sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Amor Pleno














Paixões Tediosas

O bissexto e ermitão cineasta Terrence Malick tem por formação a filosofia. Leva uma vida de enclausuramento, não dá entrevistas, raramente é fotografado e passa anos sem filmar. É perfeccionista em seu trabalho, roda centenas de negativos e usa seu tempo burilando material para editar uma obra. Realizou em 2011 o fabuloso A Árvore da Vida, porém desta vez não deixou passar muito tempo para realizar um novo longa. E este veio em forma de continuidade do filme anterior, filosofando sobre o amor e as paixões desencontradas, o vazio existencial e a busca pelo imaginário da completude da vida em Amor Pleno. Se no drama anterior falava sobre a ausência de Deus, interligando religião com a perda de um dos três filhos, questionando a opressão do pai. Agora reverte a situação e faz uma verdadeira ode a Cristo pelos ensinamentos do padre Quintana (Javier Barden- caricato e irreconhecível), um exilado religioso que luta arduamente com os desígnios da vocação.

A trama é um experimental poema sobre o nada e o tudo, com interpretações sob a luz natural, numa linda fotografia e um cenário radiante de flores espalhadas pelos campos, enormes gramados regados por chafarizes numa cidade interiorana dos EUA, depois de uma breve passagem por Paris e a ponte dos cadeados dos amantes apaixonados. Neil (Ben Affleck- se raramente atua bem, agora está pior do que nunca) é um homem infeliz e indeciso em seus romances. Conhece a francesa Marina (Olga Kurylenko) na Cidade Luz e se casam, mas a mulher tem como interesse maior obter seu green card para estabelecer-se definitivamente nos Estados Unidos, depois de ser abandonada pela filha de 10 anos que foi morar com o pai num lugar distante. O casamento por conveniência traz dissabores e uma degradação iminente na relação conturbada. Neil reencontra sua ex-namorada Jane (Rachel McAdams) e engata uma reconciliação com promessas de um relação sólida.

Tanto na forma como no conteúdo de Malick está o empirismo estético e cansativo de figuras humanas flutuando de um lado para outro, sem se encontrar com o que querem ou nem sabem o que procuram. Na realidade parecem zumbis dilacerados num contexto de cores esfuziantes, com a alma em pedaços num tédio fastidioso que danifica a ideia da continuidade, causando bocejos, diante do excessivo esvaziamento da proposta. A narrativa peca pela falta de estrutura, ao usar um artifício perigoso como de não dar seguimento verossímil aos personagens. Descontextualizado e solto para manejar em off com som, imagem e música, resultando numa miscelânea desastrosa de montagem e que leva o drama a sucumbir inapelavelmente.

Amor Pleno está dissociada e distante das obras–primas do cineasta, tais como: Terra de Ninguém (1973), Cinzas no Paraíso (1978) e Além da Linha Vermelha (1998). Malick é um artesão na acepção a palavra como poucos, mas que se perdeu pelo abuso voluntário do excesso nesta obra sequencial, como um segundo filme de uma trilogia sobre a existência, o sentido da vida e um olhar no futuro da humanidade. Talvez feche o ciclo e reapareça a arte e o poder de criação num futuro, deixando para trás esta complexa viagem enfadonha ao infinito.

Eis um drama sensitivo pela estética, mas sem força de construção de personagens. Mexe no cérebro e com o equilíbrio do espectador na sua plenitude, para uma reflexão até o fim da existência, sem ter a pretensão de chegar a algum ponto de vista racional, embora crucial, mas se deixa levar por pensamentos menores e simplistas, dando luz para um olhar frustrado que aflora desordenadamente, embora haja o impacto sensorial num presente momentâneo não consegue trazer reflexões do grande enigma da vida. Sobra ousadia, mas falta densidade dramática no contexto das cenas que se tornam estéreis por ausência rítmica de elaboração plausível. São sequências sem diálogos na busca do indivíduo e sua insignificância no planeta.

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