergir o ódio e o repúdio aos não nativos que buscam se estabelecer em solo francês.

Festival Varilux Cinema Francês (A Viagem de Meu Pai)


O Nefasto Alzheimer

Outro dos aguardados lançamentos neste Festival Varilux de Cinema Francês era a comédia dramática Flórida, batizada no Brasil como A Viagem de Meu Pai, dirigida com sobriedade e sensibilidade pelo competente Philippe Le Guay, que tem outros dois filmes de boas passagens pelos nossos cinemas: As Mulheres do Sexto Andar (2011) e o festejado Pedalando com Molière (2013). Seu último longa é uma viagem ao imaginário de um idoso que começa a perder a lucidez e mergulhar no mundo da fantasia, distanciando-se do cotidiano para oscilar entre a triste realidade e o sonho de um mundo de outrora e de reminiscências de um passado bem longínquo, mas que irá causar desconforto e perplexidade entre os mais próximos, como seus parentes atordoados com uma situação delicada num ambiente no qual se questiona pela dúvida lançada sem o ingrediente da zombaria.

A história é aparentemente simples, mas a complexidade do enredo está mais para uma reflexão dolorida do que para as diabruras do velhinho Claude Lherminier (Jean Rochefort- boa atuação) que aos 80 anos ainda conserva sua imponência de um lorde, apesar dos constantes ataques de confusão e esquecimento mental, mas que se recusa terminantemente a admitir. Já não é mais o famoso industrial respeitado pela credibilidade, foi obrigado a se aposentar por força da saúde dando mostras de um estágio debilitado. Como uma bomba que cai no colo, a filha Carole (Sandrine Kiberlain- impecável na interpretação com doação) travará uma batalha diária inglória e desgastante para cuidar do pai e evitar maiores dissabores com acidentes domésticos, pois ele não consegue viver sem a ajuda de enfermeiras, mas mesmo assim insiste em morar sozinho em sua bela mansão com suas obsessões e manias adquiridas, botando a correr todas suas zelosas cuidadoras, exceto a romena (Anamaria Marinca) que dará o pulo do gato.

Le Guay constrói um universo perverso advindo do tempo que passa, mas não deixa cair no melodrama fácil, deixando o bom humor e a sensibilidade das situações cômicas ingressarem como um doce amargor decorrente de uma acidez involuntária de uma vida que se esvai lentamente. Assim é o avanço da idade e os cuidados especiais que requerem, com a sugestão implícita do acometimento do nefasto Mal de Alzheimer através dos ocorrentes lapsos incuráveis de memória que se agravam ao longo do tempo, mas pode e deve ser tratado. O desenrolar do drama vivenciado pelo idoso através de sua visão, dará um ângulo correto pela distorção da enfermidade, criando fantasias como a viagem aos EUA para encontrar a filha caçula que morreu há mais de 10 anos; ou quando se arruma de maneira impecável para passar em revista sua antiga fábrica, sentando-se na mesa em que fora por muitos anos o dirigente máximo ali.

Como um novelo que se desenrola, o diretor vai lançando as situações diárias típicas de conflitos com as empregadas, o choque de frente com a filha e o atual namorado agredido várias vezes, tanto no psicológico como pelas vias de fato. O filme tem o viés da reflexão sobre a terceira idade e as peraltices causadas pela vítima da doença que aflora sem piedade e não como um elemento agressivo de quem tem as faculdades mentais sadias. Como referências de subsídios foram realizados dois outros notáveis filmes similares: Nebraska (2013), do independente diretor norte-americano Alexander Payne que brilhou ao contar uma peripécia semelhante, em que um idoso alcoólatra está convicto de que recebeu um bilhete premiado com prazo limitado para resgatar a fortuna, já com as ideias embaralhadas dando sinais de demência; o outro filme, bem mais próximo de Flórida, vem do Uruguai pelas mãos de Álvaro Brechner, o perturbador Sr. Kaplan (2012), com a leveza e a suavidade característica do autocrítico humor judaico, retrata com finesse cômica um senil ancião que acredita que há um alemão foragido nas praias uruguaias, vendendo refrigerante e peixes para a população. Mas há também outros cineastas preocupados com questões relacionadas à velhice, como nos magníficos longas argentinos Elsa & Fed (2005), de Marcos Carnevale, e Dois Irmãos (2009), de Daniel Burman.

A temática da perda da memória quase sempre tem um bom velhinho com atitudes mirabolantes, mas paradoxalmente por trás há uma doença devastadora que começa a atacar e destruir o cérebro, por consequência a razão, minando a consciência de forma inapelável para mergulhar no vazio existencial que acomete os idosos, principalmente os preconceitos na sociedade repressora de quem já não é mais jovem.  A Viagem de Meu Pai é primorosa nos detalhes das sutilezas do olhar desorientado e o corpo já debilitado pela idade, ficando acentuado o estrago pelo avanço da moléstia no protagonista, ao deixar a filha em maus lençóis, pois esta terá que tomar uma decisão: mantê-lo em casa e abdicar de viver com dignidade mínima, ou interná-lo num asilo especial para este tipo de doença. Eis uma realização dolorosa que traz uma insustentável leveza com sutileza na eficiente narrativa desta estupenda comédia agridoce, mas em que está embutida uma melancolia que arrebata o espectador com a crítica situação dentro de um contexto chocante e com os malefícios inerentes que irão fluir na tela de maneira inexorável pela reconstrução familiar buscada nos pequenos detalhes para uma amostragem que ganha tons de uma paranoia obsessiva. Há uma atmosfera equilibrada dos contrastes da liberdade e o medo da morte pela jornada de aventuras com uma magia peculiar.

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Festival Varilux Cinema Francês (Meu Rei)


Segundas Oportunidades

Uma das grandes promessas do Festival Varilux era o aguardado Meu Rei, da jovem e promissora cineasta francesa Maïwenn, na abordagem de um drama familiar sobre segundas oportunidades com bons argumentos de pessoas magoadas, em especial uma mulher atingida pelo destino da vida que lhe aplicou golpes baixos nas andanças do dia a dia. Mas a superação e a amizade estão presentes na ajuda mútua para continuar vivendo com dignidade e superar os traumas no isolamento que se encontra para ingressar novamente na sociedade competitiva, tanto profissional como nas relações amorosas decorrentes do meio social. A realizadora é conhecida no Brasil por O Baile das Atrizes (2007) e o cultuado Polissia (2011).

A trama é contada em flashbacks, a partir do momento do grave acidente de esqui em que Tony (Emmanuelle Bercot- ótima no papel que lhe deu a premiação de melhor atriz em Cannes, dividindo a láurea com Rooney Mara) quase perdeu a vida e acaba internada numa clínica de reabilitação, com intermináveis sessões de fisioterapia pra adquirir massa muscular e voltar a caminhar normalmente como qualquer mortal. Está numa posição desconfortável de dependência médica, se relaciona bem com os outros pacientes negros e muçulmanos, sem que haja um aprofundamento do tema do preconceito e da xenofobia, porém há uma contribuição útil. Diante do atual quadro, aproveita o vazio do tempo para refletir sobre seu turbulento relacionamento com as histórias do passado que envolvem o pai do seu filho, Georgio (Vincent Cassel- numa atuação impecável), principal foco de uma relação apaixonada e ao mesmo tempo doentia na essência. O casal viveu com intensidade um amor sufocante que lhe custou caro, inclusive ferindo com chamas explosivas e devastadores sua dignidade de mulher. Uma questão é colocada em xeque: o que fazer para se libertar desse imbróglio sentimental dolorido com sobras de marcantes fissuras? As feridas teimam em não cicatrizar à medida que a protagonista recupera-se fisicamente, mas há uma luta interna difícil para arranjar forças e pôr fim nos sentimentos emocionais abalados de muitos anos de um vínculo destrutivo e sem perspectiva de se restabelecer pelas fraturas deixadas pelo caminho.

Meu Rei é um drama familiar típico de uma grande história de amor e desamor neurotizado concomitantemente, advindo de uma entrega amorosa que começa aos solavancos num encontro fortuito numa danceteria, e a tendência é ir afundando cada vez mais. A diretora arma a trama com delicadeza e um olhar feminino com momentos de bom humor e graça para alimentar uma trajetória espinhosa. Parte do namoro, passa pelo casamento, separação e o filho que nasce pela súplica do marido apaixonado e bom pai, um Don Juan em alguns momentos críticos, carinhoso, estranho e envolvido fundamentalmente com seu círculo de amizade da juventude. Como um adolescente eterno que não amadureceu e, para atritar ainda mais, tem uma ex-namorada de quem não desgruda, sob alegação pífia de se suicidar, embora não demonstre sinais para tal desatino. Logo surgirão as hipóteses do vício de drogas no seio familiar como suposto pretexto para evadir-se e desaparecer momentaneamente. A protagonista é uma advogada criminalista que parece perder a noção e a sensatez, deixando de lado o aspecto da lucidez pela pura emoção tomando conta e destruindo seu equilíbrio para provocar-lhe danos materiais e psicológicos, que conta com a solidariedade do irmão (Louis Garrel). Os poucos momentos de felicidade são suplantados pela infelicidade num ciclo desgastante do casal desatinado.

O filme foge em parte dos clichês habituais que pululam nossas salas de cinema, embora simples na estética, deixa as metáforas afastadas do enredo e vai direto ao ponto. Não há vítimas, nem réus, embora a tendência da vilania recaia sutilmente sobre Georgio, num enredo sem grandes surpresas, diante da imparcial narrativa construída por personagens de carne e osso não robotizados e bem elaborados no aspecto psicológico, para deixar ao espectador fazer sua avaliação neste drama de muita loucura, confusão, idas e vindas, num atritado romance doentio de um matrimônio em vias de rompimento iminente. A diretora aborda não apenas a violência física do marido possessivo, mas em especial o aspecto emocional, diante da teimosia da esposa e mãe em manter a relação para não prejudicar o futuro do filho, numa alegação um tanto estapafúrdia para os dias de hoje. O desfecho dará mostras da árdua luta, bem como a condução em final aberto, que amplia para uma solução pessimista neste bom drama desta temática recorrente, mas sempre com novos recheios dos ingredientes para uma reflexão sobre as relações estremecidas dos casais e suas idiossincrasias que surgem durante o itinerário dos anos.

domingo, 12 de junho de 2016

Festival Varilux Cinema Francês (Agnus Dei)


Conflitos Religiosos

Uma das surpresas positivas deste Festival Varilux de Cinema Francês é Agnus Dei (tradução literal Cordeiro de Deus), com o título original de Les Innocentes, dirigido por Anne Fontaine, reconhecida pela crítica internacional por Coco Antes de Chanel (2008), depois se solidificou com Meu Pior Pesadelo (2011), Amor Sem Pecado (2013) e Gemma Bovery- A Vida Imita Arte (2014). A nova musa da França Lou de Laâge, desde que fez a garota moderninha Respire (2014), de Mélanie Laurent, está soberba no papel da jovem médica francesa Mathilde Beaulieu, uma ateia comunista que namora Samuel (Vincent Macaigne), um médico judeu e atento para os passos da companheira. Eles estão numa missão pela Cruz Vermelha em um hospital, em plena II Guerra Mundial, com cenário na Polônia, em 1945, invadida pelos russos e alemães, servindo o conflito como pano de fundo para as abordagens dos conflitos decorrentes da Igreja Católica.

A diretora foca seu longa-metragem no estupro das freiras num convento durante a guerra. A médica é encarregada de tratar sobreviventes franceses antes de serem repatriados, ao ser chamada para socorrer uma freira polonesa, descobre que há muito mais a fazer pela causa. Embora relute inicialmente, concorda em prestar atendimento para trinta freiras Beneditinas que estão isoladas do mundo exterior, literalmente enclausuradas entre os altos muros de proteção. Alguns segredos irão se decifrando com o andar dos dias, entre eles o mais arrebatador: várias freiras engravidaram dos soldados russos que ocuparam o convento e lá ficaram alguns dias aterrorizando em circunstâncias dramáticas as religiosas. O cotidiano se inverte e agora as noviças estão na iminência de dar à luz. Um elo surge entre Mathilde e a cúpula da comunidade católica, a irmã Maria (Agata Buzek), que faz a transição aos poucos, para tentar quebrar as regras da vocação religiosa, tendo em vista que vidas correm perigo de serem ceifadas, diante das relações complexas aguçadas pelo perigo que farão delas cúmplices para um novo propósito de uma abertura da visão oculta e oblíqua que foram determinadas pelos ferrenhos dogmas religiosos, causando uma cegueira geral dentro do misticismo ofuscante para a liberação das ideias mais amplas.

O drama de Fontaine segue uma linha crítica encontrada também no magnífico enfoque dado pelo seu conterrâneo Bruno Dumont, em O Pecado de Hadewijch (2009), ao retratar uma jovem da classe alta que deseja ser freira e tem um envolvimento com dois irmãos muçulmanos que moram na periferia de Paris. A moça é uma católica que tem vocação, mas entra em conflito existencial ao descobrir outras religiões, percebe a fé e os conceitos de devoção contrários ao catolicismo pragmático que conhece e testa sua fervorosa e ardente obsessão, tendo como lema sua obstinação pela igreja. A cineasta francesa revela-se uma estudiosa da paixão mística, ao abordar com grande sensibilidade o extremismo religioso, com um olhar crítico avassalador. No centro do longa está uma devoção pelo catolicismo como fé inabalável, em que a vergonha e o medo da repercussão do escândalo na casa sagrada fazem com que a madre superiora também cometa atrocidades contra os recém-nascidos jogados nas intempéries da natureza, em que irão ao encontro da barbárie praticada pelos soldados desalmados quase na mesma proporção dos atos repugnantes e drásticos da irracionalidade mostrados na tela.

O filme flui por uma dramaticidade de forma autêntica, ao retratar o inevitável choque de ideias dogmáticas de uma ardente religião contrastando com a ciência médica representada por uma ateia, como símbolo civilizatório das vítimas estupradas em estado de penúria e fragilidade, com pouca opção de escolha para seus filhos no futuro. Outro drama que também mostra a religião em xeque foi abordado de forma notável em Ida (2013), de Pawel Pawlikowski, em que a trama é centrada numa jovem noviça que está pronta para prestar seu voto de castidade e tornar-se freira. Porém, antes do evento religioso, ela é instada pela madre superiora para visitar uma única pessoa restante de seus laços de família. Fontaine mostra os porões dos conventos e a inabalável fé cristã sendo corroída em seus alicerces pelos desatinos de selvagens homens que atacam mulheres como feras humanas num cenário sombrio de uma guerra sem precedentes éticos e morais. Pawlikowski retrata a religião fora do convento e o registro da invasão nazista durante a Segunda Guerra Mundial com o extermínio macabro de três milhões de judeus poloneses com a colaboração de antissemitas em detrimento do patriotismo, bem como o período stalinista de perseguição aos comunistas no governo de Varsóvia, além da importância fundamental de reconstrução do país pela Igreja Católica.

Agnus Dei tem um desfecho um tanto quanto discutível pela solução fácil e com requintes de melodrama com final feliz, embora não invalide o todo da realização, o filme questiona com uma boa reflexão os efeitos do estupro, a religião fervorosa para seus fiéis e seguidores voluntários ou induzidos, a guerra antiética e sem limites de mínima dignidade, o suicídio para pôr fim ao desespero do martírio da dor com a razão perdida e o bom senso que ficou pelo caminho evidenciado de um mundo de permanente busca, em que há contrariedades religiosas nos seus preconceitos, contradições e radicalismo. Ou optando por se fechar dentro dos muros como faz o catolicismo, sendo espreitado pela presença marcante da morte e da tristeza pelo olhar forte e uma posição firme da diretora sobre os dogmas religiosos e suas aberrações ultrapassadas de proselitismos e epifanias, com o uso inadequado dos seus adeptos pelo radicalismo exacerbado explorado com dignidade e elegância neste fascinante drama.

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Ponto Zero


Adolescente em Crise

José Pedro Goulart é um cineasta gaúcho atento e sensível às circunstâncias e os preconceitos da civilização no cotidiano da vida. Assim foi com seus dois curtas-metragens que realizou em parceria com Jorge Furtado: Temporal (1984) e O Dia em que Dorival Encarou a Guarda (1986). Ponto Zero está sendo bem recebido pela crítica e pelo público, embora seja possível afirmar que tenha perdido uma grande oportunidade de marcar época com este drama familiar mesclado com elementos de thriller policial, com algumas incursões pelo sobrenatural, através dos pesadelos do protagonista em sua fase de transição da adolescência para o mundo dos adultos. Mas há méritos inegáveis no retorno ao cinema, pois voltou 30 anos depois de uma ausência dedicada para escrever livros, fez carreira em publicidade, alguns trabalhos para a TV, e elaborar sem pressa o roteiro deste seu primeiro longa para apresentar no Festival de Gramado de 2015, ganhando merecidamente os prêmios de melhor som e montagem.

Antes que o Mundo Acabe (2009), da também gaúcha Ana Luiza Azevedo, e As Melhores Coisas do Mundo (2010), da paulista Laís Bodanzky, apenas para citar duas referências na temática, foram fundo na questão dos prazeres e desprazeres da adolescência, suas dúvidas e os caminhos que procuram em suas vidas, além do questionamento da infância que fica para trás como um marco para o futuro. Laís coloca o fato de o pai assumir a homossexualidade que serve de gancho para os problemas encontrados no seio do colégio e com desdobramentos nas amizades que desenvolve um personagem complexo e frágil. Já Ana Luiza reflete com uma beleza melancólica, tendo como mote o triângulo amoroso dos amigos e colegas de aula, as enormes confusões no ambiente escolar, para um mergulho no universo juvenil das grandes paixões, os relacionamentos com as namoradinhas, os traumas da garotada, sem deixar de abordar a ausência do pai.

Goulart não foge muito do tema, ao pintar com tintas de tormentas e dos percalços que causam o medo e a tensão psicológica no dia a dia como um pesadelo quase que rotineiro. Ênio (Sandro Aliprandini) é um jovem tímido de 14 anos que precisa lidar com as mudanças inerentes da idade para a troca de fase que se aproxima para buscar a maturidade. Esconde-se atrás da vasta cabeleira como se estivesse dentro de um casulo resistente de proteção da carapaça intransponível. O garoto tenta superar os traumas e fantasmas decorrentes de uma adolescência repleta de turbilhões, entre elas ser vítima de bullying na escola. Mas tem seus momentos lúdicos ao andar de bicicleta, porém age como uma ponte no confronto entre sua mãe (Patrícia Selonk), uma mulher sofrida e humilhada pelo marido (Eucir de Souza), um radialista sensacionalista, demagogo e popular na emissora que trabalha, com uma atitude grosseira e fria dentro de casa, sempre distante dos dois, vive num mundo à parte.

Ponto Zero não é um filme perfeito, oscila entre o drama do microcosmo familiar e as alucinações fantasmagóricas delirantes, principalmente após o acidente que Ênio se envolveu, depois de pegar escondido o carro do pai e ir para a Avenida Farrapos, um ponto tradicional de prostituição de mulheres e travestis, em Porto Alegre, decorrentes das dificuldades com a chegada da puberdade e o interesse repentino pela sexualidade, sem saber como lidar com a situação. O fato inusitado trará consequências dolorosas para o rapaz maroto, como uma espécie de punição para a rebeldia pela traquinagem desastrada pela indisciplina que tenta vencer o medo. Beira um certo conservadorismo pelo politicamente correto. Há uma flagrante quebra do clímax da narrativa que vinha sendo bem estruturada, diante do desvio de rota da trama, deixando fluir mais as imagens num tom desvairado, porém magnificamente contrastada com a chuva caindo torrencialmente, para dar um ar mais poético, quase que um lirismo às avessas, o que torna impactante do ponto de vista visual num filme silencioso de poucos diálogos.

Ponto Zero avança e ao mesmo tempo se retrai no vazio existencial do pai, da mãe e do filho que busca a autoafirmação e uma identidade ainda debilitada dentro de uma cidade em que os carros andam para trás, como a inversão da vida. A construção dramática do protagonista fica a desejar pela falta de densidade no roteiro que sofre alguns contratempos pela falta de ritmo, supridas pela abordagem sem estereótipos, apesar dos anseios à flor da pele. O personagem central cai na piscina, após algumas vozes vindas de um espaço sideral, na cena do prólogo e repetidas no epílogo, parecem soltas e sem função, exceto como imagens para serem apreciadas. A trilha sonora de Leo Henkin se encaixa com naturalidade e não interfere nos efeitos sonoros da produção, bem como há se destacar a bela fotografia de Rodrigo Graciosa pelos planos-sequência, entre os quais o do menino correndo à noite pela rua no meio do aguaceiro interminável. Goulart já é um diretor maduro que deverá evoluir muito, pois deu mostras de um bom grau de conhecimento, apesar de alguns equívocos, neste simpático e diferente longa-metragem de estreia.